Crédito do Pronaf para aquisição de animais para pecuária de corte possibilita aumento do rebanho destinado à cria
Aumentar a média do rebanho da pecuária de corte no norte de Minas Gerais, envolvendo Montes Claros, Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri é um desafio que a Emater/MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), vinculada à Secretaria da Agricultura, tem enfrentado, segundo José Alberto de Ávila Pires, coordenador do Programa de Bovinos de Corte do órgão e responsável pelo Procria (Programa para o Aprimoramento da Pecuária Bovina Familiar).
Uma das ferramentas, de acordo com ele, é o crédito do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), liberado, no Plano de Safra 2003/2004 da Agricultura Familiar, para aquisição de animais destinados à pecuária bovina de corte – bezerras, novilhas, vacas e reprodutores -, em junho de 2003. Até então, era explícita a proibição de crédito para tal fim.
Nessas áreas do norte mineiro, de acordo com as informações de Pires, com base no Censo Agropecuário do IBGE, de 1995/96, existiam cerca de 55 mil pequenos criadores desenvolvendo as atividades de cria ou cria e recria na exploração de bovinos de corte, de leite ou ainda de leite e corte conjuntamente. Com um rebanho de aproximadamente 2,3 milhões de cabeças, possuíam cerca de 1,2 milhão de matrizes bovinas, entre vacas e novilhas em idade de reprodução, conforme relata no Procria.
“Esses pequenos criadores de gado de corte, com uma média 20 a 40 vacas por criador, têm sido a sustentação de toda a cadeia produtiva da pecuária de corte, uma vez que são os responsáveis pelo nobre trabalho de criar o bezerro. A venda desse bezerro é feita logo após a desmama, para outros pecuaristas especializados na recria e engorda. Essa especialização das atividades na pecuária de corte (cria, recria, e engorda) deixa bem clara a necessidade de apoiar o pequeno criador, o agora chamado ‘pecuarista familiar’. Manter viável essa ‘pecuária familiar’, fazendo crescer o seu rebanho de vacas para uma média de 44 a 66 animais por criador elevará para 2,4 a 3,6 milhões de vacas da região com reflexos positivos, econômicos e sociais. Esse tem sido o nosso desafio”, detalhou.
O coordenador do Programa contou que houve intensa mobilização para incluir a aquisição de animais para pecuária de corte no Pronaf, utilizando-se o argumento de que “está nas mãos dos pequenos a sustentação da pecuária, pois têm vacas, caso contrário, o criador não teria nada” diante do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) para alertá-lo sobre o que, em sua opinião, era um erro, devido à exclusão do pecuarista familiar.
Defendendo a idéia da integração, com devida atenção ao criador, Pires afirmou que, para viabilizar o pecuarista familiar, fazendo-o aumentar seu rebanho de vacas, a tecnologia está disponível, “mas nunca foi aplicada por não se ter voltado a atenção para esse pecuarista familiar e o Pronaf simplesmente o excluía”. Além disso, a região, que 20 anos atrás era de pecuária de corte, segundo ele, teve de se voltar para a de leite, com a introdução de vacas cruzadas, principalmente com Nelore, o que tem contado com pesquisas da Embrapa via Propec/MG (Programa Organização e Gestão da Pecuária Bovina em Minas Gerais).
“A região é de corte, não é própria para leite, pois é mais seca e não tem como produzir milho e ração. Via crédito rural e via indústria de laticínios, o pessoal mudou a atividade, mas não se estruturou na linha leiteira. Deu com os ‘burros n’água’, a indústria se afastou e, hoje, faz reconversão dos rebanhos para corte. Agora, com a liberação, o Pronaf oferece ao produtor a opção de escolher entre corte e leite. Entretanto, o que se faz em 20 anos não se desfaz em seis meses. Entre o recurso estar disponível e a operacionalização, a distância é enorme. Nessa região, o pessoal se endividou na linha do leite e agora tenta colocar a casa em ordem. É um desafio muito oportuno, pois o mercado é altamente comprador de bezerro bom”, acrescentou, comentando que Minas Gerais não pode virar as costas para esse rebanho fornecedor de bezerros do norte do Estado, “que tem grande potencial de crescimento”.
Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint