O anúncio do ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, que suspenderia a verba para armazenagem do couro até que o produtor fosse remunerado pelo material diferenciado está provocando discussões no setor.
As empresas haviam solicitado ao governo uma linha capaz de armazenar 25% da produção nacional de couro wet blue (curtido, mas não acabado), de 32 milhões de peles. O governo disponibilizou R$ 2 bilhões, por meio da Poupança Rural do Banco do Brasil, com juros entre 11% e 12% ao ano mais Taxa Referencial de Juros (TR), dentro de uma linha para a estocagem das agroindústrias, mas a reclamação dos pecuaristas sobre a falta do pagamento diferenciado gerou a suspensão desse crédito.
Queda-de-braço
Está havendo queda de braços entre os setores: pecuaristas alegam que não recebem o pagamento pela melhoria de couro e curtumes informam que repassam o valor para os frigoríficos. “Se o produtor ganhasse para cuidar melhor do couro, teríamos três milhões de pele a mais em condições de serem utilizadas”, diz Antenor Nogueira. Isto porque, segundo ele, entre 10% a 12% da produção nacional é descartada pelas más condições.
“Estamos pagando os frigoríficos. Talvez tenhamos que pagar direto aos pecuaristas”, diz o presidente do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), Augusto Sampaio Coelho. A proposta, diz, é que o setor se reúna novamente para discutir como será a remuneração.
Coelho defende que o não pagamento da diferença não seja empecilho para a tomada de crédito. Segundo ele, a estocagem é necessária para que o couro não seja vendido de forma aviltada porque as empresas estão descapitalizadas. A intenção é se precaver das oscilações de preço e, com isso, ter mais tempo para dar maior acabamento, ou seja, produzir couro com maior valor agregado.
Empresas descapitalizadas
Hoje, 50,4% do total produzido no País é exportado, mas só 2,2 milhões de couros vendidos ao exterior são acabados, ou seja, 12,7% das exportações. A diferença entre o wet blue, principal couro exportado (60,4% das vendas), e o acabado é grande: preço médio de US$ 92,56 ante US$ 31,44. Além disso, no período de 2000 a 2001, o preço médio do wet blue caiu 7,3%. As exportações cresceram 19% em 2001, para US$ 342 milhões, em relação aos US$ 287 milhões em 2000.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Edivar Vilela de Queiroz, o grande problema é a descapitalização das empresas. “O setor produtivo tem que se revoltar contra a taxação de 9% nas exportações de wet blue“. Para ele, “o Brasil tem que exportar wet blue porque não tem parque industrial para processar tudo”, afirma.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Neila Baldi), adaptado por Equipe BeefPoint