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Você tem retorno de 9% ao ano no seu negócio?

O Banco Central do Brasil publica em seu site (www.bacen.gov.br) toda semana, uma pesquisa feita com os departamentos econômicos de todas as instituições financeiras, que se chama “Relatório de Mercado”. Este relatório traz médias e medianas das previsões dessas instituições para índices como câmbio, inflação (IPCA, IGP-DI, IGPM e IPC-FIPE), balança comercial, saldo em conta corrente, PIB, e alguns outros.

Segundo o relatório datado de 24/09/2004, a inflação nos próximos 12 meses (IPCA) deverá ficar em 6,23% ao ano. A taxa Selic, foi elevada para 16,25% ao ano na ultima reunião do Comitê de Política Monetária. Como o mercado acredita na elevação da Selic e também embute uma taxa de risco nas suas operações, está precificando a taxa pré-fixada para 1 ano em aproximadamente 17,3% (29/09/2004) ao ano. Isso significa dizer, que o mercado acredita que a variação CDI, indexador de muitas aplicações financeiras, deva ficar em torno desta taxa.

Calma! Não se assuste com tanto número e tanto economês! Procure no entanto acompanhar o raciocínio para perceber porque seu negócio tem de render mais que 9% ao ano.

Se você for ao banco do qual é cliente e aplicar R$ 100.000,00 em um CDB, provavelmente seu gerente pagará, digamos, 90% do CDI. Isso significa, a grosso modo, que você espera ganhar 90% de 17,3%, ou seja 15,57%*, que chamaremos aqui de ganho nominal. Se você acredita (como as instituições financeiras) que a inflação será de 6,23% neste período, você espera ganhar 9,34% ao ano (15,57% – 6,23%), que chamaremos aqui de ganho real.

Ganhar 9,35% ao ano, sem depender de intempéries climáticas e sem ter que se aborrecer com empregado! Seu negócio rende isso?

Este é um enfoque interessante do que se chama por aí de custo de oportunidade: quanto eu estou deixando de ganhar em comparação a um investimento alternativo? Para alguns, pode parecer banal o que estou escrevendo, mas muitos empresários rurais, sobretudo os pequenos, não fazem este tipo de conta.

É verdade que temos que levar em conta outros aspectos, como custo de saída de um negócio, por exemplo. Outra consideração importante, é que em alguns casos o proprietário rural pode ter ganhos elevados (e de certa forma inesperados) na valorização do seu patrimônio. Mas usar o “juro real” como um parâmetro para avaliar seu negócio e tomar decisões quanto aos investimentos que devem ser feitos, é simples e eficaz.

Uma consideração a ser feita é que essas projeções são dinâmicas, ou seja: estes números podem sofrer grandes variações ao longo do tempo. Por isso é importante ressaltar que este tipo de análise deve ter certa periodicidade (no mínimo mensal).

O Brasil tem a segunda maior taxa de juros do mundo. Atualmente, só perde para a Turquia neste triste indicativo. Não me entendam mal, não estou tentando desestimular você, produtor rural, a investir e permanecer na sua atividade. Quero, sim, que você possa, através de contas simples, preservar e aumentar seu capital de forma a poder reinvesti-lo na produção, se não agora, pelo menos no dia que este país puder ter uma taxa de juros decente.

(*) Conta feita para mostrar o efeito de forma didática. O correto desta conta é descapitalizar o juros até 1 dia (base 252) e só então aplicar os 90%. Capitalizando-se a taxa novamente por 252 dias úteis, chegaremos ao valor de 15,44%.

0 Comments

  1. José Roberto Puoli disse:

    Prezado Sr. Manoel,

    Achei interessante o seu artigo. Porém, (tenha em mente que estarei falando somente sobre pecuária de corte) em termos práticos, acredito que ele não diz muita coisa. Por vários motivos:

    1. Qualquer pecuarista que não esteja atuando em áreas de fronteira agrícola, isto é, terra nova, fértil e capim novo, sabe que a rentabilidade da atividade é baixissimaaaaaaaaaaaaaaaaa. Ele pode até não ter os números bem calculados (o que a maioria não têm mesmo), porém, faz tempo que ele está sentindo a tremenda dificuldade do setor.

