Você já deve ter ouvido falar, ou mesmo lido em algum lugar, que a carne vermelha faz mal à saúde. Você já deve ter se questionado se deve ou não parar de consumir carne. Seguramente, também já se perguntou se deve acreditar em tudo que ouve ou lê.
Vários são os fatores que influenciam na publicação destas informações, dentre os quais modismos, preconceitos, tendências alimentares e lobbies organizados. Mas será que uma questão tão importante como a nossa saúde e bem estar não merecem um pouco mais de reflexão? Devemos simplesmente “engolir” informações sem critério científico, publicadas pela imprensa leiga, e portanto deixar de “engolir” carne vermelha?
As principais acusações feitas se referem ao consumo de carne vermelha provocar diversos tipos de câncer, aumentar o colesterol, ficar acumulada no estômago, ser inimiga do coração, predispor à celulite, ser mais calórica que carne brancas, tornar as pessoas mais agressivas, entre outros. Enfim, a carne acaba parecendo ser realmente um grande ´mal da humanidade que deve ser evitado´.
Uma das primeiras ações do SIC – Serviço de Informação da Carne foi pesquisar o que vem sendo dito a respeito de carne tanto em publicações impressas quanto na internet. Foi um trabalho bastante interessante e por vezes surpreendente. Foram revisadas inúmeras revistas e jornais, e mais de 1.000 sites de internet. Nossa estatística foi impressionante: 60% dos artigos eram favoráveis à carne bovina e 40% deles criticavam-na.
Listamos abaixo algumas das principais citações encontradas na pesquisa. Muitas pessoas ficam ofendidas ao tomar conhecimento das mesmas, e se este for o seu caso, recomendamos parar sua leitura por aqui. Por outro lado, se você acredita que é melhor conhecer o problema para saber como contorná-lo (o que em nossa opinião é a melhor estratégia), prossiga sua leitura.
“A carne não é considerada um alimento essencial para o nosso organismo. Aliás, pelo contrário, ela nos faz mal!”
“O acúmulo de evidências científicas não permite a pessoas de bom senso duvidar do mal que o cigarro, álcool, carne vermelha, fritura e dezenas de produtos provocam ao corpo humano.”
“…no Brasil a metade das florestas da América Central foi destruída para a produção de carne bovina…”
“O custo da produção de carne inclui o uso indevido das águas e da terra, o alto nível de contaminação produzido por fezes de animais, o aumento nas taxas de doenças cardíacas e outras enfermidades degenerativas e a destruição das florestas.”
“A carne bovina, produzida em pastagem, consome mais de 43 mil litros de água por kg de carne produzido.”
“Experiências de diversos pesquisadores, associam a carne vermelha a seis tipos de tumor.”
“Quando se frita um bife em fogo alto, a composição da carne se modifica, formando-se substâncias cancerígenas.”
“Os resultados apontaram o consumo da carne vermelha como responsável pelo aumento de 40% do risco de tumores do cólon e reto.”
Recentemente (novembro de 2001) a revista Veja publicou uma matéria de duas páginas intitulada “Dieta para remoçar”, onde eram comentados dois livros do médico americano Michael Roizen, da Universidade de Chicago, verdadeiros bestsellers nos EUA. Sua teoria correlaciona o envelhecimento precoce do ser humano ao consumo de certos alimentos. Claro que a carne vermelha está relacionada dentre os alimentos não recomendados para quem quer permanecer jovem, segundo o médico. A revista afirma em destaque: “os maiores inimigos da longevidade são os alimentos que provocam o envelhecimento das artérias, como as carnes vermelhas. Já os que elevam o nível de colesterol podem somar de 6 à 18 anos à idade real”. O mesmo médico prescreve o consumo de 30 gramas de nozes antes do jantar, 5 vezes por semana e também recomenda um drinque diário (bebida alcoólica) para as pessoas acima de 55 anos de idade, dizendo que isto abaterá 1.8 anos da idade de quem seguir esta orientação.
Ora, se a carne bovina realmente “envelhecesse”, não seria mais lógico que vários pesquisadores, em diferentes locais do planeta, tivessem feito a mesma descoberta e publicassem seus resultados maciçamente, comprovando esta tese?
Em relação ao colesterol, especialistas do Texas (EUA) concluíram, após anos de pesquisa, que o alto teor de ácido esteárico na carne bovina ajuda a reduzir o nível de colesterol no sangue e diminui o risco de doenças cardiovasculares. Estamos citando apenas uma, porém existem várias pesquisas a respeito de colesterol e outros temas relacionados a carne vermelha.
O próprio Dr. Dráuzio Varella, renomado médico cancerologista e diretor do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Unip, afirma: “Quantas vezes deixei de comer carne porque diziam que era um veneno para o coração! Mais grave, como a maioria dos médicos, durante 20 anos recomendei que meus pacientes fizessem o mesmo, porque os estudos pareciam dar suporte a esse tipo de orientação. O tempo encarregou-se de demonstrar, no entanto, que estávamos errados.
