O Cajanus cajan ou feijão guandu é uma leguminosa tropical de porte arbustivo, apresentando como uma das características a sua boa adaptabilidade a solos de baixa fertilidade. O guandu é uma planta de fácil e rápido estabelecimento, porém é bianual. Por ser bianual, sob condições de pastejo, apresenta produção satisfatória de MS apenas por um ou dois anos, sendo que isto reflete no desempenho animal, que tende a decrescer até níveis iguais aos da pastagem exclusiva após o seu desaparecimento da pastagem (Lourenço, comunicação pessoal).
Durante o período das águas, o guandu apresenta baixa aceitabilidade pelo animal em função do seu alto teor de tanino (Gomide e Queiroz, 1993). Porém, durante o período das secas o guandu tem maior aceitabilidade pelo animal, principalmente devido ao déficit protéico encontrado nas pastagens, e isto propicia melhores ganhos nesse período.. A proporção do guandu na dieta de bovinos com acesso ao banco de proteína em pastagens de capim colonião, durante o período seco variou de 70% em julho até 20% em setembro (Lourenço et al., 1992).
Schaffhausen (1966) usando guandu plantado nas curvas de nível em pastagens de capim pangola, observou ganhos médios de 376g/dia durante o período da seca. Favoreto et al. (1989) observaram maiores ganhos de bovinos durante a estação seca em pastagens de colonião com acesso a banco de proteína de guandu, quando comparado com pastos exclusivos de colonião adubados com 100kgN/ha, sendo os ganhos médios de 0,356 e 0,262 kg/cab/dia, e os ganhos por área de 104 e 55 kg de PV/ha, respectivamente.
Em estudo do potencial forrageiro do feijão guandu como banco de proteína, em diferentes percentuais de (0, 18, 33 e 51%) em áreas de capim jaraguá na época da seca, Lourenço et al (1984) observaram ganhos de peso vivo de novilhos proporcionais à área da leguminosa (tabela 1).
Tabela 1: Desempenho de novilhos com acesso a banco de guandu com diferentes proporções da área da pastagem.
Em outro trabalho, Lourenço e Delistanov (1993) avaliaram por dois anos o desempenho de bovinos em pastagens de capim colonião com livre acesso a banco de proteína de guandu, sendo que os lotes eram trocados a cada ano. O desempenho animal durante os dois anos são mostrados na tabela 2. Embora no primeiro ano o desempenho dos animais durante o período das águas tenha sido maior para o pasto exclusivo, a média diária de ganho de peso durante o ano foi maior para os animais dos pastos com guandu do que para os animais dos pastos exclusivos de colonião para os dois lotes de animais (repetição anual) usados. O desempenho dos animais dos pastos com guandu foi superior aos dos animais dos pastos exclusivos para os dois lotes usados (dois anos).
Tabela 2: Desempenho de bovinos com acesso a banco de feijão guandu
Além do uso na alimentação animal, o feijão guandu (Cajanus cajan) pode ser usado na recuperação e ou manutenção da produtividade das pastagens. Em pastagens pouco degradadas, ele pode ser plantado em partes da pastagem (25 a 30%, em faixas ou áreas contínuas), alternando as partes plantadas a cada um ou dois anos. Em pastagens muito degradadas que necessitam a renovação da gramínea, ele deve ser usado como cultura para incorporação.
De modo geral os resultados como forrageira para suprir as deficiências protéicas no inverno são bons, porém a sua produtividade tende a diminuir nos anos subsequentes.
Literatura consultada:
Favoretto, V.; Rodrigues, L. R. de A.; Chiarello, A. G.; Sampaio, A. A. M.; Vierira, P. E.; Malheiros, E. B. Beef production in Guineagrass pastures wiyh nitrogen or legumes. In: International Grassland Congress, XVI, Nice. Procedings…., Nice, 1989. p. 1203-1204. 1989.
Gomide, J. A.; Queiroz, D. S. Valor nutritivo de leguminosas arbóreas e arbustivas. In: Simpósio sobre usos múltiplos de leguminosas arbustivas, Nova Odessa-SP, Anais, p.131-146. 1993
Lourenço, A. J.; Boin, C.; Matsui, E. Utilização de área de reserva de guandu complementado com pasto de capim-jaraguá no período das secas. Zootecnia, v.22, n.2, p. 83-103. 1984.
Lourenço, A. J.; Delistoianov, J.; Desempenho de bovinos em pastagens de capim colonião com acesso ao banco de proteína de guandu. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 22, n. 6, p. 902-911. 1993.
Lourenço, A. J.; Matsui, E. ; Delistoianov, J.; Composição botânica da Forragem disponível e da selecionada por bovinos em pastos de colonião soja perene com acesso aos bancos de proteína nas secas. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 21, n. 4, p. 703-717. 1992.
Shaffhausen, R. Weight murease of zebu cattle grazing on the legumes Dolichos cablas and Cajanus indicus. In: International Grassland Congress, 9. São Paulo, Departamento de Produção Animal, 1966. V. 2, p. 965-968. 1966.
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Gostaria de saber se em pastagens de Braquiária decumbens é possível consorciar o guandu.
Resposta BeefPoint: Sim é possível fazer a consorciação de B. decumbens com o feijão guandu. O guandu é uma planta de fácil estabelecimento, e o seu plantio deve ser feito em outubro-novembro, na forma de plantio direto, principalmente, ou seja, sem a necessidade de preparo do solo. A semeadura pode ser em linhas espaçadas em 1 m, com 10-12 sementes/ metro linear. Você deve estar atento aos teores de P e K do solo, pois é necessário a complementação destes nutrientes para o bom estabelecimento da planta. Após o plantio, deve-se vedar o pasto por pelo menos 60 dias, permitindo um bom crescimento da planta, e, após este período, pode liberar os animais para o pastejo (+/- janeiro). Nesta fase o guandu não vai ser consumido pelos animais, o que permite melhor estabelecimento da planta. Quando a qualidade da braquiária diminuir, os animais vão passar a consumir o guandu. (Marcelo Manella)