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MT: indústria enfrenta a pior crise da década

Dez plantas fechadas, dois pedidos de recuperação judicial, dívidas de R$ 40 milhões e oito mil demissões. Este é o quadro atual da indústria frigorífica de Mato Grosso, que foi duramente atingida pela crise financeira mundial, pela redução da oferta de bois e pela valorização do preço da arroba. O superintendente da Acrimat, Luciano Vacari reforça que a crise mundial afetou a cadeia pecuária e admite que a indústria foi a parte mais afetada, quanto ao problema da inadimplência de alguns frigoríficos ele ressalta que a Associação, até o momento, não pretende tomar nenhuma medida judicial e acredita em uma solução pacífica.

Dez plantas fechadas, dois pedidos de recuperação judicial, dívidas de R$ 40 milhões e oito mil demissões. Este é o quadro atual da indústria frigorífica de Mato Grosso, que foi duramente atingida pela crise financeira mundial, pela redução da oferta de bois e pela valorização do preço da arroba, acima de 60% – passou de R$ 56, em 2007, para R$ 90, em julho de 2008.

“Sofremos toda sorte de adversidades tanto aqui dentro [mercado interno] quanto lá fora. O resultado disso tudo não poderia ser outro: estamos vivendo a pior crise dos últimos 10 anos, com prejuízos econômicos e sociais para os frigoríficos, funcionários e toda a sociedade”, resume o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado (Sindifrigo), Luiz Antônio Freitas Martins.

Segundo ele, a indústria frigorífica – que chegou a gerar 24 mil empregos diretos no ano passado – conta atualmente com apenas 16 mil funcionários ativos, um corte de 33,33%.

As dez plantas fechadas representam em torno de sete mil animais que deixam de ser abatidos diariamente, o equivalente a uma movimentação de R$ 8,56 milhões/dia. E a perspectiva para 2009 é de desaceleração da atividade como reflexo direto da crise.

“Na verdade, a falta crédito para os importadores refletiu diretamente nas vendas dos frigoríficos. Deixamos de exportar um volume maior e passamos a receber menos pelas vendas. Estamos trabalhando com margens achatadas, quase impraticáveis”.

“O nosso custo operacional é elevado e a indústria acaba sendo penalizada, pois não pode repassar [a alta] para os clientes. Precisamos buscar a equalização dos preços do boi no mercado interno para sairmos deste aperto e trabalharmos de uma forma mais tranqüila”, aponta Martins.

A tendência, na avaliação de Martins, é o volume de abates continuar baixo, com perda maior para os frigoríficos.

“Até mesmo o preço do couro, que faz parte da planilha de custos da indústria, está muito abaixo da média. Para se ter uma ideia, chegamos a vender o quilo do couro por R$ 3,40 e, agora, esta cotação despencou para R$ 0,60, perda de 82,35%”.

Entre as perdas para a indústria está a redução de 29,26% no volume de abates, que caiu de 5,30 milhões de cabeças, em 2007, para 4,10 milhões no ano passado, de acordo com levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea). Com isso, a produção de carne sofreu recuo de 21,60%, passando de 1,2 milhão de toneladas para 948 mil toneladas.

Outro indicador de que a atividade não encerrou bem o ano é o volume disponível de carne no mercado, que encolheu de 903 mil toneladas em 2007 para 227 mil toneladas no ano passado, representando um declínio de 74,86% no período.

Inadimplência

O presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado (Sindifrigo), Luiz Antônio Freitas Martins, afirmou que o problema da inadimplência na indústria frigorífica “é pontual” e afeta apenas as plantas do Grupo Arantes Alimentos e Quatro Marcos. “É uma questão pontual, não posso falar pelos frigoríficos, mas acredito que eles têm motivos para terem pedido recuperação judicial”.

Ele diz que apesar das dificuldades, os frigoríficos instalados em Mato Grosso procuram honrar seus compromissos com os pecuaristas. “Sempre procuramos trabalhar de forma idônea e com a maior honestidade e transparência possível. Esta sempre foi a nossa preocupação na busca de uma relação saudável e produtiva com nossos fornecedores”, disse ele.

O superintendente da Acrimat, Luciano Vacari reforça que a crise mundial afetou a cadeia pecuária e admite que a indústria foi a parte mais afetada. “As indústrias estão passando por dificuldades de crédito. No final do ano passado, vimos dois grandes grupos – Frigorífico Quatro Marcos e Arantes Alimentos – pedindo recuperação judicial. Não pensamos em medida judicial contra eles porque estamos negociando e acreditamos em uma solução pacífica”.

A matéria é de Marcondes Maciel, publicada no jornal Diário de Cuiabá, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

0 Comments

  1. Cassio Bueno Rodrigues disse:

    Eu acredito na recuperação e tambem no aprendizado, ainda acho que nossas industrias foram pegas de surpresa no ambito de atendimento e fornecimento, pois vi muitos gerentes de exportação não receber muito bem aqueles que chegavam com pedidos de cotação, diziam que estavam com pessoas já no mercado lá fora vendendo. O que foi grave, foi onerar o pecuarista com custos embutidos desde a água dos animais, até no pneu do caminhão de tarnsporte do gado, sem falar no modelo já falido de compra, abate, corte e valorização do produto.

    Então neste deserto que temos que atravessar porque não pegar os expostos 2 frigorificos na recuperação, e fazer um seminário ” como não fazer, não achar e não abusar”, deverá se tornar livro, depois da biblia a publicação mais lida do nosso meio.

    O Brasil ainda engatinha,quebra o gelo nas relações humanas,e chega de colocar gente em cargos,e esta turma entra na fogueira das vaidades,ai quebra a cara.

  2. Leandro Augusto Massai disse:

    Não podemos por tudo no mesmo saco, mas a Arantes Alimentos em dezembro de 2008 estava descontando NPR a 7%.

    O funrural, 2,3% descontados dos pecuaristas no momento do pagamento, está sendo depositado em juizo por alguns frigoríficos, com a alegãção de que não suportam o encargo, sendo assim não teriam de repassá-lo. Que absurdo.

    Quando a bomba estourar teremos nós pecuaristas que pagar a conta novamente, vem salgada. A descriminação de retenção de 2,3% deve estar especificada em nota fiscal entregue a pecuaristas, qual o valor jurídico das mesmas?