As doenças cardiovasculares afetam um em cada três norte-americanos adultos e é a principal causa de mortalidade. Estima-se que as doenças cardiovasculares custaram, ao sistema de cuidados com a saúde dos EUA, US$ 431,8 bilhões em 2007. Vários fatores de risco estão associados com as doenças cardiovasculares. Esses incluem genética, histórico familiar de doenças cardiovasculares prematuras, tabagismo, níveis anormais de lipídeos sanguíneos, hipertensão, diabetes, obesidade abdominal, inatividade física e excesso de consumo de álcool. Como recomendado pela AHA, as pessoas devem buscar melhorar sua dieta geral para garantir a adequação de nutrientes e um balanço energético, ao invés de focar em um único nutriente ou alimento.
As doenças cardiovasculares afetam um em cada três norte-americanos adultos e é a principal causa de mortalidade (1). Estima-se que as doenças cardiovasculares custaram, ao sistema de cuidados com a saúde dos EUA, US$ 431,8 bilhões em 2007 (1). Vários fatores de risco estão associados com as doenças cardiovasculares. Esses incluem genética, histórico familiar de doenças cardiovasculares prematuras, tabagismo, níveis anormais de lipídeos sanguíneos (isto é, alto colesterol total e colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e baixo nível de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL), além de altos níveis de triglicerídeos), hipertensão, diabetes, obesidade abdominal, inatividade física e excesso de consumo de álcool (1,2).
As recomendações dietéticas para obter perfis de lipídios sanguíneos desejáveis e reduzir os riscos de doenças cardiovasculares incluem uma redução nas gorduras total, gordura saturada, gordura trans e colesterol (2-4). Para ajudar a cumprir com essas recomendações, as pessoas são aconselhadas a fazer mudanças dietéticas, sendo que uma delas é escolher carnes magras ao invés de carnes gordas. Infelizmente, males-entendidos sobre a composição de gordura da carne bovina magra e a falta de conscientização sobre um crescente grupo de evidências científicas relacionadas à carne bovina magra e a saúde do coração têm levado a uma restrição desnecessária desse alimento denso em nutrientes da dieta.
Não há evidências diretas de que a carne bovina magra consumida como parte de uma dieta saudável para o coração aumente o risco de doenças cardiovasculares (5,6). De fato, estudos clínicos mostraram que é desnecessário substituir completamente a carne vermelha magra por peixe ou carne de aves para se obter níveis desejáveis de lipídios sanguíneos (7,8). A inclusão de carne bovina magra em uma dieta visando redução de lipídeos e saúde do coração contribui para a ingestão de nutrientes essenciais como ferro, zinco e vitaminas do complexo B e pode melhorar a aceitação dessas dietas devido ao maior alcance de opções de alimentos.
Recomendações dietéticas para reduzir doenças cardiovasculares
O guia dietético de várias organizações de saúde é consistente em suas recomendações para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares e melhorar a saúde geral. Por exemplo, a Associação Americana do Coração (AHA) estimula uma dieta saudável no geral e um estilo de vida saudável para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares na população (2).
