Sob a alegação de que o boi em pé na Argentina está com preços convidativos, os compradores de gado no Brasil, notadamente em São Paulo, Sul do Mato Grosso do Sul, Sul de Goiás e Triângulo Mineiro, em conjunto, derrubaram as ofertas de compra.
A queda
Em São Paulo a queda foi expressiva, de R$47,00 para R$44,00/@, no Mato Grosso do Sul foi de R$ 44,00 para R$41,00/@, no sul de Goiás de R$43,00 para R$41,00/@ e no Triângulo Mineiro de R$45,00 para R$42,00/@.
Para facilitar, vamos tomar a praça de São Paulo como referência.
Conseqüências
Essa redução instantânea das ofertas de compra reduziu o preço da arroba, de US$19,50 para US$19,20/@. Nesse aspecto, é bom observar que a moeda norte-americana desvalorizou-se nesse período.
O resultado dessa estratégia de compra foi a redução cavalar no volume de gado ofertado, o estabelecimento de escalas de abate virtuais, com os frigoríficos tendo que trabalhar sem programação e a conseqüente diminuição da oferta de carne com osso para o mercado atacadista.
Argentina
O mercado vive mais de boatos que de fatos.
Na prática, o volume de carne importado da Argentina, pelo Brasil, é insuficiente para promover alterações nos preços no País, pelo menos de maneira natural. Portanto, a redução de preços vivida atualmente é artificial, levando a crer que os compradores se cartelizaram.
Segundo o Sindicato do Frio do Estado de São Paulo, o Brasil importou, em 2001, da Argentina, praticamente somente cortes de picanha, algo perto de 45 mil toneladas.
Em 2001, foram informados mais de 2 mil casos de febre aftosa na Argentina e o país só pode exportar para o Brasil carne desossada cuja origem esteja distante 30 km desses focos. Portanto, apenas uma parcela do país é potencialmente exportadora, o resto não.
O consumo interno de carne bovina na Argentina, apesar da crise econômica, não caiu e permanece estável, destruindo a expectativa de que parcelas, além das tradicionalmente disponíveis, seriam direcionadas para a exportação.
Se o valor da arroba do boi gordo argentino atualmente está interessante, também é por falta de compradores. No caso de uma corrida por esse boi, aumentando a demanda, os preços sobem, tornando o negócio desinteressante.
A Argentina passa por uma série crise econômica e política e esse fato deve prejudicar as exportações como um todo, inclusive as de carne bovina, favorecendo a cadeia brasileira. O câmbio tem flutuado intensamente paralisando os negócios. A instabilidade monetária faz com que a arroba do boi gordo argentino varie, por exemplo, 36,5% num espaço curto de tempo, de US$8,50, no dia 26 de março, para US$11,60, no dia 2 de abril. Vá negociar nesse ambiente.
Brasil
Mas, a crise é lá e não aqui. Pelo menos desta vez o Brasil não sofreu o efeito do “dia seguinte”.
O tamanho do rebanho brasileiro está estável, talvez até tenha encolhido, uma vez que os preços dos animais de reposição não apresentam sinais de desaquecimento. Isso indica que a base de matrizes continua restrita, não atendendo a demanda.
O consumo interno responde por 90 a 95% do que o Brasil produz – excepcionalmente as exportações responderam em 2001 por mais de 10% – não justificando portanto uma paridade de preços Brasil x Argentina para a sobrevivência da pecuária nacional. Talvez seja mais interessante para o Brasil a importação de animais de reposição e não de carne desossada, com alto valor agregado.
Por fim, as exportações neste primeiro trimestre foram bem, obrigado, batendo recordes em volume embarcado.
Preço da arroba
A estratégia dos compradores deteve um movimento de alta que apontava para cotações acima de R$47,00/@.
A resistência dos produtores é inusitada e estabeleceu-se um impasse. Somente a vontade de vender ou não a produção é que vai determinar o valor recebido pela arroba do boi gordo. E essa decisão está na mão do pecuarista.