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Visão de futuro, oportunidades e dificuldades das associações de pecuaristas

Na sexta-feira, 21 de maio, fiz a palestra de abertura do Workshop BeefPoint Associações de Pecuaristas, que contou com a participação e apoio de diversas associações brasileiras. Foi um evento inédito e que vai entrar para a história como a primeira vez que esse grupo de associações se reuniu e iniciou uma troca de experiências e aprendizados. Surgiu inclusive a ideia de termos reuniões mais frequentes para aprofundar esse aprendizado mútuo. Na minha apresentação, abordei quais são as oportunidades e desafios das associações no Brasil e também qual minha visão de futuro.

Na sexta-feira, 21 de maio, fiz a palestra de abertura do Workshop BeefPoint Associações de Pecuaristas, que contou com a participação e apoio de diversas associações brasileiras. Foi um evento inédito e que vai entrar para a história como a primeira vez que esse grupo de associações se reuniu e iniciou uma troca de experiências e aprendizados. Surgiu inclusive a ideia de termos reuniões mais frequentes para aprofundar esse aprendizado mútuo. Na minha apresentação, abordei quais são as oportunidades e desafios das associações no Brasil e também qual minha visão de futuro.

O primeiro ponto é que inicialmente (e muitas vezes até hoje) as pessoas consideram uma péssima ideia participar de uma associação (ou montar uma). Tudo conspira contra e parece muito difícil encontrar adeptos. O fundador de uma associação é geralmente um inconformado, que tenta e quer mudar as coisas. Trabalha em prol da ideia, mesmo com muitos (todos) indo contra. É preciso festejar esses pioneiros, que remam contra a maré e que hoje têm muita coisa boa para mostrar.

O grande objetivo de um encontro de associações é trocar experiências: aumentando a velocidade com que as melhorias em cada associação são adotadas e fazendo que erros sejam repetidos menos vezes. Além disso, queremos divulgar o trabalho desses pioneiros e atrair novos integrantes, que se interessam e se identificam com a ideia. Depois que uma associação começa, ainda há muito a ser feito e é preciso reunir mais integrantes que sejam pró-ativos, participativos e contribuam para a evolução.

E porque associação de pecuaristas é uma boa ideia? Acredito que essa é a principal estratégia além porteira para aumento da lucratividade. Há muito o que fazer dentro da fazenda. Há muitas melhorias em manejo, nutrição, genética, reprodução, treinamento de mão de obra. Mas há muito também a ser feito fora da fazenda. Vender melhor. Comprar melhor. Agregar valor ao que é produzido. Enfim, há uma série de ações que impactam fortemente na lucratividade e são feitas fora da fazenda. Tudo isso pode ser alcançado de forma muito mais eficiente por meio de uma associação de pecuaristas, do que por pecuaristas individualmente.

As associações vão atuar principalmente em três frentes. #1 Aumento do poder de barganha, compra e venda em conjunto com melhores preços e também com mais serviços, melhor atendimento. #2 Liderança setorial, levantando as demandas do setor e buscando soluções em questões públicas e políticas. Aqui podemos citar a busca por melhorias no Sisbov, questão agrária, fundiária e ambiental. Nesse caso, associações podem atuar em conjunto, como já ocorre com frequência. #3 Agregação de valor, o produto carne bovina é muito nobre e pode ser mais valorizado. Seja por aumento da qualidade e padronização, criação de selos e certificação de origem e processo, ou pelo financiamento conjunto de ações de marketing (desenvolvimento de produtos, relacionamento com médicos, nutricionistas e influenciadores e até campanhas de publicidade).

Associações passam por grandes desafios internos. Os principais deles são: 1- Governança, 2- Foco e 3- Objetivos claros, 4- Transparência e 5- Gestão. Isso é fundamental para qualquer instituição ou empresa. É preciso administrar muito bem os recursos (que são escassos) e também apresentar resultados e dados financeiros de forma transparente. Assim se ganha confiança, credibilidade e reputação. O ponto mais importante é ter foco e objetivos claros. Quanto mais específico for o foco de atuação, maior será o avanço. É preciso se perguntar sempre qual o objetivo central da associação ao avaliar decisões individuais.

