Por Lygia Pimentel*
Você já ouviu falar que alguns países estão triangulando a carne brasileira para conseguir exportar o produto mais barato para os Estados Unidos, por exemplo? Pois é, a palavra correta para essa triangulação seria, na verdade, arbitragem.
Já falei aqui nesse espaço e provei para vocês que a carne brasileira é a mais barata do mundo, tanto para o consumidor quanto para os compradores internacionais. E dado a nossa fase do ciclo pecuário atual, que é de preços em baixa, o Brasil está produzindo recorde. Com esses preços em baixa vêm uma oferta maior, é uma questão cíclica.
E isso fez com que o Brasil se tornasse mais competitivo ainda perante seus pares internacionais, que estão em fase de alta de ciclo, ou seja, enfrentando uma alta de preços e menos oferta para entregar. Isso acabou vindo até que em boa hora para equilibrar um pouco o mercado.
Então, o que acontece é que alguns países, que possuem uma logística privilegiada nesse sentido, estão comprando a carne brasileira. São países usualmente exportadores e não importadores de carne bovina.
Eles estão comprando a carne bovina brasileira, para abastecer o seu próprio mercado doméstico. Uma carne barata, mesmo considerando os custos logísticos, mesmo considerando os custos tarifários de comprar daqui para poder fornecer essa carne lá, e pegando o seu próprio produto e exportando para quem tenha interesse em importar, por exemplo, Estados Unidos.
Isso fez a gente aumentar em mais de 100% as nossas exportações para o Paraguai e mais de 80% as nossas exportações para a Austrália.
Vejam só que interessante, e também mais de 80% das nossas exportações para a Argentina. A Argentina é conhecida por exportar carne e não importar. Isso significa uma arbitragem. Comprar carne competitiva, abastecer o mercado doméstico e conseguir pegar o produto local e exportar para outros países compradores.
Esses países que exportam são tradicionalmente exportadores mesmo. Isso a gente chama de arbitragem. Isso não fere nenhuma regra comercial, para que fique claro. Então a gente está vendo esse movimento acontecer, dada a gigantesca, a enorme competitividade que o Brasil tem no cenário global.
* Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
Fonte: Forbes.