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Utilização da cana-de-açúcar em dietas de bovinos de corte

O uso da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos de corte é uma atividade bastante difundida, principalmente devido à alta produção de matéria seca por área, grande potencial como fonte energética durante o período seco, pequeno risco da cultura e plantio a cada 4 ou 5 anos. A utilização da cana-de-açúcar durante as águas, deverá ser bem programada devido as dificuldades de colheita mecânica com o solo encharcado.

A cana-de-açúcar também apresenta algumas limitações em relação ao seu valor alimentar, por ser um alimento desbalanceado em termos de nutrientes exigidos tanto pelo animal como pelos microorganismos ruminais. Apresenta baixos teores de proteína, extrato etéreo e da maioria dos minerais. Os teores de açúcar e fibra vão depender da época do ano e da variedade em questão. Após a maturidade, a cana apresenta melhores teores de açúcar e fibra, o que vai ocorrer justamente na época seca do ano. As variedades consideradas forrageiras apresentam teores de proteína ligeiramente mais altos, porém com valores de fibra e açúcar pouco favoráveis à nutrição animal. O teor de lignina apesar de não ser elevado em relação à matéria seca, é alto quando expresso como porcentagem da parede celular.

A digestibilidade da matéria seca vai depender da variedade avaliada, estando 55 e 65%. Essa característica está diretamente relacionada às proporções de parede e conteúdo celular. Como alimento exclusivo, a cana apresenta baixa eficiência de utilização da energia digerida, pelo baixo de proteína degradável no rúmen e provavelmente também pela baixa disponibilidade dos compostos glucogênicos e aminoácidos fornecidos em nível celular.

A ingestão voluntária de matéria seca da cana-de-açúcar também é baixa (deficiência de proteína degradável e de minerais, sendo necessário a mistura de outros ingredientes para melhora dessa característica. Não é aconselhável a utilização da cana-de-açúcar como único alimento para bovinos de corte.

A suplementação da cana-de-açúcar, deverá ser feita visando atender às exigências nutricionais dos microorganismos ruminais e do animal em função da quantidade de energia disponível. No caso dos microorganismos, o suprimento das exigências vai proporcionar melhora na ingestão de matéria seca e utilização dos nutrientes disponíveis no rúmen.

Segundo Preston e Leng (1978), o uso da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos vai levar a ocorrência de grande quantidade de protozoários de grande porte no rúmen, tendendo a aumentar o tempo de retenção da porção fibrosa nesse compartimento. O aumento do tempo de retenção da porção fibrosa, vai limitar a ingestão de matéria seca e a passagem de proteína microbiana para o intestino. A utilização conjunta da cana-de-açúcar com alimentos que apresentem substâncias inibitórias ao crescimento exagerado dos protozoários no rúmen, como os ácidos graxos insaturados, tende a melhorar o desempenho animal.

Tabela 1. Ingestão de cana-de-açúcar com a utilização de diferentes suplementos.

A alimentação de bovinos em crescimento e acabamento com dietas exclusivas de cana-de-açúcar suplementadas com nitrogênio não protéico e minerais, fornecerá aos animais nutrientes pouco acima das necessidades de mantença. O uso de suplementos adicionais pode proporcionar ganhos de 0,4 a 0,7 kg/dia para bovinos em crescimento. Não podemos esquecer que outros fatores como a qualidade da cana e dos suplementos utilizados, potencial genético do animal e a ocorrência de ganho compensatório, vão influir diretamente no desempenho animal. A substituição de até 40% do nitrogênio da dieta por nitrogênio não protéico não irá afetar o desempenho.

A utilização de outros volumosos em substituição parcial (até 50%) da cana apresenta resultados satisfatórios em relação ao ganho de peso e conversão alimentar.

Na prática, a cana-de-açúcar poderá ser usada na alimentação de fêmeas adultas em reprodução, machos e fêmeas em crescimento e machos e fêmeas em acabamento. Para bovinos em crescimento e em reprodução, com exigência energética da dieta entre 50 a 60% de NDT, a suplementação com cana-de-açúcar possibilitará atingir as exigências nutricionais desses animais. Com animais em crescimento durante o período seco, é aconselhável que o nível nutricional dos animais permita ganhos semelhantes aos do período das águas, evitando perdas de peso após a suplementação.

No caso de confinamento há a necessidade de suplementação com fontes energéticas e protéicas complementares, para elevar o valor nutritivo da dieta aos exigidos para os ganhos de peso esperados.

A ensilagem de parte da cana a ser usada é uma ferramenta que facilita o manejo de sua utilização em sistemas de produção, por duas razões principais: permite o corte, de talhões que estiverem passando do ponto em termos de rendimento e de possibilidade de acamamento, tanto durante como fora da época de utilização normal; fica disponível para uso em período de chuva principalmente no início e final do período seco. Entretanto, para obter silagem com boa qualidade fermentativa, é recomendado o uso de aditivos biológicos à base de culturas de bactérias homoláticas, para evitar a formação de grandes quantidades de ácido acético e principalmente álcool etílico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BOIN, C.; TEDESCHI, L.O. Cana-de-açúcar na alimentação de gado de corte. Anais do 50 Simpósio sobre nutrição de bovinos. p. 107-126, 1993.

PRESTON, T.R.; LENG, R.A., World Animal Review, v. 27, p.7-12, 1978.

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