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A engorda no ganha-ganha

Por Louis Pascal de Geer1

A engorda começa com a escolha do touro no rebanho da cria. Quanto mais for encurtada a distância entre cria e abate e principalmente verticalizada, mais poderá a engorda contribuir para o ganha-ganha na cadeia produtiva da carne bovina.

Cria, recria e engorda são integradas e visam a qualidade do produto final, obviamente respeitando as particularidades e necessidades de cada fase.

Este ponto é crucial para quem quer desfrutar ao máximo o investimento feito na cria, recria e engorda. Além disso, pode se qualificar como criador / fornecedor para uma espécie de rating AAA, ou seja, a categoria de fornecedor preferencial para os frigoríficos, que com certeza pode resultar em um diferencial grande e sustentável dos preços recebidos pelos animais.

Os animais são todos identificados na cria, o que permite o rastreamento desde o nascimento e os sistemas de produção e alimentar praticados nas propriedades são todos certificados, fornecendo assim segurança de qualidade e alimentar para o consumidor final.

O impacto de evolução brutal nas exportações de carne bovino e seus derivados nos últimos anos é sentido principalmente pelo pessoal da engorda.

Como eu gostaria de poder substituir a palavra “sentido” pelo celebrado! Mas pelo jeito esta celebração por enquanto ainda vai ficar por conta dos frigoríficos exportadores e seus clientes lá fora.

Podemos desdobrar este “sentido” em várias partes:

1- A entrada do SISBOV, Certificadores nas fazendas e a identificação dos animais.
2- A demanda explosiva pelo boi para exportação, aumentou de maneira significante o numero de cabeças confinadas.
3- A fase de engorda assim está sofrendo um grande aumento de custo de produção.
4- Hoje não podemos mais falar que a engorda para exportação no Brasil é praticamente exclusiva a pasto.
5- A excessiva tolerância e até liberação dos alimentos transgênicos podem se tornar um problema, como também o uso de anti/pro bióticos e promotores de crescimento os quais são vetadas lá fora.
6- Uma remuneração que é na prática inadequada e que em termos gerais ainda não inclui um extra para a qualidade
7- Um circuito paralelo de compra de carne pelos frigoríficos de exportação “para o mercado interno”, que pode se misturar muito fácil com os produtos destinados à exportação.

Algumas pessoas já me perguntarem o porquê de tanto foco na exportação e elas cobram mais atenção para o mercado interno.

Sem dúvida nenhuma somos abençoados aqui no Brasil com um enorme mercado interno e com um potencial de crescimento fantástico, porém o mercado externo está na dianteira em organização e demanda para qualidade e segurança alimentar, os quais visam o bem estar do consumidor final pelo qual eles zelam e pagam.

E é óbvio que isto também devia ser cobrado integralmente pelo o consumidor final brasileiro. Infelizmente este ainda não tem consciência e remuneração estabelecida de modo amplo no mercado interno.

Isto deve mudar rapidamente na medida em que a nossa situação econômico-social melhore, mas principalmente porque as medidas e atitudes exigidas pelos importadores vão beneficiar todos nós aqui.

Porque na prática é impossível fazer isto somente para a parcela que vai para a exportação.

E para nós celebrarmos, o que tem que ser feito?

1- Abraçar a idéia de que quem manda no frigorífico, na fazenda e no gado é de fato o consumidor final.
2- Produzir os produtos que o mercado quer e pode valorizar
3- Reduzir ao máximo os perigos de uma política e prática danosa à segurança sanitária, alimentar e ambiental, no Brasil, nos frigoríficos e nas fazendas.
4- Criar laços de confiança com os demais elos da cadeia de carne e principalmente com os frigoríficos.
5- Conseguir preços reais melhores e sustentáveis como resultado de um trabalho em conjunto, onde cada um valoriza o trabalho do outro.
6- Voltar para um sistema de produção baseado em nossos pontes fortes e imbatíveis no Brasil: área, pasto, sol e água, onde o confinamento tem o lugar na terminação. Só.
7- Usar ao máximo a tecnologia, melhoramento genético e o conhecimento.

