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8 de março de 2002

Viposa compra Curtume Berto e vai aumentar produção de couro

Além de ser o sexto maior do Brasil, o Curtume Viposa, de Caçador (SC), vai aumentar sua produção em mais de 65% neste ano. É que ele comprou o Curtume Berto S/A, localizado em Várzea Grande, no Mato Grosso. O negócio de couros representa, segundo o diretor Marcelo Seleme, 35% do faturamento do grupo, que tem atividades também no ramo madeireiro, material de construção e reflorestamento. O Viposa também fechou parceria com o Instituto Euvaldo Lodi de Santa Catarina (IEL/SC) no Projeto Couro. Por meio de uma cooperação bilateral de transferência tecnológica entre Brasil e Alemanha, o projeto objetiva testar um novo processo de reciclagem de resíduos gerados na produção de couro. “Espera-se que a redução dos resíduos sólidos chegue a 90% e que o índice de reciclagem de água alcance os 70%”, afirma a coordenadora do Projeto Couro e engenheira do IEL/SC, Eliza Coral.

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O Curtume Viposa, de Caçador (SC), sexto maior do Brasil, comprou o Curtume Berto S/A, localizado no município de Várzea Grande, no Mato Grosso, e vai aumentar a produção em mais de 65% em 2002. Com a aquisição, a atual produção de 1.500 couros (inteiros, de boi) será adicionada de mais mil couros. O valor do negócio não foi revelado e o presidente do Viposa, Elias Seleme, garante que utilizou recursos próprios. O Curtume Berto, no ano passado, segundo o Balanço Anual da Gazeta Mercantil, obteve receita líquida de R$ 9,69 milhões e ocupou a 18a posição no ranking do setor.

Seleme afirma que, com a compra do curtume matogrossense, o Viposa aproximou-se do centro da matéria-prima brasileira, localizado naquele Estado. O couro industrializado na nova unidade vai em estágio wet blue (fase inicial de processamento) para Caçador, onde será feito o acabamento. Com 614 empregados e unidade industrial em Caçador (SC), o Curtume Viposa fatura no exterior 70% dos R$ 52 milhões que movimenta. Exporta couro, cabedais (couro costurado sem o solado) e sapatos de segurança. O faturamento do ano passado foi 30% maior do que em 2000.

O presidente da empresa não quis estimar o crescimento na receita da empresa em 2002. Segundo ele, agora é preciso vender, “arrumar cliente”. Ele considera mais seguro trabalhar no mundo todo, com a atividade atrelada à moeda forte. Na prática, encara o Brasil como um dos 40 mercados mundiais. No caso dos cabedais, a empresa exporta 100% do que produz, contornando o protecionismo na Europa no setor de calçados. “Se exportarmos o sapato pronto, o imposto de importação lá chega a 30%. No caso dos cabedais, é de 6%. Aí colocam o solado e protegem a produção local”, explica o diretor-superintendente do Curtume, Marcelo Seleme.

O negócio de couros representa, segundo o diretor, 35% do faturamento do grupo, que tem atividades também no ramo madeireiro, material de construção e reflorestamento. No ano passado, a busca incessante do crescimento através da implantação de novas tecnologias impulsionou o Curtume Viposa a fechar parceria com o Instituto Euvaldo Lodi de Santa Catarina (IEL/SC), no Projeto Couro.

Pesquisa

O projeto, orçado em R$ 22 milhões rateados entre o Brasil e a Alemanha, por meio de uma cooperação bilateral de transferência tecnológica entre os dois países, tem o objetivo de testar um novo processo de reciclagem de resíduos gerados na produção de couro. Do total a ser investido em quatro anos, R$ 13 milhões são de recursos alemães e R$ 7 milhões do Brasil, sendo metade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Os resultados serão disponibilizados para empresas de todo o mundo que estejam interessadas em implantar a tecnologia desenvolvida.

A coordenação do Projeto no Brasil é do IEL/SC e tem o apoio do Serviço Nacional da Indústria (Senai) de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Do lado alemão, a coordenação é do Instituto e Escola do Couro de Reutingen. Há também a participação dos governos dos dois países através do CNPq e do Ministério de Educação, Pesquisa, Ciência e Tecnologia da Alemanha (BmBf).

O Curtume Viposa, de Caçador, e a Bonato Couros, de Joaçaba, são dois dos cinco curtumes catarinenses que participam do estudo. As outras indústrias são do Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. “Seremos pioneiros na questão ambiental de tratamento de resíduos gerados na produção”, diz Seleme.

O Viposa recebeu modernos equipamentos alemães de filtragem de efluentes que possibilitam o reaproveitamento de até 60% da água utilizada na produção do couro. Os desafios desta etapa do projeto são a adaptação da tecnologia de membranas (filtragem) para possibilitar a reciclagem de água, a redução da utilização de produtos químicos como cromo e sais no processo de curtimento e o tratamento dos resíduos sólidos.

“Espera-se que a redução dos resíduos sólidos chegue a 90% e que o índice de reciclagem de água alcance os 70%”, afirma a coordenadora do Projeto Couro e engenheira do IEL/SC, Eliza Coral. Essa transformação vai decorrer de um processo de modificação de resíduos através de um reator de conversão a baixas temperaturas.

A coordenadora explica que, atualmente, os curtumes brasileiros exportam o couro wet-blue, que passa pelo tratamento químico à base de cromo e é vendido para o mercado internacional semi-acabado, com baixo valor agregado. “Quem compra o couro do Brasil leva vantagem, pois não polui os seus recursos naturais, adquire um produto barato e consegue fazer o acabamento do couro com alto padrão e revendê-lo com um preço superior”, explica.

O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 163 milhões de cabeças de gado. Só perde em número para a Índia, que trata o gado como animal sagrado e não o comercializa. A produção brasileira de peles chega a 30 milhões de unidades ao ano e tem capacidade de aumentar a atividade em cerca de 20%.

Estudos realizados pela ONU revelam que a matéria orgânica constitui cerca de 52% dos efluentes sólidos e líquidos da indústria de couro brasileira, representando um montante de US$ 810 milhões, dos quais cerca de US$ 405 milhões são desperdiçados devido ao mau aproveitamento dos subprodutos e falta de tecnologia e de reciclagem.

Fonte: Gazeta Mercantil (por Juliana Wilke), adaptado por Equipe BeefPoint

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