A queda nas margens de lucro da pecuária de corte devido ao grande aumento dos custos de produção fez a viabilidade econômica do sistema depender da diminuição nos custos de produção, e com isso, a procura por alternativas alimentares mais baratas passou a ser primordial, já que a alimentação é o custo mais alto dentro do confinamento. Com isso, a utilização de resíduos agroindustriais para alimentação de bovinos passou a ser uma boa alternativa para a produção de carne, além de ser solução para os problemas ambientais causados pelos resíduos agroindustriais.
Porém, para a utilização de resíduos na alimentação de bovinos, alguns fatores devem ser levados em consideração: a proximidade da produção dos resíduos (agroindústrias) e dos animais a serem alimentados, características nutricionais do produto, custo de transporte e necessidade de processamento dos resíduos. Além dos fatores citados acima, outra característica de produção deve ser observada para o uso de alguns subprodutos industriais, é a sazonalidade na disponibilidade desses resíduos.
Os subprodutos da industrialização do arroz são resultantes da retirada da casca e limpeza do arroz marrom, necessária para a produção do arroz branco. Na preparação do arroz branco, obtém-se um subproduto chamado farelo de arroz, que pode ser composto por 30 % de arroz polido e 70 % de farelo. As proporções de arroz polido e farelo de arroz têm um efeito crucial no valor nutricional.
O farelo de arroz integral é oriundo do processo de polimento dos grãos de arroz, quando são removidas as camadas do pericarpo e tegumento, além de partículas remanescentes da casca, normalmente acrescenta-se o “brunido”, constituído da porção amilácea interna e da camada aleurona. A adição da casca ao farelo de arroz integral aumenta seus teores de sílica, lignina e fibra bruta, o que deprecia o seu valor nutritivo.
A fim de monitorar o nível de adulteração do farelo de arroz integral pela inclusão de casca, deve-se considerar os seus níveis de fibra bruta e matéria mineral, os quais não devem exceder a 12 e 10%, respectivamente.
A presença de elevada quantidade de gordura, constituída principalmente de ácidos graxos insaturados, predispõe a peroxidação, favorece a multiplicação de fungos produtores de aflatoxinas, bem como, a rancificação oxidativa, comprometendo a qualidade do ingrediente e dificultando o armazenamento de grandes quantidades. Estes problemas podem ser minimizados pelo uso do calor, antioxidantes ou pela extração do óleo.
Avaliando-se o desempenho de bezerros alimentados com cana-de-açúcar, melaço e uréia, suplementados com 0,4; 0,8; 1,2kg de farelo de arroz intergal/animal/dia, detectou-se que a taxa de crescimento teve correlação direta com o nível de suplementação, assim para cada 100g de farelo de arroz integral oferecido, os animais ganharam 100g/dia de peso vivo (Costa et al. 2005). A inclusão do farelo de arroz integral em rações para bovinos até 20%, mantendo-se a dieta com no máximo 4,5% de gordura, potencializa o aproveitamento de proteína e energia, refletindo positivamente no desempenho animal. Níveis acima de 20% na matéria seca da ração total levam a queda na ingestão total de matéria seca e, conseqüentemente no ganho de peso dos animais (Bermudes e Peixoto, 1997).
O farelo de arroz desengordurado resulta da extração do óleo do farelo de arroz integral, representando cerca de 82% seu peso. Deve conter no máximo 2% de gordura bruta, 12% de fibra bruta e no mínimo 16% de proteína bruta. A inclusão do farelo de arroz desengordurado na dieta de ruminantes fica limitada a 1,5 kg/dia para vacas em lactação, 20% nas rações para bezerros e até 40% nas de animais em engorda.
Bezerros desmamados que receberam silagem de milho e cana-de-açúcar como volumoso e concentrado com níveis crescentes de farelo de arroz desengordurado (0,5; 1,0; 1,6 kg/animal/dia) em substituição ao milho, apresentaram ganhos de peso superiores (529g/animal/dia) no nível mais alto de participação do farelo de arroz desengordurado. Como o farelo de arroz, tanto desengordurado como integral, apresenta em torno de 10 vezes mais fósforo (P) que cálcio (Ca), deve-se promover a adição de fontes de Ca à dieta de animais suplementados com estes subprodutos (COSTA et al.2005).
Vaz e Restle (2005) avaliaram diferentes níveis de inclusão de farelo de arroz integral para bovinos de corte confinados, até o nível de 14% na matéria seca total da dieta, não observando problemas digestivos, de ganho de peso, acabamento e características de carcaça.
Tabela 1. Composição bromatológica do farelo de arroz integral
Referências Bibliográficas:
BERMUDES, R.F.; PEIXOTO, R.R. Avaliação do Farelo de Arroz na Alimentação de Bezerros da Raça Holandês. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 2, p. 391-395, 1997.
COSTA, N.L.; TOWNSEND, C.R.; MAGALHÃES, J.A. Informativo Embrapa. 2005.
VAZ, F.N.; RESTLE, J. Características de Carcaça e da Carne de Novilhos Hereford Terminados em Confinamento com Diferentes Fontes de Volumoso. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 1, p. 230-238, 2005.
