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CNA divulga pesquisa sobre agropecuária na visão da sociedade

Para os entrevistados, o setor influencia positivamente na economia do País e se preocupa com o meio ambiente; falta informação quanto à reforma agrária

Conhecer a opinião da sociedade brasileira sobre a agropecuária foi o objetivo da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) ao encomendar a pesquisa Visão da Sociedade Sobre o Setor Agropecuário, ao Vox Populi.

Abrangendo as cinco regiões do Brasil, a pesquisa foi dividida em quatro áreas temáticas: economia, meio ambiente, trabalho e questões fundiárias.

A partir dessas informações, será possível, de acordo com o relatório da pesquisa, saber que temas precisam ser esclarecidos, “superando equívocos que podem eventualmente contribuir para a omissão ou a adoção de políticas públicas inadequadas à atividade produtiva”.

Empregando o método quantitativo, por meio de amostra representativa da sociedade, a pesquisa investigou um público com idade superior a 16 anos, residente em todos os Estados brasileiros, inclusive Distrito Federal, exceto Amapá e Roraima. De acordo com o relatório, os
dados referem-se a cidades de todos os portes e áreas rurais de todos os segmentos socioeconômicos e demográficos. Devido à questão específica da reforma agrária e do MST (Movimento dos Sem-Terra), a pesquisa abrangeu áreas de litígio agrário distribuídas pelo País.

Ao todo, de 27 a 30 de setembro, foram entrevistados 1.998 habitantes de 125 municípios brasileiros, sendo 35 da Região Nordeste; 12 da Norte; 46 da Sudeste; 20 da Região Sul; e 11 da Centro-Oeste. Os resultados têm um intervalo de confiança de 95%, com margem de erro de 2,2% para mais ou para menos.

Resultados

Quanto aos aspectos econômicos, a pesquisa revelou que 32% consideram a agropecuária como o setor que mais cresce no Brasil, atualmente, à frente de serviços/comércio/turismo (30%), indústria 21%, mineração/siderurgia (4%). Não responderam ou não sabiam 7% dos entrevistados.

De acordo com a pesquisa, somente na região Nordeste o setor agropecuário não foi apontado pelos entrevistados como o que mais cresce no Brasil. Nessa região, o que apresenta maior crescimento é o de serviços, comércio e turismo, com 38% das respostas.

Questionados sobre a agropecuária brasileira, 56% dos entrevistados consideraram que está mais desenvolvido que há cinco anos. “Boa parte da sociedade reconhece que o setor está em franco crescimento. Os dados confirmam que a população brasileira percebe a evolução do setor agropecuário”, afirmaram os analistas no relatório da pesquisa. Para 25%, no entanto, não houve mudanças significativas e 11% pensam que está pior que cinco anos atrás.

Em termos de eficiência e cumprimento do papel produtivo, a agropecuária cumpre tal papel mais que cinco anos atrás (59%) ou igualmente (22%).

Quanto a tecnologias e métodos modernos, a pesquisa constatou o reconhecimento de sua utilização no País por 87% dos entrevistados, sendo que 72% pensam que está maior que cinco anos atrás e 15%, que está igual. “Entre as principais tecnologias utilizadas na exploração agropecuária, destaca-se o plantio direto, que evita a erosão do solo, reduz o consumo de energia e água, melhorando a qualidade dos recursos hídricos e se refletindo positivamente na preservação do meio ambiente”, destaca o relatório.

Na opinião de 86% dos entrevistados, a agropecuária ajuda o crescimento econômico e as finanças do Brasil; a imagem do Brasil no Exterior também é ajudada pelo setor para 84%; segundo 78%, a agropecuária colabora para a manutenção do preço dos alimentos, mas há 6% da população para quem a o setor atrapalha a manutenção dos preços, além de 10% considerarem indiferente sua influência.

O padrão de vida ou ganho financeiro dos produtores rurais, hoje, está igual ou menor que há cinco anos para 42% do público investigado, enquanto 46% responderam que está melhor.

Quanto aos atributos do produtor rural brasileiro, 74% o consideraram confiável e com credibilidade, enquanto 15% não manifestaram a mesma opinião. Para 86% dos entrevistados, o produtor é competente, mas 7% responderam que não é. Se para 66% ele é moderno, não o é na opinião de 26%. É bom administrador para 75%, enquanto 11% contrariaram tal opinião. Para 53%, é bem-representado por suas entidades de classe, mas 32% das respostas afirmaram que o produtor rural brasileiro não é bem-representado.

“Nos cruzamentos realizados com dados da pesquisa, percebe-se que o percentual de 52% do total dos entrevistados sobe para 63% na Região Sul e para 59% nas áreas de litígio, demonstrando que, nestas regiões, há maior reconhecimento da atuação das entidades de classe em defesa das questões de interesse do setor agropecuário”, continua o relatório.

Em comparação com as atividades econômicas urbanas, a agropecuária ficou em segundo lugar para 36% dos entrevistados ao serem questionados sobre qual atividade tem mais eficiência e cumprimento do papel de produzir. Para 12%, as duas atividades cumprem tal papel.

