As descobertas recentes ocorridas em relação aos aspectos da fisiologia da reprodução em bovinos, aumentaram as expectativas e possibilidades sobre a capacidade de contribuição das fêmeas no melhoramento genético da espécie. Com estes conhecimentos, novas biotecnologias tiveram sua utilização viabilizada na prática, tanto econômica quando na forma de aplicação A transferência de embriões (T.E.) é uma destas tecnologias. Esta técnica desenvolve-se rapidamente na pecuária bovina brasileira. Com ela, o melhoramento genético pode ser efetuado com mais rapidez e eficiência, mesmo em pequenas populações de animais, com a disseminação do material genético de uma fêmea zootecnicamente superior. Embora a técnica de transferência de embriões em bovinos tenha evoluído consideravelmente no Brasil, nos últimos anos, ainda alcança um percentual pouco expressivo de rebanhos leiteiros e de corte.
O Brasil é um dos países do mundo onde a técnica de transferência de embriões em bovinos mais evoluiu nos últimos 10 anos. Nas estatísticas de 2000 do IETS (International Embryo Transfer Society), o Brasil já figura como o 3o colocado em aplicação da técnica. Embora experimentando apreciável crescimento, a utilização da tecnologia de embriões, visando a multiplicação de genótipos superiores é pequena, ao considerar-se que o País possui o maior rebanho de bovinos do mundo.
O custo de implantação e manutenção do programa de transferência de embriões é a principal limitação para uma maior difusão desta técnica. Com os custos e resultados atuais, a transferência de embriões somente vai apresentar relação custo-benefício viável em rebanhos cujos animais tenham um grande valor comercial, para produção de matrizes e reprodutores. Assim o valor dos produtos pode compensar os custos de produção.
A produção média de embriões por colheita é muito variável. Para animais de origem européia situa-se em torno de 5,5 a 6,0, e para zebuínos entre 4,5 e 5,0 estruturas viáveis, ou seja, embriões que poderiam ser congeladas ou transferidas às receptoras, com chances reais de desenvolvimento da gestação e formação de um novo indivíduo.
Porém, nem todo embrião que é transferido a uma receptora, continua se desenvolvendo no útero da mesma, apenas uma parcela leva a gestação a termo. Considerando-se uma taxa de gestação média de 50%, que é o índice comumente obtido no Brasil e em outros países, quando não se manipulam os dados, chega-se e um total de gestações/colheita de 2,5 a 3,0. Desconfie de quem propala números muito superiores a estes, pois resultados melhores até podem ocorrer, quando se analisa um determinado período de atividade ou animal, mas quando a população e o período de analise é superior, os números não diferem muito dos apresentados. Com a possibilidade de morte embrionária, abortos, natimortos, problemas de partos, etc, que oscila entre 10 e 15%, estima-se para projeção da relação custo/benefício da técnica, em torno de 2,0 a 2,5 produtos nascidos/colheita.
Sempre que o valor comercial destes produtos não ultrapassar, com alguma margem, os custos de produção, a técnica torna-se economicamente inviável, o que ocorre com a maioria dos rebanhos comerciais no Brasil.
Para calcular a relação custo-benefício da técnica, temos que saber exatamente quais os custos (tabela 1) de implantação e manutenção da mesma, o que será descrito a seguir. Vale lembrar que se trata de uma planilha média de custos, que pode sofrer variações por várias situações.
Tabela 1: Custo médio de mão-de-obra e materiais de consumo para uma coleta de embriões em bovinos.
Além disto não se pretende aqui padronizar honorários dos profissionais que executam esta técnica. O calculo será feito pela média de remuneração vigente, quando se considera um valor estipulado por cada doadora coletada, independente do resultado.
Utilizando os valores acima de gastos em uma coleta de embrião e admitindo que o resultado médio desta coleta será 2,0 a 2,5 produtos, chegamos a um custo por produto ao nascimento entre R$ 337,20 e 421,5.
Uma análise simples destes valores leva a uma conclusão imediata. Quando algum produtor resolve optar pela técnica de Transferência de Embriões, é obrigação do técnico apresentar ao mesmo esta planilha, ou outra semelhante, com valores reais para a região e situação. Quando o produto não tiver um valor ao nascimento, muito superior ao custo apresentado acima, para a doadora em questão, a técnica não é viável economicamente.
Vale lembrar ainda que foram contabilizados apenas os custos referentes á técnica. Outros, que dependem de diversas variáveis, como custo de aquisição de doadoras, manutenção de receptoras, deslocamento do técnico, investimento em instalações, etc, devem ser considerados.
Em tempo! Não estou aqui tentando desanimar os criadores que pretendam adotar a técnica. Atualmente vivo desta atividade, e luto pela disseminação da mesma, porém vejo que muitos são iludidos e seduzidos pelo status que a TE possa representar, e embarcam em programas fadados ao insucesso, por falta de uma simples análise anterior da viabilidade de implantação.
Vale lembrar também, que a técnica de transferência de embriões é, de longe, a que apresenta menores custos para disseminação em maior escala do genótipo de uma fêmea.
Literatura Complementar
CHRISTIANSEN, L.G. Use of embryo transfer in future cattle breeding schemes. Theriogenology, v.35, n.1. p.141-9, 1991.
FERNANDES, C.A.C. Inovulações não cirúrgicas e taxa de gestação em receptoras de embrião. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.51, n.3, 263-266, 1999.
FERNANDES, C.A.C.; VELASQUEZ, L.F.U. Características do corpo lúteo e taxa de gestação em receptoras de embrião. Archivos de Reproducción Animal Espanha, Madrid, v.1, n.2, p.28-31, 1997.