Na última terça-feira, oficiais do serviço de inspeção sanitária do Canadá reportaram a descoberta de um caso de BSE, ou doença da “vaca louca”, em um animal de 8 anos.
Rapidamente produtores de gado de corte e demais setores da cadeia da carne de todo o mundo receberam a notícia do primeiro caso de BSE em uma vaca canadense.
As consequências foram forte e rápidas, como se pode ver abaixo:
– embargo americano à carne canadense. Em 2001, os EUA importaram mais de US$ 1,1 bilhão em gado em pé e mais de US$ 1,4 bilhão em carne bovina do Canadá.
– quedas das ações de empresas americanas, como McDonald´s, maior rede de fast food do mundo, Tyson Foods Inc, maior processadora de carne bovina, suína, e de frango dos EUA e Outback Steak House. Um detalhe é que McDonald´s e Outback não compram carne canadense.
– o Japão, apesar de ter reportado casos de BSE em animais de seu rebanho, também embarga a carne canadense. Isso pode parecer um contra-senso, mas ao mesmo tempo é uma medida para evitar que o consumo volte a cair, após um longo e caro trabalho de recuperação da demanda perdida com os casos de BSE em 2001.
– embargo à carne canadense se estende a outros países. Filipinas, Taiwan, Nova Zelândia, Austrália e México confirmam o fechamento de suas fronteiras.
Em 2002, o Canadá produziu 1,29 milhão de toneladas de carne bovina e exportou 610 mil toneladas de equivalente-carcaça. Mais de 95% da exportação canadense se destina aos EUA, Japão e México.
O impacto para a cadeia da carne no Canadá será enorme, provavelmente haverá queda de consumo interno, como ocorreu na Europa e Japão anteriormente, devido ao receio da população do consumo de carne poder acarretar danos à saúde.
O grande problema é a exportação. O Canadá exporta quase 50% de sua produção anual e quase todos os mercados já embargaram a carne canadense. Se esse embargo durar muito (o que não é esperado), pode ocorrer uma forte queda de preços e a busca por mercados alternativos. Até o presente o momento a comunidade européia não manifestou que iria embargar a carne canadense, o que poderia tornar esse mercado uma opção para a carne canadense, mas para isso seria necessário uma queda de preços e não utilização de hormônios (que hoje são permitidos no Canadá, bem como nos EUA).
Ficou claro que a resposta da mídia, dos governos e dos consumidores é muito rápida. O Canadá vem sendo elogiado por seu eficiente controle sanitário, mas ao mesmo tendo é duramente criticado por ter demorado tanto tempo para divulgar a descoberta, uma vez que o animal foi abatido dia 31 de janeiro desse ano.
Na tarde de terça-feira, a NCBA (Associação norte-americana de criadores de gado de corte) realizou uma teleconferência com a grande mídia dos EUA para explicar o que estava ocorrendo, os riscos dos EUA, as medidas a serem tomadas. Foi uma excelente demonstração de relações públicas, na tentativa de evitar possíveis efeitos negativos indiretos no mercado de carne dos EUA.
Para que essa crise seja curta e seus prejuízos minimizados, é preciso mostrar e provar, é claro, que é um fato isolado em apenas um animal de apenas um rebanho. Só assim será possível recuperar acesso a mercados e credibilidade internacional. O ponto chave para o sucesso nessa tarefa é a rastreabilidade. Esse episódio reforça a importância dessa técnica dentro da cadeia da carne.
O Brasil atualmente não exporta de maneira significativa para nenhum dos 3 maiores mercados da carne canadenses (EUA, Japão e México). Esses mercados hoje são uma grande oportunidade para Austrália e Nova Zelândia, pois a concorrência diminuiu muito com a saída do Canadá.
É difícil prever um aumento das exportações brasileiras no curto prazo. Pode ocorrer o fortalecimento da imagem do Brasil como fornecedor de carne segura para o mundo. Surge aí uma nova oportunidade para a carne brasileira se firmar no mercado internacional como extremamente segura, além de barata.
Cada dia mais é preciso ter a habilidade de provar que nosso sistema de produção é seguro. Isso está sendo muito bem feito pelo Brasil atualmente. Além disso se faz necessário comprovar que temos um sistema de controle sanitário, que previne doenças e ao mesmo tempo é eficiente em identificar, isolar e erradicar novos surtos. Só assim será possível pleitear acesso aos melhores mercados, como EUA e Japão.