Meu ideal ainda é de produzir um boi que é abatido com 17 meses de idade e pesando 17 arrobas em regime de pasto. Vamos lá?
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1Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa.

0 Comments

  1. Hildebrando de Campos Bicudo disse:

    Meu prezado Louis Pascal

    Agradeço sua resposta, e neste sentido vamos dialogar.

    Dentro da teoria econômica os agentes tendem a migrar para a atividade mais lucrativa.

    Vamos supor que para ter um bezerro, o criador mantenha uma vaca no pasto, e que esta vaca pese 11 arrobas (uma vaca econômica), mas como vamos raciocinar em cima do macho, vamos admitir que ela valha 10 arrobas apenas, e estimando uma desmama de 60% no plantel de matrizes, a cada dez vacas teríamos seis bezerros. Teria então um imobilizado de 60 arrobas para produzir seis bezerros. Vamos supor que metade seja de machos e outro tanto de fêmeas, e que os machos tenham um preço de mercado de seis arrobas, e as fêmeas de quatro.Teria portanto produzido em valores monetários 30 arrobas, ou seja um lucro bruto de aproximadamente 50%.

    Vamos supor que estes machos, vamos nos ater apenas neles, foram vendidos em leilão por seis arrobas, e que pesem mesmo as seis arrobas ou 180 quilos, e que ganharam 400 gramas dia, media ano, ou seja, 146 kg em ano, atingindo, 326 kg ou aproximadamente 11 arrobas.

    O “recriador” teria ganho ou adicionado aproximadamente cinco arrobas, ao bezerro de seis, tendo ganho aproximadamente 83 % de lucro bruto.

    Vamos supor que o invernista compre este boi magro, ou garrote de 11 arrobas, (o valor deste é geralmente menor que o valor da arroba do boi gordo, e vamos estimar 10% a menos) assim ele pagaria o valor de 10 arrobas no garrote de 11.

    Vamos supor que o invernista tenha ótimas pastagens, use sal proteinado etc, enfim tudo que uma fazenda de engorda deva ter, e que este animal ganhe 700 gramas por dia, ou seja, um ganho aproximado de oito arrobas e meia no ano.Teria então um lucro bruto de 85% na operação.

    Seus números diferem pouco dos meus, seus bezerros são vendidos com 6,3 arrobas, e os bois magros com 12,6 arrobas, o que acho muito para o prazo de ano, pois daria mais de 500 gramas dia media ano, mas também não altera muito o cálculo.

    Então, porque o criador não passa para recria, já que é o pior dos três ciclos?

    Porque suas terras não permitem, são geralmente terras mais fracas, muitas de campo natural, mas que também tem o menor valor imobilizado por serem bem mais baratas.

    As terras para engorda têm que ser as melhores, embora se possa contar com confinamento ou outra técnica, é claro que nos anos de “vacas gordas’, não atualmente. São as terras mais valorizadas, sendo porem as de maior lotação. Ainda assim se tem um maior valor imobilizado em terras e instalações por cabeça”.

    As terras para recria, são intermediárias, e exigem média tecnologia, e uma maior atividade comercial, que também tem custos.

    Qual seria a solução então? Ora, o único que pode ampliar o ciclo é o invernista, que tem condições de comprar o bezerro e esperar virar boi gordo, ou então completar os ciclos da cria, suprimir a recria, e aí sim produzir um boi de 18 arrobas com 18 meses.

    Este seria então o boi de exportação, embora sua proposta de um bezerro rastreado, produzido a partir de reprodutores selecionados, e uma parceria efetiva entre os elos da cadeia produtiva não seja impossível, mas estamos ainda infelizmente muito longe dela.

    Até agora só ganhou nestes últimos tempos, o frigorífico exportador, que entra também agora na terminação, como mais uma forma de controlar o mercado.