Com relação à gordura da dieta, a AHA recomenda uma ingestão total de gordura de 25% a 35% das calorias, <7% de calorias vindas de gordura saturada, <1% das calorias vindas de gorduras trans e <300 mg/dia de colesterol (2). As gorduras saturadas da dieta (com notável exceção do ácido esteárico) e os ácidos graxos trans (com possível exceção de ácidos graxos trans derivados de ruminantes) aumentam os níveis de colesterol LDL, um fator de risco para doenças cardiovasculares (2). Recentemente, recomendações baseadas em evidências foram divulgadas para a prevenção de doenças cardiovasculares em mulheres (3). Essas diretrizes estimulam todas as mulheres a limitar a ingestão de gordura saturada para menos de 10% das calorias e, se possível, para menos de 7% das calorias (3). Similarmente, o Painel de Especialistas do Programa Nacional de Educação sobre Colesterol (NCEP, da sigla em inglês) recomenda que todas as pessoas com alto risco de doenças cardiovasculares reduzam a ingestão de gorduras totais para 25% a 35% das calorias, <7% das calorias vindas de gorduras saturadas e <200 mg/dia de colesterol (4). As recomendações acima são similares àquelas divulgadas pelo Instituto de Medicina (9) e pelo Guia Dietético para Americanos 2005 (10), que aconselha a ingestão de gordura total de 20% a 35% das calorias, <10% das calorias de gorduras saturadas, consumo do mínimo possível de gorduras trans e <300 mg/dia de colesterol. Para pessoas com risco de doenças cardiovasculares, o Guia Dietético recomenda menores ingestões (<7% das calorias) de gorduras saturadas e colesterol (<200 mg/dia) (10). O atual guia dietético para reduzir a ingestão de gordura recomenda um plano de alimentação no qual os alimentos como frutas e vegetais, grãos integrais, legumes, nozes e sementes, carnes magras, carnes brancas, produtos lácteos com baixo teor de gordura, e peixes, são encorajados ao invés de escolhas de alimentos pobres em nutrientes e densas em calorias (2,10). Como recomendado pela AHA, as pessoas devem buscar melhorar sua dieta geral para garantir a adequação de nutrientes e um balanço energético, ao invés de focar em um único nutriente ou alimento (2). Nutrientes da carne bovina
Perfil de lipídios da carne bovina
A carne bovina magra contém menos de 10 gramas de gordura total, não mais de 4,5 gramas de gordura saturada e menos de 95 mg de colesterol por porção de 85 gramas, um perfil nutricional que se encaixa ao de uma dieta saudável para o coração (11,12). Baseado nas recomendações dietéticas da AHA, indivíduos consumindo uma dieta de 2.000 calorias são aconselhados a consumir entre 56 g e 78 g de gordura total e 16 g ou menos de gordura saturada. Como informado acima, uma porção de 85 gramas de carne bovina magra contém níveis de gordura total e saturada bem abaixo desses limites e os níveis de colesterol abaixo da recomendação de <300 mg/dia. O perfil de gordura da carne bovina magra é frequentemente mal entendido. Na carne bovina magra, 54% dos ácidos graxos são monoinsaturados (MUFA) ou poliinsaturados (PUFA), que são os tipos preferidos pelos profissionais de saúde e agências governamentais, como a AHA (2) e o Guia Dietético para Americanos (10). Além disso, um terço da gordura saturada da carne bovina consiste de ácido esteárico, que, diferentemente de outros ácidos graxos saturados de cadeia longa, tem mostrado ser neutro nos efeitos sobre os níveis de colesterol sanguíneo em humanos (14,15). Além disso, a carne bovina contém naturalmente baixas quantidades de ácidos graxos trans e evidências sugerem que a gordura trans de ruminantes, diferentemente da gordura trans produzida industrialmente em óleos vegetais parcialmente hidrogenados, não aumenta o risco de doenças cardiovasculares e, de fato, pode ter um efeito favorável à saúde (13,16). Descobertas emergentes de estudos animais experimentais sugerem que a gordura trans, o ácido linoléico conjugado (CLA) particularmente o ácido rumênico que é produzido na carne bovina, pode ter uma influência favorável nos níveis de lipídios sanguíneos e risco de doenças cardiovasculares (17,18). Entretanto, os efeitos do CLA e, em particular seus isômeros individuais, nos níveis de lipídios e no risco de doenças cardiovasculares em humanos ainda precisam ser determinados.
Outros nutrientes da carne bovina
A carne bovina é uma excelente fonte de vitamina B12 e uma boa fonte de vitamina B6. Ingestões adequadas de vitamina B6, vitamina B12 e ácido fólico são necessárias para manter concentrações ótimas sanguíneas de homocisteína (aminoácido que, em excesso no sangue, provoca aumento do risco de coágulos e entupimento das artérias, além de contribuir para a formação de depósitos de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos, aumentando sua rigidez e dando origem à chamada aterosclerose) (2,19). Estudos observacionais mostraram que o maior nível sanguíneo desse aminoácido esteve associado com o maior risco de doenças cardiovasculares (2). As maiores ingestões de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12 podem reduzir os níveis sanguíneos de homocisteína (20).
Apesar de ter sido anteriormente levantada a hipótese de que os consumos de produtos de origem animais aumentariam os níveis de homocisteína no sangue, descobertas emergentes de estudos observacionais indicam que o consumo de carnes está inversamente associado com os níveis de homocisteína do sangue (21-24).
