Em uma conferência da indústria de carne bovina em Denver na semana passada, o auditor de saúde animal para a produtora de carne JBS USA apresentou um vídeo mostrando clipes curtos de vacas lutando para caminhar e mostrando outros sinais de dificuldades. Os animais pareciam pisar com cuidado, como se estivessem pisando em metal quente, e mostravam sinais de claudicação, de acordo com quatro pessoas que viram o vídeo.
Em uma conferência da indústria de carne bovina em Denver na semana passada, o auditor de saúde animal para a produtora de carne JBS USA apresentou um vídeo mostrando clipes curtos de vacas lutando para caminhar e mostrando outros sinais de dificuldades. Os animais pareciam pisar com cuidado, como se estivessem pisando em metal quente, e mostravam sinais de claudicação, de acordo com quatro pessoas que viram o vídeo.
As pessoas que estavam presentes disseram que o vídeo foi apresentado pela doutora Lily Edwards-Callaway, chefe de bem-estar animal da JBS USA, como parte de um painel de discussão sobre os prós e os contras de usar uma classe de drogas conhecida como beta-agonistas – aditivos fornecidos aos gados nas semanas antes do abate para adicionar até 30 libras (13,6 quilos) ao peso corpóreo e reduzir a quantidade de gordura da carne.
Edwards-Callaway disse ao público que os animais tinham recebido beta-agonista, mas não identificou qual marca. Ela também disse que vários fatores – incluindo calor, transporte e saúde animal – podem ter contribuído para o comportamento visto no vídeo, de acordo com o porta-voz da JBS, Cameron Bruett. Ele disse que o vídeo mostrou que os animais estavam relutantes em se movimentar e o JBS queria um feedback de especialistas em bem-estar animal, que estavam entre os participantes do evento.
O vídeo foi mostrado no mesmo dia que a maior produtora de carnes dos Estados Unidos, Tyson Foods Inc., declarou que não aceitaria mais animais que tivessem recebido a marca mais popular de aditivos alimentícios, chamada Zilmax, da Merck & Co.
A apresentação da JBS e a decisão da Tyson de proibir bovinos que receberam Zilmax ressaltam os dilemas cada vez mais complexos que o setor agrícola enfrenta à medida que busca produzir maiores volumes de alimentos a custos menores. As tensões aumentaram enquanto se busca cumprir essa meta, incluindo medo sobre bem-estar animal, maior críticas dos defensores dos consumidores e preocupações da indústria sobre o efeito da biotecnologia na qualidade dos produtos, como se a carne ainda tem o marmoreio que alguns consumidores gostam.
Ninguém da Tyson viu o vídeo ou soube de sua existência antes da decisão da companhia de parar de comprar gado que recebeu Zilmax, de acordo com o porta-voz da Tyson, Gary Mickelson.
O Zilmax e o Optaflexx, marca da Elanco Animal Health, divisão da Eli Lilly Co., dominam o mercado de beta-agonistas.
A Merck disse à que sua própria avaliação mostrou que o Zilmax não é a causa dos comportamentos animais vistos nas instalações da Tyson, mas não elaborou mais. A porta-voz da Merck, Pamela Eisele, disse que décadas de pesquisas com o produto mostraram que o Zilmax é seguro para animais, acrescentando que a Merck está trabalhando com a Tyson para determinar porque a empresa observou animais com problemas para caminhar ou mancando em algumas de suas plantas.
O vídeo foi visto dia 7 de agosto na conferência da Associação Nacional de Produtores de Carne dos Estados Unidos. O vídeo foi filmado nos últimos meses, disse Bruett, com câmeras remotas usadas para auditoria de bem-estar animal em uma única instalação operada pela JBS USA, que é uma unidade da JBS SA do Brasil. Ele não identificou a localização dessa instalação. O vídeo foi mostrado com a aprovação de oficiais da JBS USA, alguns deles, presentes na apresentação, disse Bruett.
Guy Loneragan, professor de segurança alimentar e saúde pública da Texas Tech University, que falou durante a conferência de Denver, descreveu o vídeo como constrangedor e disse que não estava claro porque os animais estavam mancando. Loneragan, que é conselheiro de segurança alimentar da JBS, disse que a causa do comportamento dos animais não está clara.
Temple Grandin, que foi pioneira em práticas de abate humanitário prestando consultoria a muitos dos principais processadores de carne dos Estados Unidos, descreveu o vídeo que ela viu durante a apresentação. Um clipe mostrava um animal que não queria se mover e mãos o puxando. Outros, mostravam os animais parecendo duros e letárgicos, disse Grandin.
A droga zilpaterol, ingrediente ativo no Zilmax, é mais forte que os outros beta-agonistas no mercado e surgiu em 2007. A principal rival dela é Elanco Animal Health, que faz drogas baseadas em ractopamina para bovinos, suínos e perus. A Elanco disse que acredita que as preocupações da Tyson são específicas ao Zilmax, uma vez que a empresa continua comprando animais que receberam o Optaflexx, da Elanco.
