A confirmação de um caso da doença da “vaca louca” – Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) – nos Estados Unidos, na semana passada, mudou para melhor o humor e as perspectivas para o setor de carnes do Brasil no próximo ano.
Ainda que os efeitos da descoberta no mercado mundial de carne bovina, suína e de frango sejam incertos, especialistas confiam em possíveis benefícios que o caso poderá render às exportações brasileiras.
Para Cláudio Martins, diretor-executivo da Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) e Abipecs (da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína) haverá avanços nas duas frentes.
“Em um primeiro momento, a tendência é de retração do consumo de bovinos, e as opções são aves e suínos. Quando houve a crise de ‘vaca louca’ e febre aftosa no rebanho bovino da União Européia, no início da década, nossas exportações de carnes suína e de frango aumentaram de 20% a 25%”, afirmou.
Para os suínos, lembra, também foi vital para a alta a abertura do mercado russo, hoje fonte de preocupação em razão de um novo sistema de cotas de importação de carnes que entrará em vigor em 2004.
Tal sistema limita os embarques brasileiros para aquele mercado a volumes inferiores aos vendidos nos últimos anos e terá reflexos negativos principalmente para frango e suínos. Daí o mau humor dominante até a “vaca louca” nos EUA.
Nas ações dos principais frigoríficos exportadores de frango e suínos do país negociadas na Bovespa, a sexta-feira foi de euforia. As ações preferenciais da Sadia subiram 4,78%, com negociações de cerca de R$ 10 milhões, volume semelhante ao dos papéis da Perdigão, que registraram valorização de 6,24%.
Para a carne bovina, o ambiente global é igualmente turvo, mas a expectativa brasileira também é de ampliação de embarques, principalmente para mercados considerados “cativos” dos EUA, como Canadá, México, Japão e Coréia do Sul.
Pratini de Moraes, presidente da Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne), disse na semana passada que as exportações nacionais poderão aumentar 20% em razão da crise nos EUA, mas o País precisa retomar investimentos em sanidade. Segundo ele, os aportes caíram de até R$ 85 milhões por ano no governo passado para R$ 10 milhões em 2003. O atual ministro, Roberto Rodrigues, também falou em ampliar gastos na área.
Conforme Luis Alberto Pitta Pinheiro, coordenador do projeto Bacia do Prata do Panaftosa (Centro Pan-americano de Febre Aftosa), e Fernando Adauto, presidente da comissão de pecuária de corte da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), para aproveitar a oportunidade, também é preciso habilidade na negociação de acordos sanitários e comerciais com países que ainda impõem restrições de acesso ou preços à carne brasileira.
Segundo Pitta Pinheiro, embora não registre casos de aftosa desde 2001, o Brasil carrega o ônus de estar fora do “bloco não-aftósico”, que inclui América do Norte, Caribe, Japão e Oceania. Por isso, disse Adauto, os mercados cativos dos EUA tendem a se abastecer em outros exportadores, como Austrália e Nova Zelândia, livres de aftosa sem vacinação.
Fabio Silveira, da FSilveira Consultoria, observa, ainda, que a Austrália perdeu mercados em 2003 em razão de uma forte estiagem doméstica e que poderá aproveitar a crise nos EUA para retomar suas vendas.
Nos EUA, onde as perdas poderão superar US$ 5 bilhões. Quase 30 países proibiram a importação de carne bovina americana. Ontem, entraram na lista Jordânia e Líbano, mas uma missão dos EUA tenta levantar o veto japonês. Também há recalls de carne em oito estados americanos.
Suspeita-se que a doença tenha sido causada pela ingestão de ração derivada de farinha de osso, proibida nos principais mercados do mundo. Analistas prevêem, assim, maior consumo de rações vegetais. Daí a disparada dos preços de soja e milho na bolsa de Chicago na sexta.
Fonte: Valor (por Fernando Lopes e Sérgio Bueno), adaptado por Equipe BeefPoint