Um estudo de intervenção aleatório, controlado mostrou que uma dieta rica em proteína de carnes magras e produtos lácteos não aumenta os níveis de homocisteína do sangue, mas, ao invés disso, resultou em um decréscimo não significante de 25% nos níveis comparado com uma dieta pobre em proteína (25). Mais estudos clínicos são necessários para determinar se a ingestão de carnes vermelhas como a carne bovina reduz esse potencial biomarcador de risco de doenças cardiovasculares.
A carne bovina também é uma excelente fonte de selênio, um elemento traço com propriedades anti-oxidantes. Evidências sugestivas de estudos observacionais indicam que baixas concentrações de selênio estão associadas com maior risco de doenças cardiovasculares (26).
A carne bovina é uma boa fonte de ferro. Apesar da sugestão de que o ferro da dieta é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (27), o Instituto de Medicina dos EUA concluiu que uma série de evidências não fornece suporte convincente para uma relação causal entre o nível de ferro da dieta e o risco de doenças cardiovasculares (28). A absorção do ferro é bastante regulada e existem poucas evidências de que a ingestão de ferro típica da dieta dos EUA leva a altos estoques desse elemento em indivíduos saudáveis (29).
Além disso, estudos epidemiológicos visando relacionar os altos estoques de ferro no corpo com a incidência de doenças cardiovasculares produziram descobertas contraditórias (30,31). Nenhum estudo de intervenção investigou o efeito dos estoques de ferro na incidência de doenças cardiovasculares. Da mesma forma, não existem evidências convincentes de que fontes dietéticas de ferro, como carne bovina ou carnes vermelhas, estejam associadas com doenças cardiovasculares em pessoas saudáveis. Os que propõem a hipótese de que ferro contribui para doenças cardiovasculares sugerem que o excesso de ferro promove essas doenças iniciando danos oxidativos e inflamação.
Entretanto, um estudo clínico de oito semanas em 60 adultos com os estoques de ferro repletos mostrou que quando a ingestão de carne vermelha magra foi aumentada em detrimento das dietas ricas em carboidratos, os marcadores de estresse oxidativo e inflamação decresceram, não elevaram (32). Se a maior ingestão de ferro está ou não relacionada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares ainda precisa ser provado.
Referências bibliográficas
1. Rosamond, W., Flegal, K., Friday, G., et al. Heart disease and stroke statistics – 2007 #UPD#: a report from the American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Circulation 115: e69-e171, 2007.
2. Lichtenstein, A.H., Appel, L.J., Brands, M., et al. Diet and lifestyle recommendations revision 2006. A scientific statement from the American Heart Association Nutrition Committee. Circulation 114: 82-96, 2006.
3. Mosca, L., Banka, C.L., Benjamin, E.J., et al. Evidence-based guidelines for cardiovascular disease prevention in women: 2007 #UPD#. Circulation 115:1481-1501, 2007.
4. National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III). Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III) final report. Circulation 106: 3143-3421, 2002.
5. Li, D., Siriamornpun, S., Wahlqvist, M.L., et al. Lean meat and heart health. Asia Pac. J. Clin. Nutr. 14: 113-119, 2005.
6. Mann, N. Dietary lean red meat and human evolution. Europ. J. Nutr. 39: 71-79, 2000.
7. Davidson, M.H., Hunninghake, D., Maki, K.C., et al. Comparison of the effects of lean red meat vs. lean white meat on serum lipid levels among free-living persons with hypercholesterolemia. Arch. Intern. Med. 159: 1331-1338, 1999.
8. Hunninghake, D., Maki, K.C., Kwiterovich, Jr., P.O., et al. Incorporation of lean red meat into a National Cholesterol Education Program Step 1 diet: a longterm, randomized clinical trial in free-living persons with hypercholesterolemia. J. Am. Coll. Nutr. 19: 351-360, 2000.
9. Institute of Medicine of the National Academies. Dietary Reference Intakes. Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids. Washington, D.C.: The National Academies Press, 2002.
10. U.S. Department of Health and Human Services, U.S. Department of Agriculture. Dietary Guidelines for Americans, 2005. Home and Garden Bulletin No. 232. Washington, D.C.: U.S. Government Printing Office, 2005. www.healthierus.gov/dietaryguidelines.
