Dentre as leguminosas, a Leucaena leucocephala é uma espécie de grande importância, pelo seu potencial produtivo em termos qualitativos e quantitativos. O uso da leucena como estratégia para o pastoreio complementar de gramíneas demonstra ser eficiente (COATES, 1994). A Leucaena leucocephala é uma leguminosa forrageira com características agronômicas favoráveis para ser utilizada em sistemas de produção de carne, caracterizando-se como leguminosa de porte arbustivo e arbóreo, boa produtora de massa verde e de sementes, bastante rústica, porém não tolerante a solos ácidos com elevados teores de alumínio tóxico.
Os valores nutricionais da leucena (tabela 1) indicam alto teor de proteína, superior, na maior parte do ano, a 25% na matéria seca, sem grandes oscilações neste valor entre secas e águas. Outro ponto a ressaltar é que as folhas, por apresentarem elevados teores de betacaroteno, permanecem verdes o ano todo, inclusive na época seca. Devido à lenta digestibilidade da leguminosa, em função da presença de tanino, associada ao reduzido tempo de retenção no rúmen, há maior passagem de proteína para o abomaso, podendo chegar a 30% da proteína total, contribuindo para o melhor desempenho animal.
TABELA 1- Composição química da Leucaena leucocephla nas época das secas e das águas.
Devido a estas características qualitativas, a leucena tem boa aceitabilidade pelos animais. Segundo Lourenço et al. (1992) a participação na dieta selecionada por bovinos em pastejo registrou percentual superior a 50% do total de matéria seca ingerida no início da seca. Em nossos trabalhos, temos observado uma predileção dos animais pela leucena ao entrarem no piquete, indicando a boa palatabilidade da mesma.
O uso da leucena como complemento alimentar nas pastagens pode ser realizado de duas maneiras: em faixas intercaladas ou na forma de banco de proteína, podendo este ser com acesso livre ou controlado. Lourenço e Carriel (1997) realizaram as comparações no desempenho animal por área entre o pastejo exclusivo de pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu ou com a consorciação de leucena, plantadas em faixas ou na forma de banco de proteína.
O tratamento de leucena plantada em faixas intercaladas consistia no espaçamento de brachiaria de 11,2 m e 3,75 m de leucena, enquanto o banco de leucena perfazia 25% da área do piquete. O período de ocupação dos piquetes era de 28 dias e o descanso de 56 dias. Os animais utilizados foram bovinos nelore pesando 328 kg, sendo estes avaliados por um período de dois anos. Na tabela 2 é possível observar o desempenho individual médio e a produção por área.
Tabela 2: Desempenho individual e por área de animais em pastagens de brachiaria associadas ou não à leucena
O uso da leguminosa na forma de banco ou em faixas propiciou melhor desempenho individual e por unidade de área do que o pastejo em brachiaria exclusiva, para uma mesma taxa de lotação (2 cab/ha). A leucena promoveu maiores ganhos durante todo o período, sendo que os mais expressivos foram observados durante as águas (Fig. 1). Isto se deve pela maior relação folha/caule da leucena no período. Mesmo na seca o desempenho dos animais no tratamento com a leguminosa foi superior ao tratamento exclusivo da brachiaria.
Outros autores (COOKSLEY et al., 1991, MANNETJE, 1997) relatam que os efeitos da Leucaena leucocephala para produção de gado de corte em clima tropical podem ser atribuídos à maior capacidade de suporte, maior ganho de peso e diminuição nas perdas de peso durante a estação seca.
Na Austrália, os ganhos médios anuais podem chegar a 1400 kg/ha/ano em pastagens com L. leucocephala irrigada, com taxa de lotação de seis cabeças por hectare (COATES, 1994). A leucena é utilizada com sucesso na Austrália como suplemento para bovinos em pastagens nativas, em sistemas comerciais, elevando os ganhos de peso acima de 300 g/d, em relação aos animais em pastagens exclusivas de gramíneas e produzindo animais prontos para o abate aos 24 meses.
Apesar de bons resultados obtidos com a leucena, é preciso alertar sobre alguns fatores limitantes na utilização desta leguminosa, como a lenta formação, o que facilita o estabelecimento de invasoras, a não adaptação a solos ácidos e alagadiços, e a não realização de pastejo até que as plantas tenham 1,5 m de altura, ou seja, é preciso que ela esteja bem estabelecida e com bastante raízes.
Outro ponto é que, devido à alta aceitabilidade da leguminosa, é necessário o manejo específico, em pastejo rotacionado, com períodos de descanso suficientes para a rebrota da leucena.
Referências Consultadas:
COATES, D.B. Tropical legumes for large ruminants. In: D´MELLO, J.P.F.; DEVENDRA, C.(ed) Tropical legumes in animal nutrition. CABI international, Wallingford, 1994. p.191-230.
COOKSLEY, D.D.; PRINSEN, J.H.; PATON, C.J.; PINI, J.A. Performance of beef cattle production system on native pasture using Leucaena leucocephala as a supplement. Livestock Production Science, v.28, p.65-72. 1991.
LOURENÇO, J. A.; Produção animal com leguminosas arbóreas/arbustivas. IN: Simpósio sobre usos múltiplos de leguminosas Arbustivas Arbóreas. Anais. p 131-146, 1993.
LOURENÇO, A.J. & CARRIEL, J.M Desempenho de bovinos nelore em pastagens de Brachiaria brizantha associados a Leucaena leucocephala. In: 39º Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Juiz de Fora, MG. Anais. v. 2, p. 345. 1997.
MANNETJE, L. Potential and prosoects of legume-based pastures in tropics. Tropical Grasslands, v 31, p 81-94, 1997.