E quais são as métricas para associações sem fins lucrativos, que é o caso da maioria das associações? Tomo emprestado os exemplos do livro “Sai da Microsoft para mudar o mundo” de John Wood, que fundou uma entidade que constrói escolas e bibliotecas em países de baixa renda, além de oferecer bolsas de estudo para meninas carentes, em regiões onde meninos têm preferência no acesso a escolas. John fala que é preciso avaliar qual percentual do orçamento da entidade está sendo destinado diretamente ao objetivo central da entidade e quanto está sendo usado para custos administrativos. Ele afirma que existem ONGs que gastam mais para publicar o relatório anual e dar uma festa apresentando resultados do que na própria busca dos resultados. Triste, mas verdade. Ao se buscar minimizar os custos operacionais e maximizar o investimento de ações que focam diretamente o objetivo da entidade, se consegue mais.

Para finalizar, ele diz que um dos mantras da Microsoft sempre foi “go big or go home”, algo como “pense grande, ou vá para casa”. Ele adotou esse lema e conseguiu muito com isso. Acredito muito que pensar grande é fundamental para se chegar longe.

Eu fiz três perguntas a cada uma das associações de pecuaristas: O que mais deu certo? O que mais deu errado? Qual o perfil ideal de associado? O objetivo das duas primeiras perguntas é descobrir onde podemos mais aprender: com os erros e acertos dos outros. Há um ditado que diz que a pessoa inteligente aprende com os próprios erros, e a pessoa sábia aprende com os erros dos outros. Facilitar esse aprendizado mútuo é muito importante e proveitoso.

A última pergunta tinha como objetivo entender qual o perfil que cada entidade busca, procurando facilitar a identificação/conexão entre associações e potenciais novos integrantes. A resposta foi interessante, de forma unanime falaram que o mais importante não é tamanho ou sistema de produção do associado, mas sua vontade e predisposição em participar ativamente e influenciar os trabalhos da entidade.

Vale lembrar que a principal métrica de uma associação é qual a sua real agregação de valor para o pecuarista. Cada associação precisa entender e refinar seu modelo de trabalho visando entregar mais valor, dentro de sua proposta. A forma como isso será feito será diferente de associação para associação. Poderá ser por compra e venda mais eficiente, liderança setorial e agregação de valor.

Finalizando, cito uma frase do livro Rework, recém-lançado em inglês pelos dois sócios de uma das empresas mais festejadas nos EUA, a 37Signals. “Ninguém é responsável por realizar seus sonhos”. Ninguém, apenas você. Acredito que essa frase se identifica muito com o trabalho das associações de pecuaristas, que seus integrantes buscam assumir o controle de seu futuro, de seus sonhos, moldando o mundo a seu favor.

0 Comments

  1. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Miguel Cavalcanti

    Valeu mais um oportuno editorial.
    “Ninguem é responsável por realizar seus sonhos”, mas vale lembrar ,também, uma máxima asociativista que todo engenheiro vivencia :Ninguém constrói nada sózinho.
    Precisamos de um aprimoramento produtivo e de cultura de negócios que estimule o associativismo e o empreendedorismo para desenvolver a Capacitação, a Cooperação, a Comunicação, o Compromisso e a Confiança, os caracteres da competitividade que formam os 5C, as modernas ferramentas para um progresso inovador, interiorizado e de forma sustentável.
    Vamos avançar.
    Cordialmente

    PAULO CESAR BASTOS
    Engenheiro civil e produtor rural
    paulocbastos@bol.com.br

  2. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Que a demonstração de mobilização dos produtores franceses, ocupando o Champs-Elysées, inspire nossos produtores e lideranças sobre a importância da organização do setor na defesa de seus interesses. E para isto precisamos fortalecer nossos sindicatos patronais, associações de produtores e cooperativas.

