No dia seguinte ao anúncio da fusão entre Marfrig e BRF, as ações da empresa fundada pelo empresário Marcos Molina subiram 21,35% na B3, e a companhia ganhou R$ 3,78 bilhões em valor de mercado na sexta-feira. As da BRF passaram boa parte do dia em queda e fecharam com alta, de 0,78%, o que levou a um aumento de R$ 270 milhões no valor de mercado da empresa.
Embora seja consenso entre analistas que a operação que criará a MBRF é capaz de destravar valor para o grupo, abrindo portas para um crescimento a nível global, a perspectiva de que os acionistas da BRF tenham perdas momentâneas penalizou os papéis da empresa dona da Sadia em parte da sexta-feira.
Isso porque os acionistas da BRF terão diluição em sua participação, pois a transação prevê a incorporação das ações da empresa pela Marfrig em uma relação de troca de 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF. Assim, se um investidor tem 100 ações da BRF, ele passará a ter 85 papéis da Marfrig.
Apesar da diluição decorrente da fusão, há “sinalização bem forte dos principais acionistas de apoio à operação”, disse Marcos Molina, controlador e presidente dos conselhos de administração das duas companhias, em teleconferência com analistas para comentar o anúncio na sexta-feira.
Sobre a estrutura definida para a troca das ações, o vice-presidente de finanças e relações com investidores da BRF, Fábio Mariano, explicou, na teleconferência, que as duas companhias criaram comitês e contrataram bancos de primeiro escalão que fizeram o cálculo. No caso da BRF, foi o Citibank.
Mariano citou que o segundo maior acionista da BRF — em referência ao fundo árabe Saudi Agricultural and Livestock Investment Company (Salic) — tem participação em torno de 11,6% e, com a fusão, passaria a 10,6% por causa da diluição de ações.
“Se você tivesse uma relação de troca de 1 para 1, você manteria sua participação na empresa combinada, e na estrutura proposta com essa relação de troca haverá uma diluição limitada a esses 8%”, disse o executivo.
Os acionistas que concordarem com a fusão também receberão proventos. A BRF distribuirá até R$ 3,52 bilhões e a Marfrig, por sua vez, distribuirá R$ 2,5 bilhões.
Segundo Mariano, não há expectativa de que os acionistas da Marfrig saiam de suas posições. Nas duas empresas, se houver acionista que decida não acompanhar a combinação de negócios, há a opção de se retirar da ação, o chamado “direito de recesso”. Quem exercer esse direito não receberá os proventos adicionais da fusão.
Marco Saravalle, estrategista-chefe da MSX Invest, observou que, em caso de saída das ações, os valores de reembolso foram definidos em R$ 3,32 por ação da Marfrig e R$ 19,89 por ação para BRF. “Isso, em nossa visão, estabelece um piso para os papéis, especialmente os da BRF”, afirmou.
Na avaliação do estrategista, como a Marfrig já é controladora da BRF, ela terá um forte poder de voto na assembleia e, portanto, a aprovação da fusão é “praticamente certa”.
O BB Investimentos alertou, também, que o investidor da BRF que aceitar a fusão passará a ter participação em uma empresa com maior alavancagem financeira e exposição significativa ao mercado de carne bovina na América do Sul e América do Norte — negócios atualmente com rentabilidade inferior às operações da BRF.
“O movimento societário tem fundamentos estratégicos sólidos, mas entendemos que, no curto prazo, o acionista da BRF estará assumindo mais riscos”, afirmou o BB, em relatório assinado pela analista Georgia Jorge.
Para os acionistas da Marfrig, no entanto, o BB enxerga o movimento como positivo desde o início, “considerando que a companhia resultante da combinação dos negócios fortalece sua presença global e de diversificação de proteínas, elevando sua participação na companhia que está contribuindo com a maior rentabilidade para o resultado operacional”.
A analista do banco de investimentos projeta um destravamento de valor para os acionistas da Marfrig, bem como uma redução na alavancagem.
Nesse sentido, o BTG Pactual classificou a proposta de fusão entre a Marfrig e a BRF como “a terceira potência global de proteínas”, atrás apenas de JBS e Tyson, e em linha com o conglomerado chinês WH Group.
Os analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris, do BTG, disseram, porém, em relatório, que as sinergias obtidas com a combinação dos frigoríficos são restritas. Marfrig e BRF preveem uma economia anual de R$ 485 milhões com integração de cadeia de suprimentos, além de R$ 320 milhões em ganhos logísticos e comerciais. O principal impacto viria da eficiência fiscal, com valor presente líquido projetado de R$ 3 bilhões.
“Planejamos revisar nossas estimativas e recomendações após maior clareza sobre a adesão dos acionistas minoritários e estrutura final da companhia combinada”, escreveram no relatório.
Fonte: Globo Rural.