11. U.S. Department of Health and Human Services, U.S. Food and Drug Administration. FDA Backgrounder. The Food Label. May 1999. www.cfsan.fda.gov/~dms/fdnewlab.html.
12. U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service. USDA Nutrient Database for Standard Reference, Release 19. 2006. www.ars.usda.gov/nutrientdata.
13. National Cattlemen’s Beef Association. Beef Facts: Beef Lipids in Perspective. Centennial, CO: National Cattlemen’s Beef Association, 2007.
14. Kris-Etherton, P.M., Griel, A.E., Psota, T.L., et al. Dietary stearic acid and risk of cardiovascular disease: intake, sources, digestion, and absorption. Lipids 40: 1193-1200, 2005.
15. National Cattlemen’s Beef Association. Beef Facts: Stearic Acid – A Unique Saturated Fat. Centennial, CO: National Cattlemen’s Beef Association, 2007.
16. Huth, P.J. Do ruminant trans fatty acids impact coronary heart disease risk? Lipid Technol. 19(3): 59-62, 2007.
17. National Cattlemen’s Beef Association. Beef Facts: Conjugated Linoleic Acid and Dietary Beef – an #UPD#. Centennial, CO: National Cattlemen’s Beef Association, 2007.
18. Kritchevsky, D., Tepper, S.A., Wright, S., et al. Conjugated linoleic acid isomer effects in atherosclerosis: growth and regression of lesions. Lipids 39: 611-616, 2004.
19. Institute of Medicine, Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for Thiamin, Riboflavin, Niacin, Vitamin B6, Folate, Vitamin B12, Pantothenic Acid, Biotin, and Choline. Washington, D.C., National Academy Press, 1998.
20. McKay, D.L., Perrone, G., Rasmussen, H., et al. Multivitamin/mineral supplementation improves plasma B-vitamin status and homocysteine concentration in healthy older adults consuming a folate-fortified diet. J. Nutr. 130: 3090-3096, 2000.
21. Mann, N.J., Li, D., Sinclair, A.J., et al. The effect of diet on plasma homocysteine concentrations in healthy male subjects. Europ. J. Clin. Nutr. 53: 895-899, 1999.
22. Herrmann, W., Schorr, H., Purschwitz, K., et al. Total homocysteine, vitamin B12, and total antioxidant status in vegetarians. Clin. Chem. 47: 1094-1101, 2001.
23. Gao, X., Yao, M., McCrory, M.A., et al. Dietary pattern is associated with homocysteine and B vitamin status in an urban Chinese population. J. Nutr. 133: 3636-3642, 2003.
24. Koebnick, C., Hoffmann, E., Dagnelie, P.C., et al. Long-term ovo-lacto vegetarian diet mpairs vitamin B-12 status in pregnant women. J. Nutr. 134: 3319-3326, 2004.
25. Haulrik, N., Toubro, S., Dyerberg, J., et al. Effect of protein and methionine intakes on plasma homocysteine concentrations: a 6-mo randomized controlled trial in overweight subjects. Am. J. Clin. Nutr. 76: 1202-1206, 2002.
26. Flores-Mateo, G., Navas-Acien, A., Pastor-Barriuso, R., et al. Selenium and coronary heart disease: a metaanalysis. Am. J. Clin. Nutr. 84: 762-773, 2006.
27. Sullivan, J.L. Iron versus cholesterol – perspectives o the iron and heart disease debate. J. Clin. Epidemiol. 49: 1345-1352, 1996.
28. Institute of Medicine, Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for Vitamin A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Chromium, Copper, Iodine, Iron, Manganese, Molybdenum, Nickel, Silicon, Vanadium, and Zinc. Washington, D.C.: National Academy Press, 2001.
29. Heath, A.-L., Fairweather-Tait, S.J. Health implications of iron overload: the role of diet and genotype. Nutr.Rev. 61: 45-62, 2003.
30. Yuan, X.-M., Li, W. The iron hypothesis of atherosclerosis and its clinical impact. Ann. Med. 35:578-591, 2003.
31. Wood, R.J. The iron-heart disease connection: is it dead or just hiding? Ageing Res. Rev. 3: 355-367, 2004.
32. Hodgson, J.M., Ward, N.C., Burke, V., et al. Increased lean red meat intake does not elevate markers of oxidative stress and inflammation in humans. J. Nutr.137: 363-367, 2007.