    Att,

  3. Gustavo Silveira Borges de Carvalho disse:

    Até então eu sou daqueles que tem dúvidas quanto a criação de uma associação.
    Entendo que já dispomos de instituições destinadas a cumprir as 3 frentes de atuação que o Sr. se referiu e mais algumas.
    Na CNA temos as comissões especializadas que deveriam reportar às Federações nos Estados e que por sua vez, reportariam aos Sindicatos nos municípios.
    Para operacionalizar uma decisão ou fomento do tipo compra conjunta de vacinas, temos as cooperativas de consumo mais regionalizadas.
    Ora, mais instituições normalmente se traduz em cabides de cargos, tráfico de influência e trampolins políticos. Depois de formada fica na mão de um só, ninguém encerra, e ela fica lá sem servir para nada. Dá dó.
    Esta reunião, que só confirma o que estou dizendo, pois só agora resolveram encontrar e ainda se questiona se devem continuar se encontrando?! Absurdo. Já deveriam sair dela com uma agenda anual. Talvez até seja tarde, pois os Srs estão perto de perderem 30% ou mais de terras para o meio ambiente, sem direito a indenização ou indenizado por precatórios que é o mesmo de não indenizar e ainda admitem que rios banhem suas fazendas com águas poluídas de esgoto da cidade sem nenhuma contrapartida. E ainda é chamado de bandido por promotores meninos românticos de início de carreira. É o fim da picada.
    O que diremos das balanças dos frigoríficos? Ah. Mas o dono do frigorífico também é pecuarista. Oh e que coincidência, ele também é diretor da associação!!!
    Meus queridos, só é pensável montar uma associação se ela for para você. Caso contrário, ser para todos, só se proibir a reeleição e estudar medidas de desempenho ou lei de responsabilidade, julgadas por uma esfera superior. Prestação de contas!!
    Bom, mas se isto for feito, já resolve o problema de sindicatos e cooperativas e não precisaríamos das associações.

    att,

  4. Gerson Fagundes disse:

    “A união faz a força”. O ditado popular é tão antigo quanto verdadeiro.
    Quanto mais organizado e unido o setor econômico, maior será seu poder de persuasão e influência junto às lideranças sócio-políticas. Tomemos o exemplo da indústria automobilística brasileira. Por se apresentar em conjunto, suas reinvidicações são sempre consideradas na formulação das políticas macroeconômicas dos governos federal e estaduais. Além do que, sua bem pensada estratégia de relações-públicas faz com que a população em geral tenha uma visão de modernidade, progresso e nacionalismo ligada ao setor. Outros tantos grupos seguem o mesmo exemplo com sucesso.
    Acredito que falte ao setor agroindustrial nacional justamente essa cultura de grupo. A imagem deturpada sobre o setor que prevalece entre a maioria dos brasileiros não diretamente ligados ao campo, assim como os reveses políticos no âmbito dos poderes executivo e legislativo, são frutos diretos da fragmentação, com a atuação de várias e concorrentes lideranças, num verdadeiro clima de “cada um por si”.
    Portanto concordo plenamente com o artigo: há que se promover a profissionalização do agronegócio brasileiro. E isso só será possível através da união de todos em torno de objetivos comuns.

  5. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Olá Gustavo, bom dia. Obrigado pelo comentário.

    O workshop foi muito proveitoso para avançar no tema associações. Elas existem e estão se tornando mais fortes. Chamo de fortes por estarem agregando valor para seus associados.

    A razão de ser de uma associação é se ela gera mais valor do que custos (tempo, dinheiro, etc).

    Vamos em frente. Há pessoas boas, que acreditam na ideia e que estão dispostas a trabalhar, mesmo enfrentando incrédulos.