A Elanco disse que 48 estudos, incluindo mais de 29.000 animais, não mostraram diferenças na mortalidade, doenças ou outras questões de bem-estar entre animais que receberam Optaflexx e aqueles que não receberam.
A Tyson, disse que a companhia viu problemas em seus próprios abatedouros similares aos descritos no vídeo da JBS. Os problemas não foram frequentes, mas foram comuns o suficiente para levantar preocupações, disse Mickelson. Ele disse que a companhia não sabe a causa do problema. Entretanto, ele disse que veterinários independentes e especialistas em bem-estar animal disseram aos oficiais da Tyson que o Zilmax poderia ser o culpado.
O debate sobre o Zilmax segue uma disputa similar sobre a ractopamina. A China e a Rússia proibiram a importação de carne de animais que receberam ractopamina e a gigante do setor de carne suína dos Estados Unidos, Smithfield Foods em maio anunciou que pararia de usar ractopamina em metade de seu rebanho suíno, uma medida vista como um esforço para recapturar o lucrativo mercado chinês. Semanas depois, a Shuanghui International da China anunciou planos para comprar a Smithfield.
A Administração para Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA) considerou os beta-agonistas seguros para a saúde animal e humana. Não há preocupações de segurança animal descritas em nenhum dos estudos feitos antes da agência aprovar o Zilmax em 2006, de acordo com o FDA.
A medida de Tyson de se distanciar do Zilmax marcou uma reviravolta surpreendente para a companhia de Springdale, Arkansas, que foi a primeira companhia de carne de grande escala dos Estados Unidos a defender o uso de aditivos alimentícios.
A gigante do setor de agronegócios, Cargill Inc., que resistiu em comprar animais que receberam Zilmax por preocupações de que a droga degradasse a qualidade da carne, começou a aceitar esses animais em junho de 2012. Em geral, animais tratados com beta-agonistas têm menos marmoreio que é muito valorizado e premiado nos EUA. O porta-voz da Cargill, Michael Martin, disse que a companhia continuaria comprando animais que receberam a droga. Em suas plantas, a Cargill não viu o que a Tyson e o JBS viram, disse Martin.
A National Beef Packing Co, outra importante produtora de carne bovina, disse que aceita animais que receberam Zilmax e que não mudaria suas compras.
Originalmente desenvolvido como medicamentos para asma para humanos, os beta-agonistas – em uma década de uso – ajudaram a impulsionar a capacidade de produzir mais carne bovina com menos animais. Devido à introdução do Zilmax e outros fatores, incluindo melhora na alimentação e na genética animal, a indústria dos Estados Unidos produziu mais de 11,8 bilhões de quilos de carne bovina de 91 milhões de cabeças de gado no ano passado. Em 1952, o rebanho tinha 111 milhões de cabeças de gado produzindo 9,5 bilhões de quilos.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) permite que a carne bovina produzida com beta-agonistas seja rotulada como livre de hormônios, de antibióticos e “natural”, à medida que as drogas não são da mesma classe dos hormônios ou antibióticos promotores de crescimento.
O uso desses medicamentos foram tópico de debates por mais de um ano na indústria pecuária dos Estados Unidos, onde os pecuaristas, donos de confinamentos e produtores de carne geralmente apoiam o uso de biotecnologia para aumentar o ganho de peso no gado.
Embora a decisão da Tyson de parar de processar gado que recebeu Zilmax tenha pego alguns fornecedores de gado de surpresa, a maior produtora de carne do país disse que tinha visto sinais de problemas surgindo à medida que as temperaturas aumentaram no começo do verão. Alguns animais distribuídos às plantas de abate da Tyson tiveram problemas para se mover após serem entregues, de acordo com a companhia e fontes da indústria. Inicialmente, oficiais da Tyson culparam o calor. Em uma carta enviada aos confinamentos no começo do verão, a Tyson pediu cuidados extras com os animais, porque alguns estavam mostrando “sinais de estarem claudicando”, de acordo com uma fonte que leu a carta. À medida que as semanas passaram, os problemas continuaram em uma pequena porcentagem de animais, disse Mickelson. Após consultar veterinários e outros especialistas em saúde animal, a Tyson em 7 de agosto enviou uma segunda carta alertando que pararia de comprar animais que recebam Zilmax.
Não sabemos a causa específica desses problemas, mas alguns especialistas em saúde animal sugeriram que o uso do Zilmax, também conhecido como zilpaterol, é uma possível causa. De qualquer forma, a questão é significativa o suficiente para que acreditarem que a decisão se justifica, afirma Mickelson.
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Fonte: Reuters, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.