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Uso de resíduos do biodiesel na nutrição de bovinos – 2

Como discutido no artigo anterior, os resíduos da produção do biodiesel apresentam grande potencial para utilização na nutrição de ruminantes. A grande quantidade de farelos produzidos nessa atividade no Brasil, 3.676.566 toneladas produzidas em 2008, sendo projetadas 8,9 bilhões de toneladas de tortas até 2013 (Abdala et al, 2008) proporcionam uma grande alternativa na redução de custos na alimentação animal. Porém, alguns pontos devem ser considerados, pelo fato do biodiesel pode ser originado de diversas sementes oleaginosas.

Como discutido no artigo anterior, os resíduos da produção do biodiesel apresentam grande potencial para utilização na nutrição de ruminantes. A grande quantidade de farelos produzidos nessa atividade no Brasil, 3.676.566 toneladas produzidas em 2008, sendo projetadas 8,9 bilhões de toneladas de tortas até 2013 (Abdala et al, 2008) proporcionam uma grande alternativa na redução de custos na alimentação animal.

Porém, alguns pontos devem ser considerados, pelo fato do biodiesel pode ser originado de diversas sementes oleaginosas, como soja, algodão, amendoim, babaçu, canola, dendê, palma, gergelim, girassol, mamona, nabo forrageiro e pinhão manso, além do sebo. A grande variedade de matéria prima utilizada na produção do biodiesel leva consequentemente a uma grande variação nos farelos/subprodutos originados nessa produção, sendo que, essas variações deverão obrigatoriamente ser consideradas nas formulações.

Dependendo da matéria prima inicial, poderemos ter um farelo residual com mais ou menos proteína, podendo variar de 14 a 60% (tabela 1). Além da proteína, a quantidade de gordura presente nesses resíduos também são muito variáveis, refletindo em uma grande variação na concentração energética desses farelos (tabela 1). Concentrações elevadas de gordura nos ingredientes possibilitam aumento na ingestão total de gordura, levando a queda na produção de metano, possibilitando menores perdas de energia na produção de gases, além da menor eliminação desse gás na atmosfera, prevenindo o efeito estufa. Dependendo da concentração presente de cada nutriente, proteína ou energia (gordura), poderemos avaliar a viabilidade econômica da inclusão ou não de tal ingrediente.

Tabela 1. Teores de proteína bruta, extrato etéreo e fibra bruta (% matéria seca) em resíduos da produção de biodiesel

Podemos observar também que os resíduos de biodiesel apresentam baixos níveis de fibras, o que possibilitaria maior inclusão desses farelos com pequena, ou nenhuma interferência na ingestão total de matéria seca.

Além da variação nas concentrações de proteína e extrato etéreo discutidas e apresentadas acima, para a utilização desses resíduos na alimentação animal, devemos considerar também a presença de substâncias antinutricionais ou tóxicas que podem estar presentes dependendo da semente oleaginosa utilizada. Vários desses subprodutos podem apresentar desde fatores antinutricionais como goitrogênios, glucosinolatos, ácido fítico, gossipol, tanino e saponinas, até substâncias altamente tóxicas como o forbol nos farelos de pinhão manso (Makkar e Becker, 1999) citados por Abdala et al. (2008).

Outro fator de extrema importância no uso dos resíduos de biodiesel na alimentação animal é o crescimento do fungo Aspergillus flavus e a produção da aflotoxina, podendo levar a perdas na produção, principalmente nos casos de ingestão continuada desse ingrediente. A colheita e armazenagem corretas, evitam consideravelmente a presença dessa substância.

Os resíduos da produção de biodiesel se mostram como uma grande alternativa de utilização como ingredientes na dieta de ruminantes, porém deve-se considerar a matéria prima e o processo utilizado na obtenção do biodiesel, bem como tempo e condições de armazenagem.

Referências bibliográficas:

ABDALA, A.L.; SILVA FILHO, J.C.; GODOI, A.R.; CARMO, C.A.; EDUARDO, J.L.P. Utilização de subprodutos da indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes. R. Bras. Zootec., v. 37, suplemento especial, p. 260-268, 2008.

PARSONS, G.L.; SHELOR, M.K.; DROUILLARD, J.S. Performance and carcass traits of finishing heifers fed crude glycerin. J.Anim. Sci., v. 87, p. 653-657, 2009.

0 Comments

  1. Christian Liber Ramos disse:

    Bom dia.

    Em nossa região estão surgindo alguns projetos para produção de biodiesel e provavelmente teremos a disponibilidade dos resídos, o que mostra a relevância do assunto em questão.

    Pelo que percebi estes produtos ainda não estão nas tabelas de composição de alimentos e mesmo que estivessem ocorre as variações como citado acima (aqui temos observado variações do mesmo resído, dependendo da eficiência do processo em retirar o óleo).

    Alguns anos atrás utilizamos o resíduo do nabo forrageiro, o qual tem uma ótima coloração e uns níveis muito interessantes, porém nos deparamos com um problema, os animais reduziram o consumo. Com inclusão de apenas 5%, conforme a situação, percebia redução no consumo.

    Devido a este fato, vai aí o meu alerta, observar bem a aceitação dos animais ao resíduo de interesse antes de incluir na composição de uma ração. E também vai o meu pedido, quando tiverem estes produtos disponíveis, coletar amostras e encaminhar para o laboratório de nutrição animal da UFMS ou EMBRAPA (para quem atua em MS), assim, aumentamos o banco de dados sobre os produtos.

    Parabéns pela matéria,
    Um abraço a todos.

  2. Júlio César de Cerqueira Fidelix disse:

    Dr André, primeiramente quero parabenizá-lo pelos dois artigos.

    Quero saber porque o Pinhão Manso possui tanta diferença entre os mínimos e os máximos de PB e EE.
    Também estou curioso em saber se existe algum método que iniba a ação do Forbol, fator antinutricional do Pinhão Manso.

    Agradeço desde já.

  3. André Alves de Souza disse:

    Prezado Júlio César,

    O pinhão manso apresenta aproximadamente 175 espécies diferentes, com diferentes potenciais para a produção e, também, com diferentes concentrações de forbol em suas constituições.

    É importante ressaltar que o processamento com calor não elimina os demais fatores antinutricionais da semente e da torta de pinhão manso, porém não elimina o forbol. Algumas pesquisa estão sendo realizadas em 2 linhas, sendo uma na área genética através da inativação do gene responsável por esse componente, e outra na avaliaçào de formas de detoxificação da torta. Na realidade, ainda é um processo que está se iniciando, inclusive com seleção de espécies mais produtivas e resistentes para producão de biodiesel nas mais diversas regiões do país.

    No momento, minha indicação seria de verificar a concentração de forbol nas plantas da espécie que origina a torta na sua região e se possível utilizá-la na nutrição animal.

    Forte abraço.

  4. Gustavo Mafra Fernandes disse:

    Ola Dr. André,

    Na região onde moro tem a posibilidade de adquerir o biodiesel de soja.

    Queria saber se há alguma restrição para o uso deste produto em vacas de corte em reprodução?

    Qual seria a quantidade maxima para não ocorrer problemas?

    Posso misturar o biosiesel com outros subprodutos como massa de mandioca e bagaço de laranja?

    Qual seria o NDT médio deste produto?

    Obrigado,

    Gustavo.