9 Comments
O acréscimo do farelo de arroz ao sal proteinado terá quais efeitos? Desejo a suplementação no período seco, porém o preço do milho será muito alto, posso substituí-lo pelo farelo?
Estou misturando 3 kilos de farelo de arroz, para cada 100gramas de sal mineral no cocho para terminar um lote de 152 bovinos de corte(nelore) durante 60 dias.
há alguma contra indicação?
bovinos de 485kg tenho intenção de matar com 18@ à 19@.
Saludos desde Santa Cruz, Bolivia. Estoy iniciando un engorde en semiconfinamento con gado de 250 kg en brachiaria mg-5 y farelo de arroz mas ureia mas sulfato de calcio.
Segun el programa de formulacion de raciones, tengo que fornecer 2,5 kg de farelo por animal, pero en el articulo dice que solo puedo dar 20% de m.s. de la racao qu seria solo 1,5 kg.
Me pueden ayudar a balancear la dieta.
Sr. Pedro Meirelles ud fornece 3 kg de farelo por animal? que ganancia espera por animal por dia?
Prezado Carlos,
Os níveis de inclusão do farelo de arroz, seriam uma sugestão para maximizar a eficiência de utilização do mesmo pelo animal. Porém, não quer dizer que teremos algum problema se incluirmos quantidades maiores, ok?
O ponto crucial em relação ao fornecimento em grandes quanitdades de farelo de arroz seria o desbalanço de Ca:P…fique atento a isso.
Em relação ao desempenho, diversos fatores como a disponibilidade de forragem e o potencial genético de ganho, têm efeito sobre o ganho de peso. Sem essas informações, vou considerar que tenha uma boa oferta de forragem e um animal com bom potencial genético e, dessa maneira esperaria uma ganho de aproximadamente 750g/cab/dia.
Forte abraço.
Saludos Dr. Andre, gracias por su ayuda. me queda claro su mensaje.
Una consulta, como podria balancear este desbalance de Ca:P que se presentaria? que fuentes de Ca me sugiere y en que proporcion? El sulfato de Ca que voy a utilizar no es suficiente?
Esto se debe al alto concentrado de P que tiene el farelo cierto? si es asi ya no tendria que fornecer P en una sal mineral? como generalmente se hace en animales en pastoreo. En el programa de formulacion de raciones con la cantidad de 2,5 kg por animal, estan mas que satisfechas los requerimientos de P, estan casi duplicados. Este es P asimilable? ya no tengo que fornecer P extra?
Aprecio mucho su ayuda, es bueno contar con profesionales dispuestos a ayudar a nosotros los productores. Un abrazo.
Prezado Carlos,
As proporções de Ca:P podem variar de 1:4 até 4:1, sem prejudicar o metabolismo animal. O P presente nos grão é assimilado pelo animal, e se nao for necessário não deverá fornecê-lo, porém não se esqueça dos demais minerais. Como fonte de Ca, poderia utilizar o carbonato de cálcio, ou o próprio fosfato bicálcico (apesar deste ser fonte de P tb). Avalie o custo benefício de sua formulação, e use a melhor alternativa, ok?
Grande abraço!
Devido ao baixo preço do farelo de arroz desnaturado na minha região, estamos estudando a utilização do mesmo para suplementar animais de corte.
Tenho algumas duvidas que gostaria de serem esclarecidas.
1º quantos kg de farelo de arroz são necessarios para um animal de 350kg em campo nativo de boa qualidade?
2º nossos campos são ricos em P, entao ficaria limitado o Ca. O calcario calcitico apresenta o menor custo comparado as outtras fontes de calcio. Posso ultilizalo tranquilo e quanto devo utilizar?
3º Quanto que devo utilizar de uréia na mistura.
4º Posso tambem utilizar o sal mineral em vez do calcario calcitico? quanto que devo fornecer na mistura?
RESUMINDO GOSTARIA DE FAZER UMA MISTURA COM: FARELO DE ARROZ + CALCARIO CALCITICO OU SAL MINERAL + URÉIA, QUANTO QUE DEVO UTILIZAR DE CADA UMA PARA UM ANIMAL DE 350KG EM CAMPO NATIVO DE BOA QUALIDADE?
ATT
Estou desmamando uma terneirada com 4 meses de idade e gostaria de suplementar com farelo,tem bastante na minha cidade.Poderia nos passar uma formula que eu possa usar o farelo.Uso pasto nativo como volumoso.Moro em Alegrete,RS Abraço
Prezado Senhor Andre Alves,
Estou estudando a possibilidade de peletizar palha de arroz com farelo de arroz e comercializar este produto como uma fonte de proteína e fibras para as industrias de ração animal, para utilizarem nas suas formulas de rações para animais e aves.
A proporção de mistura seria de 70% de casca de arroz e de 30% de farelo de arroz integral.
Este produto pode ser utilizado como base para a preparação de rações para animal e aves.
Aguardo os vossos comentários.
Saudações,
Paulo Falcão