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Pecuaristas seguram boi e questionam queda da arroba

Enquanto a indústria exportadora de carne bovina projeta as perdas bilionárias com as tarifas dos Estados Unidos, no campo, o efeito da medida no preço do boi gordo foi sentido de forma imediata. “A nossa grande dor é ter visto os preços despencarem cerca de 10% no dia seguinte ao anúncio [das tarifas]”, relata Guilherme Bumlai, presidente da União Nacional de Pecuária.

O dia seguinte, mencionado por Bumlai, não foi a oficialização da quarta-feira, 30, mas sim, o dia 09 de julho, quando Donald Trump anunciou que aplicaria as tarifas de 50% sobre o Brasil.

Desde então, os pecuaristas acompanharam um declínio no preço do boi gordo. “Os frigoríficos fizeram uma redução drástica no valor da arroba do boi. E, nós temos uma visão que, embora os EUA sejam um mercado de extrema importância para a exportação de carne bovina, não haveria nexo para essa baixa da arroba imediatamente”, explica Guilherme que tem produção em Corumbá (MS).

Segundo ele, o abate deveria continuar normalmente, nas mesmas proporções, pois outros cortes de carne precisam ser produzidos para atender a população brasileira e os demais países. “Então, não há que se falar em redução de abate ou consequente aumento de oferta de carne que poderia interferir nos preços”, diz.

Bumlai reconhece que os EUA são um destino importante em termos financeiros para o Brasil — US$ 1,04 bilhão somente no primeiro semestre deste ano —, no entanto, argumenta que o volume exportado em toneladas pode ser compensado por outros mercados, inclusive o interno. “Nós temos dois parâmetros para analisar: o volume financeiro e o volume físico, em toneladas. O primeiro, claro, sofre um impacto direto, mas, em volume, essa carne pode ser realocada para outros países e até mesmo para o consumo dentro do Brasil”, acredita.

Cautela

Diante do cenário de incerteza, a União Nacional de Pecuária decidiu adotar uma postura cautelosa. A orientação para os produtores associados tem sido clara: vender apenas o estritamente necessário para cumprir seus compromissos financeiros e aguardar a estabilização do mercado. “Acreditamos que, principalmente por estarmos entrando na entressafra, os preços possam retomar nos próximos dias. Nesta semana, inclusive, já começamos a ver sinais de recuperação”, conta.

O presidente da União se refere ao período do ano em que a oferta de animais prontos para o abate costuma ser menor, o que naturalmente impulsiona os preços da arroba do boi gordo. 

Essa desconexão entre o anúncio das tarifas e a queda repentina dos preços foi percebida também por outros produtores em diferentes outras partes do país. É o caso de Regina Moraes, que há mais de 20 anos trabalha com pecuária de corte na região do Vale do Guaporé, em Pontes e Lacerda (MT). 

Ela viu o mercado recuar de forma repentina, mas mantém aposta na recuperação. “A gente entende que o mercado não tem essa carne sobrando. A população que vai consumir continua a mesma. Então, essa comida vai se realocar”, afirma Regina, que atua com recria e engorda de cerca de 5 mil cabeças de gado, atendendo principalmente grandes frigoríficos exportadores como Minerva, JBS e BMG.

Apesar da perspectiva positiva, ela adotou algumas medidas de contenção na fazenda, como retardar o abate dos bovinos. “Como a gente trabalha com bastante terminação, a estratégia foi segurar os animais que poderiam ser abatidos em outubro ou novembro. Vamos tentar empurrar para dezembro ou janeiro, quando acreditamos que o mercado vai estar mais estável”, explica.

Fonte: Estadão.

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