A confiança é a base que vai permitir a difusão dos resultados com credibilidade – Júlio Barcellos [Prêmio BeefPoint Sul]

No dia 4 de abril, será realizado o BeefSummit Sul, em Porto Alegre/RS. O evento será organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB).

No dia do evento, o BeefPoint irá homenagear as pessoas que fazem a diferença e têm paixão pela pecuária de corte no Sul do Brasil com o Prêmio BeefPoint Edição Sul. Há vários finalistas, em 13 categorias diferentes.

Conheça Júlio Otávio Jardim Barcellos, finalista na categoria Professor/Pesquisador.

Júlio Barcellos é médico veterinário, com especialização em Sistemas de Produção Animal no IAMZ – Zaragoza, mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Pesquisador Nível 1-D do CNPq. Atualmente é professor associado III da UFRGS, atuando no Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia, na graduação e pós-graduação.

É membro da Sociedade Brasileira de Zootecnia e editor associado da Revista Brasileira de Zootecnia. A experiência de atuação é em sistemas de produção de bovinos de corte, com ênfase em: gestão de tecnologia, tomada de decisões, e tecnologias de processos. Desenvolve pesquisas nas áreas de nutrição mineral para ruminantes, cadeia produtiva da carne bovina, crescimento animal, manejo de bovinos de corte com ênfase na cria e recria.

Participou e/ou ministrou palestras em 400 eventos, sendo 25 internacionais. Publicou três livros em co-autoria, nas áreas de suplementação mineral, produção e manejo de bovinos de corte e crescimento de bovinos de corte.

BeefPoint: Com base em suas pesquisas, o que você implementou de diferente na pecuária do Sul do Brasil, que levou você a ser um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Edição Sul 2014?

Júlio Barcellos: Passamos a trabalhar em uma questão mais inovadora que foi o uso da irrigação na produção de pasto para a bovinocultura de corte. Com isso, foi possível quantificar parâmetros técnicos e econômicos que apontam um horizonte aos usuários dessa tecnologia.

BeefPoint: A pesquisa está cada vez mais distante da prática vivenciada no campo, em sua opinião o que pode ser feito para diminuir esse problema em nosso país?

Júlio Barcellos: Simplificar a linguagem junto ao produtor e relacionar os aspectos técnicos com o resultado econômico, pois isso desperta outro interesse pelo usuário da tecnologia – trabalhar a questão do risco que toda a tecnologia apresenta de forma clara para que o usuário decida com mais segurança ou consciência do que pretende fazer.

É preciso também, não subestimar o usuário dos resultados da pesquisa e nem os operadores de campo, pois o seu conhecimento empírico tem um fundo de ciência que precisa ser valorizado pelo novo conhecimento científico.

BeefPoint: Qual a missão, visão e valores que você considera ético e promissor no desenvolvimento de novas pesquisas?

Júlio Barcellos: 

• Missão:

A missão é responder às demandas da sociedade respeitando valores e princípios que permitam conduzir o novo frente a contraditórios cada vez mais presentes.

• Visão:

Uma visão global da atividade produtiva que ultrapasse o mundo cartesiano da produção, produtividade e resultado econômico.

• Valores:

Olhar o mundo dentro da porteira como um sistema de valiosas interações entre o ambiente, os animais e as pessoas.

BeefPoint: São aplicáveis de forma prática à rotina de uma fazenda?

Júlio Barcellos: A pesquisa ocorre no laboratório e a partir daí ela é transformada em tecnologia. Quando isto ocorre, precisamos incorporar aos processos diários na produção de uma fazenda, mas especialmente no convencimento de que isso pode melhorar a vida das pessoas, sejam elas os recursos humanos da fazenda, sejam elas as percepções dos clientes desta.

BeefPoint: O que você faz para difundir suas pesquisas frente aos pecuaristas? O que ainda pode ser feito?

Júlio Barcellos: Difundimos usando todos os meios da sociedade moderna – mídias eletrônicas, internet, rádio, televisão, enfim, tudo que está associado a comunicação. Contudo, ainda o diálogo direto, em reuniões de campo, em encontros, palestras, visitas a produtores, viagens guiadas e o material escrito, ainda tem sido muito fortes na formação das relações entre os pecuaristas e o que fazemos.

Procuramos criar a confiança. Esta é a base que vai permitir a difusão dos resultados com credibilidade e expectativa.

BeefPoint: O que te traz mais resultados? 

Júlio Barcellos: A busca de soluções para os problemas da sociedade e encontra-las, ás vezes, em algo muito simples é o que gratifica. Quando um pecuarista lhe fala: “olha experimentei aquela sugestão que você me deu, e sabe – deu certo”, é muito recompensador e consideramos que nosso tempo foi pago.

Hoje estamos trabalhando em várias frentes: uma pesquisa bastante avançada na área de touros – desde as questões do manejo, adaptação ao calor, marcadores moleculares para fertilidade; e ao mesmo tempo estamos estudando questões ligadas a avaliação de sistemas de produção: riscos na pecuária, adoção de tecnologias, irrigação e bem-estar animal.

Portanto, buscamos olhar a cadeia produtiva como um todo e, com todo o grupo de alunos e parceiros, tocamos a orquestra. Assim, o foco sempre é um problema claro, uma razão para pesquisar, um beneficiário.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?  

Júlio Barcellos: Gerar expectativas que não foram atendidas foi um grande erro! Assim, estamos aprendendo a trabalhar com o imponderável. Várias situações criamos expectativas em instituições, pecuaristas, etc, e por razões associadas a falta de tempo, de prioridades ou pelo imponderável, não a alcançamos.

E sem dúvidas, frustrar alguém que espera muito é o pior dos erros que temos cometido, mas estamos lutando para parametrizar melhor cada expectativa gerada.

BeefPoint: O que você considera mais importante na pecuária?

Júlio Barcellos: A eternidade como atividade ligada ao meio rural.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária do Sul do Brasil hoje?

Júlio Barcellos: Conviver com a agricultura intensiva e dispor de recursos humanos qualificados para a modernização inevitável que surgirá.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2014? E por quê?

Júlio Barcellos: Concentrar mais os esforços em questões bem objetivas dos pecuaristas e das instituições. Porque muitas vezes, questões ocasionais, dependendo do protagonista e do demandante, podem lhe dirigir para uma ação que requer muitos esforços e não resulta em nada. Ou seja, qualificar melhor as demandas e atende-las superando as expectativas.

BeefPoint: Qual o exemplo de professor/ pesquisador no Sul do Brasil hoje?

Júlio Barcellos: São muitos, difícil é qualifica-los em seu tempo.

BeefPoint: Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Júlio Barcellos: Todos aqueles que me auxiliaram na minha formação e que colocaram o contraditório à minha frente.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Júlio Barcellos: É preciso informa-los sobre:

• Perspectiva de uma vida em sociedade,
• Proximidade com os benefícios que as cidades oferecem,
• A sinalização que poderá sair da atividade quando deseja,
• O entendimento que é uma atividade laboral digna,
• Não é herança,
• É trabalho,
• Não é emprego,
• É um negócio.

BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas?

Júlio Barcellos: Olhem, vejam e enxerguem que a atividade eterna, pode ser mais bem aproveitada e digna. O conhecimento, a luta constante, a força, o foco e a fé serão os diferenciais dos vencedores.

Confira outra entrevista de Júlio Barcellos no BeefPoint:

Júlio Barcellos: desafios da pecuária brasileira, adoção de novas tecnologias e aumento da eficiência

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