Diante de aspectos econômicos como sonegação e inadimplência, 13% dos entrevistados consideraram que a agropecuária é o setor que mais tem sonegação e 16%, mais inadimplência, contra 51% e 46%, respectivamente, para os quais essas práticas são mais encontradas nas atividades urbanas.

Por sua vez, a porcentagem atribuída à agropecuária quanto a ganhos financeiros e padrão de vida elevado também foi menor que a das atividades urbanas: 17% contra 59%.

Outros dados revelam que, para a sociedade, o setor respeita as obrigações trabalhistas mais que cinco anos atrás (43% dos entrevistados), embora 32% pensem que está igual e 13% achem que está pior; a utilização de mão-de-obra escrava está menor que há cinco anos atrás para 38%, mas 52% responderam que está maior ou igual. Sobre trabalho infantil, 47% disseram que está igual ou maior que cinco anos atrás e 45%, que está menor. Para 83%, a agropecuária interfere favoravelmente na geração de empregos, enquanto 4% disseram que atrapalha e 10% que é indiferente.

Quanto ao meio ambiente, o setor respeita e cuida mais do meio ambiente na opinião de 47% das pessoas, mas, para 45%, tem igual ou menor cuidado e respeito.

Tecnologia e métodos modernos são mais empregados na agropecuária, em comparação com atividades urbanas, segundo 43% dos entrevistados; de acordo com 37%, estas últimas usam mais tecnologia e 13% acham que ela está presente em ambas. Na mesma comparação, o setor agropecuário tem mais respeito ao meio ambiente segundo 48% deles, enquanto 19% atribuem esse respeito às atividades urbanas, 13% a nenhuma das duas e 14% a ambas.

Questões fundiárias

Ao serem abordados para falar sobre reforma agrária, menos que 14% destinariam recursos para ela e quase a mesma porcentagem para habitação, enquanto outras áreas como saúde, educação e segurança seriam priorizadas, somando 71,7%.

Apenas 12% se consideraram bem-informados sobre o tema, com destaque para os entrevistados das regiões Sul e Centro-Oeste; 36% afirmaram estar mais ou menos e 51%, mal-informados. Entretanto, para 78%, a reforma teria conseqüências mais positivas para o País, ao passo que 7% a consideraram negativa e 7%, indiferente.

Na opinião de 44%, a reforma agrária deveria ser feita a partir de desapropriações, pela Justiça e pelo governo, de terras improdutivas; 40% responderam que o governo deveria promovê-la por meio de empréstimos, e 7% pensam que terras de fazendeiros deveriam ser desapropriadas pelo governo e pela Justiça.

Segundo 70% do público investigado, as terras improdutivas serviriam à reforma agrária, e 14% responderam que qualquer propriedade poderia ser desapropriada para tais fins. Por outro lado, para 10%, isso não deveria acontecer com nenhuma propriedade.

As opiniões sobre os assentamentos revelam que, para 57% da sociedade, ainda não deram certo, mas darão; para 18%, deram certo. Em contrapartida, 14% responderam que não deram e nem darão certo.

Ao serem questionados se sabiam de propriedades do governo que poderiam ser usadas para a reforma agrária, 80% responderam que sim e 8%, que não.

Para 50%, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem atuado de maneira positiva diante da questão, mas 11% disseram que sua atuação tem sido negativa, 19% que é inexistente e 20% afirmaram não ter informação suficiente a esse respeito. Mais que 50% afirmaram acreditar que tal atuação é responsável pelo aumento das invasões, enquanto 36% o eximiram dessa responsabilidade.

Quanto ao MST, 14% consideraram sua atuação positiva, 34%, regular, e 45%, negativa. Enquanto, para 23%, é um movimento pacífico e para 15%, nem pacífico, nem violento e na opinião de 58% dos entrevistados, o MST é violento. A mesma porcentagem respondeu que suas causas são políticas, contra 28% para os quais o MST pensa nos resultados sociais; para 8%, o movimento quer resultados tanto sociais quanto políticos.

Entre as afirmações “as invasões/ocupações de terras e prédios públicos realizadas pelo MST são uma forma certa para resolver os problemas sociais dos Sem Terra” e “essas invasões/ocupações são uma forma errada porque desrespeitam as leis e perturbam a ordem pública no País”, 18% optaram pela primeira, enquanto 75% afirmaram concordar com a segunda.

O produtor rural que tem terras invadidas tem o direito de reagir na opinião de 73%, enquanto 20% discordaram.

A pressão que o movimento tem feito sobre o governo Lula é mais forte segundo 53% dos entrevistados; para 26%, está igual; e apenas 11% disseram que está menos intensa que no governo anterior.

A pesquisa pode ser acessada no site da CNA (www.cna.org.br).

Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Parabéns à equipe do BeefPoint pelo ótimo resumo sobre a pesquisa promovida pela CNA.

    Os resultados são animadores quanto à sensibilidade dos entrevistados para a situação da agro-pecuária no país.

    Chama a atenção o reconhecimento pela sociedade do empenho dos produtores pela agricultura de conservação baseada no plantio direto com suas consequencias positivas para o país.

    Grande abraço