    2. Quando você fala de fazer estas avaliações periodicamente (mensal), tudo bem, só que os investimentos que são feitos na pecuária quase nunca podem ser reavaliados mensalmente. Pois, eles são de médio e longo prazo. Então, bye bye a idéia de decidir por um investimento hoje reavaliá-lo mês que vem (na maioria das vezes).

    3. Por último e o que me gera mais dificuldade com este tipo de artigo, é que quando você mostra o custo de oportunidade financeiro de um tal capital, pode induzir a pessoa a realizar o imobilizado dela (que é uma fonte de produção e conseqüentemente de trabalho) e optar por gigolar este capital através de juros bancários. Se analisarmos os números nua e cruamente, esta poderia ser a conclusão. O que na minha modesta opinião, na maioria das vezes, é um absurdo.

    O que eu gostaria de entender melhor é como o pecuarista consegue sobreviver trabalhando totalmente sem crédito. Ou o que deveríamos fazer para tentar mudar este cenário. Via lobby, via melhora nos preços. Como fiquei sabendo de um pessoal em Goiás que está se juntando para fazer uma central de venda de boi gordo.

    Como minha praia não é finanças e não entendo nada delas, acredito que seria extremamente útil que quem entende delas tentar trazer alternativas para situações muito difíceis. Como esta dos juros.

    Espero que tenha entendido minha colocação.

    Saudações

    Limão
    (José Roberto Puoli)

  2. Otávio Hernandez Juliato disse:

    Caro Manoel, parabéns pelo seu artigo. Diversas vezes já tentei iniciar este tipo de discussão no fórum deste aclamado site e recebi como respostas brincadeiras referentes à criação de leis especiais para o meu caso e coisas deste tipo (favor ler o tópico LUCRO, no fórum de gerenciamento do Beefpoint).

    Brincadeira à parte, todo negócio deve dar lucro, caso contrário, deve ser substituído por algo que proporcione um retorno maior ao capitalista.

    Você tem toda razão nos argumentos propostos no artigo, ainda não consegui identificar porque o agropecuarista, ou se preferir o empresário do setor agropecuário ,tem tanto receio em avaliar o seu negócio como outro qualquer, afinal de contas é um negócio ou não é? Como premissa deve apresentar lucro, caso contrário…CDB, fUNDOS, ETC
    ..

  3. Otávio Hernandez Juliato disse:

    Caro Manoel, parabéns pelo seu artigo. Diversas vezes já tentei iniciar este tipo de discussão no fórum deste aclamado site e recebi como respostas brincadeiras referentes à criação de leis especiais para o meu caso e coisas deste tipo (favor ler o tópico LUCRO, no fórum de gerenciamento do Beefpoint).

    Brincadeira à parte, todo negócio deve dar lucro, caso contrário, deve ser substituído por algo que proporcione um retorno maior ao capitalista.

    Você tem toda razão nos argumentos propostos no artigo, ainda não consegui identificar porque o agropecuarista, ou se preferir o empresário do setor agropecuário ,tem tanto receio em avaliar o seu negócio como outro qualquer, afinal de contas é um negócio ou não é? Como premissa deve apresentar lucro, caso contrário…CDB, fUNDOS, ETC …

  4. antonio magno garcia ribeiro disse:

    Caro Manoel, com tristeza, venho lutando a anos para perder pouco, pois não há como lucrar numa atividade onde 80% ou mais dos pecuaristas, ignoram o custo de produção de um bezerro até a desmama.

    Tenha certeza, a pecuária no Brasil é o segmento mais atrasado do empresariado brasileiro.