Os microorganismos ruminais são capazes de quebrar compostos com NNP em amônia, durante o processo de fermentação ruminal. A amônia liberada é ligada a produtos oriundos do metabolismo de carboidratos, formando aminoácidos, e posteriormente proteínas. As proteínas formadas dessa forma, são semelhantes às proteínas verdadeiras disponíveis nos alimentos utilizados nas formulações de ração, como por exemplo o farelo de soja. Essas proteínas são utilizadas para crescimento por bactérias e protozoários no rúmen, sendo posteriormente digeridos no intestino, e utilizados pelo organismo animal. Dessa forma, os ruminantes são capazes de utilizar quantidades consideráveis de NNP como proteína verdadeira, devido à presença de microorganismos e a fermentação no rúmen, o que se torna impossível aos monogástricos devido à falta de enzima especifica a essas funções.
Diversos alimentos utilizados na formulação de dietas para bovinos possuem frações de NNP na sua composição. As forragens, conservadas como silagem, podem possuir até 50% do nitrogênio como NNP, já forragens conservadas na forma de feno, possuem aproximadamente 10-20% do nitrogênio na forma de NNP. A uréia é a principal fonte comercial de NNP utilizada em dietas de bovinos, porém algumas outras fontes, como sais de amônia e produtos amoniatados (subprodutos enriquecidos), são utilizadas em menor escala.
Fatores que influem na utilização de NNP (uréia) pelos ruminantes
Se considerados os fatores isoladamente, a disponibilidade de carboidratos rapidamente degradáveis no rúmen é o fator mais importante, influindo na capacidade de utilização de NNP pelos microorganismos ruminais. Dietas ricas em energia digestível (concentrado) possibilitam melhor utilização do NNP da dieta em relação às dietas exclusivas de forragem. A utilização de suplementos ricos em nutrientes digestíveis totais (NDT) para animais em pastejo, vai proporcionar melhor utilização da uréia disponível ao animal.
A utilização de uréia constantemente nas dietas proporciona melhor utilização da uréia pelos bovinos. Isso ocorre devido o fato da adaptação dos microorganismos ruminais, responsáveis pela transformação da uréia em amônia. Após o período de adaptação, maiores quantidades da enzima responsável pela quebra da molécula de uréia em amônia estão disponíveis, possibilitando maior eficiência no processo. Além disso, menores quantidades de ingestão, dificilmente excedem a capacidade de síntese de proteína dos microorganismos ruminais, o que pode acontecer quando da ingestão de grandes quantidades de alimentos de uma só vez. O número de fornecimentos dieta/dia para animais confinados é bastante importante, sendo que quanto maior for o número de fornecimentos/dia, melhor será a utilização da uréia pelos microorganismos ruminais.
A mudança de fontes de proteína verdadeira por NNP, altera as quantidades e a qualidade dos minerais disponíveis na dieta. Alguns minerais, como o fósforo e enxofre, são utilizados na síntese protéica, e portanto são limitantes a sua formação. Muita atenção deve ser dispendida à suplementação mineral para melhor utilização da uréia pelos bovinos.
O aumento da concentração de zinco no líquido ruminal pode retardar a liberação de amônia no rúmen, através da inibição da urease (consultar radar técnico “Alta concentração de zinco pode melhorar a utilização de uréia por bovinos” – 09/03/2001)
A atividade da enzima urease é alterada devido a diversos fatores como a concentração de uréia, amônia e certos minerais no rúmen. A suplementação com zinco leva à diminuição na liberação de amônia no rúmen, sem afetar os níveis de ingestão de matéria seca e de digestibilidade da dieta (Arelovich et al., 2000).
A intoxicação por uréia pode acontecer nos casos de utilização de grande quantidade de uréia na dieta. Erros de cálculo das quantidades a serem incluídas na dieta e falhas na mistura, são acontecimentos comuns nos casos de intoxicação por uréia. Outra situação comum de intoxicação por uréia em bovinos de corte é na utilização de cochos descobertos, e sem drenagem. Em caso de chuva, a uréia é dissolvida formando uma solução com altas concentrações de amônia. A ingestão dessa solução pelos animais leva a ingestão de grande quantidade de amônia, causando intoxicação.
Os sintomas de intoxicação por uréia salivação excessiva, respiração acelerada, timpanismo, tremores musculares e incoordenação motora.
Recomendações de quantidades de uréia e ser utilizada para se evitar intoxicação em bovinos de corte
O fornecimento de uréia para bovinos deve ser feito com um período prévio de adaptação nos casos de animais que não estão recebendo uréia na dieta. O período de adaptação vai variar com a quantidade final a ser fornecida. Deve-se iniciar com 1/3 da quantidade final a ser fornecida por um período de 5-7 dias, passando depois para 2/3 da quantidade final por mais 5-7 dias, e logo após esse período pode-se fornecer a quantidade total pretendida.
Ração total
Suplementos alimentares
Referências bibliográficas
ARELOVICH, H.M.; OWENS, F.N.; HORN, G.W.; VIZCARRA, J.A. Effects of supplemental zinc and manganese on ruminal fermentation, forage intake, and digestion by cattle fed praire hay and urea. J. Anim. Sci., v. 78, p. 2972-2979, 2000.
STANTON, T.L. Urea and NPN for cattle and sheep. Livestock Series. Colorado State University – Cooperative Extension, 6/98, 2003.
1 Comment
Sem dúvida um artigo de grande importância.
Através deste tipo de informação, o pensamento de muitos pecuaristas em relação a utilização de uréia na nutrição animal tende a ser revisto.
Para muitos, a uréia é normalmente um ingrediente nocivo, e é totalmente o contrário, utilizada de forma correta tráz grandes benefícios para o animal.
Parabéns pelo excelente artigo!
Abraços!