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25 de fevereiro de 2002
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27 de fevereiro de 2002

Veterinários alertam para surto de raiva em MT

Gravidade aumenta com “silêncio” de profissionais que não divulgam números reais de focos da doença

Médicos veterinários do interior do Mato Grosso, que participaram da 15ª Reunião do Circuito Pecuário do Centro-Oeste, denunciaram que profissionais de órgãos públicos do setor de sanidade animal estão preferindo não divulgar novos focos da raiva animal. Com isso eles temem que o Estado tenha um surto da doença, causando prejuízos aos criadores e risco de vida à população, que pode até comer carne contaminada, vendida irregularmente.

Segundo esses veterinários, os baixos salários pagos pelo Instituto Nacional de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) são a causa do desestímulo dos profissionais envolvidos para lidar com uma doença perigosa como essa.

Leia matéria completa:

Focos de raiva animal estão “explodindo” em várias regiões de Mato Grosso, causando prejuízos aos criadores e colocando em risco a vida de pessoas que lidam com os animais que morrem vítimas da doença, ou com a placenta de vacas que pariram ou abortaram e até de quem, por imprudência ou falta de escrúpulos de comerciantes do ramo, venha a consumir carne de bovinos contaminados pela doença e abatidos nos chamados “frigomatos”.

A denúncia sobre o surgimento de focos da doença e seus perigos foi feita por médicos veterinários do interior que participaram da 15ª Reunião do Circuito Pecuário do Centro-Oeste, realizada na semana passada. Segundo médicos veterinários, o Mato Grosso está à beira de um surto de raiva animal, cuja gravidade não está sendo dimensionada, porque profissionais que trabalham em órgãos públicos do setor da sanidade animal preferem não abrir os focos suspeitos, ao contrário do que foi feito nos três que já foram debelados na área de abrangência do lago da hidrelétrica do rio Manso, sendo dois em Rosário Oeste e um em Chapada dos Guimarães.

Os profissionais, que optam pelo anonimato, explicam o desestímulo para lidar com uma doença tão perigosa com os baixos salários que o Instituto Nacional de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) paga a um médico veterinário em início de carreira: R$ 850,00.

De acordo com estimativas feitas com base em informações das fazendas onde os três focos de raiva foram identificados, a doença matou mais de 800 bovinos em menos de quatro meses. Mesmo com a vacinação em massa do rebanho da área de abrangência da represa de Manso, a doença vai continuar matando por algum tempo ainda, porque depois que ocorre a desincubação do vírus da raiva animal a morte é irreversível.

Muitas pessoas da área que lidam com animais, inclusive açougueiros, foram vacinados contra a doença. Numa das fazendas da região de Manso foi contratado um trabalhador só para arrastar com um trator os animais mortos pela doença e enterrá-los longe das áreas de pastagem.

Para o presidente do Indea, Ênio José de Arruda Martins, os focos de raiva animal vão continuar surgindo em Mato Grosso enquanto os criadores não se conscientizarem da necessidade de vacinar seus animais contra a doença. A vacinação de animais, e não apenas de bovinos, não é obrigatória e por isso os criadores só tomam a providência quando ocorrem mortes nas fazendas.

A prevenção, no caso da raiva animal, é barata. O risco de morte do rebanho pode ser evitado com o investimento de R$ 0,30, preço da dose da vacina. O Indea tem inclusive um calendário anual para captura e morte de morcegos hemafófagos, os transmissores da doença.

Ênio Martins contestou a denúncia sobre a suposta negligência de médicos veterinários, mesmo em início de carreira, que não divulgam os focos da raiva animal. O presidente do Indea garante que os profissionais do órgão são muito conscientes da sua função e fazem o trabalho que deve ser feito quando surge a suspeita de um foco de doença de animais.

Segundo ele, o que ocorre muitas vezes é que animais morrem vítima de outras doenças e a culpa recai sobre a raiva. E nem sempre o criador comunica mortes de bovinos aos médicos veterinários do Indea para a coleta de material para ser analisado pelo Laboratório de Apoio à Sanidade Animal (Lasa).

Política

Melhorar as condições de trabalho e o salário dos médicos veterinários dos órgãos estaduais responsáveis pela sanidade animal (no caso de Mato Grosso, o Indea) foi a principal recomendação do documento final da 15ª Reunião do Circuito Pecuário do Centro-Oeste.

Durante os dois dias de reuniões de circuito, foi muita criticada a política dos órgãos estaduais, que não proporcionam melhores condições de trabalho para técnicos que trabalham no campo e são peças-chave no sistema de prevenção primária de doenças dos animais.

Fonte: Diário de Cuiabá (por Nelson Severino), adaptado por Equipe BeefPoint

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