    Abs, Miguel

  6. Nelson Jesus Saboia Ribas disse:

    Acho que o caminho é via a CNA e suas Comissões Especializadas, claro que antes temos de resolver questões politicas e de égos dos lideres de classe.
    No campo é muito dificil a mobilização do produtor, tera de vir de cima para baixo, quero dizer, na CNA um grupo de especialistas moderando um grupo de verdadeiros produtores podera sair com projetos e ações que atendam uma boa parte dos produtores, que por sua vez ao enchergarem os beneficios passarão a se engajar e multiplicar as ações.
    Por exemplo, como produtor me dabato para fazer a melhor escolha de insumos pois a oferta é enorme e também com grandes diferenças de preços e condições, não sei onde buscar orientação com base cientifica, os técicos de campo tem visões isoladas e sem um experimento de uso com avaliação consistente de resultados. O mercado é francamente favorável aos fornecedores que com margens fantasticas se multiplicam financiados pelos prejuizos dos produtores.
    Acho que a nossa grande Associação(CNA) pode criar um INSTITUTO BRASILEIRO DE CERTIFICAÇÂO AGROPECUÀRIA, este projeto seria desenvolvido em parceria com o meio academico, e finaciado parte pelos produtores e também com recursos do Governo, teria várias frentes para atacar mas uma delas seria realizar experimentos com os insumos necessários para que oprodutor tenha sucesso, seja no Leite, nas Carnes e na Agricultura, faria a certificação de produtos e protocolos de trabalho de forma idonea e sem interesse comercial. Claro que escolha de compra continuaria sendo do produtor, mas na mesma CNA poderia ser desenvolvido projetos de apoio para os Sindicatos criarem seus grupos de compra onde então os produtores poderiam se beneficiar de escalas maiores de compra, as Cooperativa atualmente não suprem esta necessidade, elas querem competir com outros agentes de mercado e crescer e crescer as custas dos cooperados.
    O ponto importante é que o Miguel levanta um tema recorrente e que em algum momento tera de sair do discurso e deixar de ser só UM SONHO.
    Parabenizo iniciativa e estarei atento para colaborar.

  7. Walter Magalhaes Junior disse:

    Miguél, a opinião dos incrédulos, a despeito de tudo, será, sempre, tão importantes quanto a daqueles que aderem, muitas vezes sem ao menos saber exatamente o que está sendo discutido.
    O aspécto mais interessante do seu “site”, o Beef Point, frente a todos os outros que estão aí disponíveis, é essa possibilidade de se discutir idéias abertamente, em base quase que “on line”, não é?
    Veja que, as argumentações do Gustavo Carvalho são reais e muito consistentes. Reflita sobre isso e irá notar que o produtor não está falando bobagem quando afirma não acreditar na possibilidade do êxito de associações em nosso setor. Ele afirma, de maneira acertiva, que se os sindicatos, federacões e confederação dos produtores rurais realmente funcionassem, muita coisa poderia ser melhorada, inclusive alguns itens que você coloca como objetivos a serem perseguidos pelas associações poderiam ser atingidos, no que eu concordo plenamente com ele.
    Um outro aspecto de devemos considerar, quando discutirmos este assunto de associativismo no meio rural, pela razão exatamente contrária à que sustenta a argumentação do Gerson Fagundes acima, é que, ao contrário do setor automobilistico, onde existem poucos produtores para apresentar e defender interesses particulares, o setor agrorural tem a sua produção extremamente pulverizada, entre um número incontável de produtores, cujos interesses pessoais e particulares serão sempre inconciliáveis. Esta é uma tese já perfeitamente concebida dentro da área do conhecimento econômico.
    Quanto à afirmação do José Ricardo Rezende sobre a atuação dos produtores franceses, é algo de carater totalmente pontual que, nestes casos, realmente clama pelo espírito corporativo de um determinado setor, quando seus membros encontram-se descontente com algum assunto em especial, por entender que estão sendo prejudicado. Mas é algo que gera uma mobilização temporária e que perde sua força à medida que o tempo passa. Isso tem ocorrido no Brasil, também, em momentos de grande perturbação regional relacionadas com essas invasões de terra, sempre negligenciadas pelos orgãos govenamentais que deveriam inibí-las.
    Portanto, ao defender as teses de associativismo, lembre-se sempre que, quanto maior for o números de pessoas a participar, potencialmente, do processo, maiores serão as diferenças de interesses a serem conciliados, sendo por conseguinte, maiores as dificuldade de sucesso e êxito do empreendimento em sí.