Em outras palavras: até hoje a ciência não conseguiu provar que dietas ricas em gordura animal provoquem ataque cardíaco ou encurtem a duração da vida. Quem foge de um churrasco como o diabo da cruz para poupar o coração pode estar fazendo sacrifício inútil. A política de convencer a população a cortar carne vermelha da dieta, adotada há 30 anos por diversos países, inclusive pelo Brasil, precisa ser revista. Não apenas por falta de comprovação de suas vantagens, mas pela possibilidade de causar o estrago dos tiros que saem pela culatra: contribuir para engordar a população, como os dados epidemiológicos recentes parecem demonstrar.”
Isto sem falar de pessoas famosas como artistas, modelos e outras pessoas bem sucedidas (e em até certo ponto formadoras de opinião) que adoram afirmar que ´só como carnes brancas, há anos que não como carne vermelha´, ou ´me sinto muito mais leve e saudável depois que cortei a carne vermelha da minha vida´, etc.
De tanto serem escutados, mitos e preconceitos passam a parecer uma verdade incondicional. As críticas feitas contra a carne bovina prejudicam a imagem do produto perante os consumidores e são uma questão muito séria para país, inclusive em termos econômicos. A agropecuária tem enorme participação no PIB nacional, além de gerar empregos e alimentar nossa população.
Porém, cada um tem o direito e o dever de refletir, e buscar a verdade. O consumidor brasileiro precisa ser informado, precisa saber “o que” deve comer, “porque” é bom consumir determinado produto e “como preparar” este produto. Há uma grande desinformação a respeito de carne bovina no Brasil, reflexo do pouco trabalho que vem sendo feito no sentido de informar as verdadeiras características e qualidades da carne bovina, ou mesmo de informar sua verdadeira necessidade de consumo como parte de uma dieta nutricionalmente balanceada e uma vida saudável.
Não há dúvida que a carne bovina é um alimento nutricionalmente muito rico, fornecendo proteínas, sais minerais e vitaminas essenciais à manutenção da saúde. Está na hora de sermos mais pró-ativos, coletando dados verdadeiros, baseados em dados científicos, e divulgá-los maciçamente aos consumidores.
Vale lembrar que a própria FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) diz que o ser humano precisa de um suprimento diário de 90 gramas de proteína, sendo que 50% deve ser de origem animal.
A título de comparação, imaginemos que uma pessoa decida parar de comer carne bovina e tente substituir um bife por outros alimentos procurando obter a proteína e ferro necessários à manutenção da saúde. Para obter a mesma quantidade de ferro, seria necessário consumir:
– 1 copo de leite integral
– 1 fatia de queijo de minas
– 2 colheres de sopa de ervilha
Para obter o mesmo teor de ferro que o bife fornece, seria necessário:
– 1 xícara de espinafre
– 1 concha de feijão
– 1/3 de copo de suco de açaí
Como podemos perceber, não é tão simples nem tão barato assim substituir a carne bovina por outros alimentos, se uma pessoa deseja excluir carne bovina de sua alimentação e permanecer bem nutrida.
Hoje há no mundo uma revolução no acesso à informação, e vários países demonstram uma enorme preocupação em falar diretamente com o consumidor sobre os mais diversos alimentos. Para citar dois países como exemplo (pois a lista de todos países e seus serviços de informação ao consumidor que existem seria enorme), na França já tomamos conhecimento dos serviços de informação de: carne, leite, batata, cereais, peixes, açúcar; e em Portugal encontramos o serviço de informação de iogurte e azeite.
No Brasil, toda a cadeia produtiva de carne bovina sofre duramente com os mitos e preconceitos, e pouco se fez até hoje para informar melhor o consumidor e proteger nosso produto carne. Cerca de 90% das 7 milhões de toneladas de carne produzida no Brasil são consumidos pelos próprios brasileiros, ou seja, o principal mercado para a carne bovina nacional está aqui mesmo. Tais dados reforçam a idéia de que devemos preparar nossos consumidores para que possam manipular, preparar e consumir carne bovina com a qualidade necessária para manter uma dieta saudável.
O SIC – Serviço de Informação da Carne se propõe ao desafio de preencher esta lacuna da informação ao consumidor, e divulgar amplamente as informações corretas sobre carne bovina, além de orientações nutricionais, de forma de cocção, de escolha de cortes, manipulação, conservação de carne e, é claro, deliciosas receitas e dicas para um bom churrasco. Acreditamos que quando o consumidor recebe informações corretas e atualizadas, passa a compreender a importância dessa proteína de origem animal na composição de uma alimentação saudável e equilibrada, garantindo o bem estar e uma vida saudável.
TEXTOS CONSULTADOS
– ´A culinária da carne – arte, ambiente e ritual´, Livro de Sylvio Lazzarini Neto
– ´A importância da carne vermelha na nutrição humana.´ – Josyanne C. M. C. Rocha – Zootecnista e M.Sc. Melhoramento Genético Animal.
– ´A malfalada carne´. Dráuzio Varella, médico cancerologista, Gazeta Mercantil, 3 de agosto de 2001.