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Venda de boi na Bolsa ainda tem poucos adeptos

Lançado em abril pela Bolsa Brasileira de Mercadorias, o sistema eletrônico de comercialização de gado bovino está longe de decolar. Em quatro meses de operação, a "bolsa da carne" negociou apenas R$ 508,5 mil com a venda de 465 cabeças de gado. Outros 800 bois foram ofertados, mas não tiveram compradores. Ontem, mais um lote de 40 cabeças não despertou interesse dos frigoríficos. Pecuaristas acusam os frigoríficos de "jogo pesado" para evitar o modelo de depósito antecipado e conciliação de conflitos via arbitragem interna.

Lançado em abril pela Bolsa Brasileira de Mercadorias, o sistema eletrônico de comercialização de gado bovino está longe de decolar. Em quatro meses de operação, a “bolsa da carne” negociou apenas R$ 508,5 mil com a venda de 465 cabeças de gado. Outros 800 bois foram ofertados, mas não tiveram compradores. Ontem, mais um lote de 40 cabeças não despertou interesse dos frigoríficos.

A Bolsa, controlada pela BM&FBovespa, previa inicialmente um volume de R$ 2,5 bilhões em negócios para 2010. Mas as operações devem ficar bem longe disso. Pecuaristas acusam os frigoríficos de “jogo pesado” para evitar o modelo de depósito antecipado e conciliação de conflitos via arbitragem interna.

“Os frigoríficos estão jogando duro, oferecendo mais pela arroba fora da bolsa porque preferem o modelo tradicional onde o pecuarista não tem garantia nenhuma de receber”, afirma o presidente da Federação de Mato Grosso (Famato), o pecuarista Rui Prado. Os produtores temem a reedição de problemas gerados pela quebra ou recuperação judicial de frigoríficos, como Independência, Margen, Arantes ou Frialto.

Em sua defesa, as indústrias reclamam do custo das operações e afirmam que os criadores não ofertaram gado suficiente na bolsa para abastecer o mercado. “Depende do produtor, e não de nós. Na bolsa, ainda não há oferta suficiente. Aonde tem boi, o frigorífico vai atrás”, diz o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. “Se tivesse escala, teria participação”.

Em Goiás, a federação dos produtores lançou o programa “Boi na Bolsa” para tentar atrair ao sistema eletrônico os pecuaristas ligados a confinamentos de bois. “No inicio de agosto, começam a entrar os bois de confinamento. Goiás abate de 2,5 milhões e 3 milhões de cabeças confinadas por ano. Boa parte disso vai para a Bolsa”, afirma o presidente da comissão de pecuária da Faeg, José Manoel Caixeta.

Segundo ele, há 1,8 mil pecuaristas do sistema “Pesebem” da federação, donos de 300 mil cabeças, mais aptos a entrar no negócio. “Inovaram uma vez com o Pesebem e vão fazer de novo. Eu mesmo vou ofertar 150 cabeças em agosto”, afirma.

Diante do impasse, a Bolsa tenta estabelecer um acordo no setor. “Ninguém dos frigoríficos é contra, mas eles vão esperar o pecuarista dar o primeiro passo”, avalia o diretor de Novos Produtos da Bolsa, Edílson Alcântara. “Esperava-se um envolvimento maior dos pecuaristas porque a segurança é um forte benefício. Mas ainda resistem a mudar”. O produtor, diz ele, ainda prefere vender a arroba R$ 80 em 30 dias fora da Bolsa do que receber R$ 78 à vista no leilão eletrônico. E rebate o argumento do custo esgrimido pela indústria: “Ela paga R$ 500 a cada R$ 100 mil em negócios. É muito barato pelo que se oferece”, diz Alcântara. O setor tem faturamento de R$ 50 bilhões anuais e abate 40 milhões de cabeças por ano, segundo ele, mas “não tem nada escrito” sobre responsabilidade, documentação, formalização e ainda usa entrega em caminhão alugado. “Temos um sistema de comercialização inacreditável”, aponta.

A Bolsa avalia buscar novas vantagens para atrair a indústria aos leilões. A instituição negocia com o Banco do Brasil a criação de uma linha de crédito agroindustrial para financiar exclusivamente a compra de gado à vista pelo sistema da Bolsa. “Esse dinheiro sairia da conta do comprador direto para a conta de liquidação”, diz Edílson Alcântara. A Bolsa e o BB negociam limites de crédito e juros. “Vai depender da análise de cada empresa, mas seria algo entre 1% a 1,7% ao mês”.

O diretor da Bolsa afirma que poderiam ser usados recebíveis (duplicatas, notas promissórias) de clientes de frigoríficos, como grandes varejistas, para reforçar os limites de crédito. “Para médios e pequenos frigoríficos, seria um bom capital de giro”, avalia Alcântara.

Para completar a oferta de benefícios, a Bolsa também avalia entrar em leilões de reposição de rebanhos, hoje feitos via internet, TV ou telefone. O modelo é a Bolsa de Rosário, na Argentina. “Continua tudo igual, mas faz a liquidação na Bolsa. E poderíamos expandir para suínos, peixes, frangos”, diz Alcântara.

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A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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