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Manipulação da dieta de animais em confinamento para evitar excesso de proteína

Nas últimas décadas, devido às condições favoráveis de clima, grande disponibilidade de grãos, e localização estratégica dos frigoríficos, a maior quantidade dos confinamentos americanos concentrou-se na chamada “Panhandle”, a parte noroeste do Texas. Essas “Concentrated Animal Feeding Operations” – ou CAFOs – produzem uma grande quantidade de esterco que se concentra em uma área extremamente reduzida. Os problemas ambientais causados pelo excesso de animais em confinamento em uma área reduzida são diversos. O excesso de nitrogênio (N) no esterco ocasiona problemas como poluição do solo e da água, e também afeta a qualidade do ar.

Segundo Galyean (2000) a alimentação de animais com concentrações de proteína que sejam mais próximas às reais exigências do animal pode prevenir a excreção excessiva de nutrientes. O desafio, porém, é podermos identificar técnicas que reduzam a excreção excessiva de N para o meio ambiente sem que a performance do animal seja prejudicada.

As exigências de proteina metabolizável (PM) dos animais mudam durante o período de confinamento, porém tradicionalmente as dietas possuem uma quantidade fixa de proteína bruta (PB) desde aproximadamente duas a três semanas (após adaptação) até quando os animais são abatidos. No caso dos confinamentos americanos, as dietas possuem em cerca de 13 a 13.5% de PB. Consequentemente, há um excesso de N na alimentação dos animais na parte final do confinamento, quando a exigência em termos de proteína é menor (CAST, 2002; Erickson, 2003).

Vasconcelos et al. (2004a, 2004b) avaliaram os efeitos da “alimentação em fase” na performance de animais em confinamento em dois experimentos conduzidos na estação experimental da Texas A&M University, em Amarillo, TX. Os animais receberam uma dieta com concentração protéica de 13% PB até aproximadamente metade do período de confinamento, sendo a mesma reduzida aproximadamente na metade do confinamento para 11.5% PB ou 10% PB.

No primeiro experimento, Vasconcelos et al., (2004a) trataram 45 animais individualmente em sistema de Calan gates (confinamento experimental com cochos eletrônicos onde animais têm acesso individual) divididos em três grupos – um grupo alimentado com uma dieta contendo 13% PB durante todo o confinamento (controle), e nos outros grupos os animais receberam a mesma dieta contendo 13% PB até aproximadamente 62 dias de trato e depois tiveram a concentração de proteína de sua dieta reduzida para 11.5% PB ou para 10% PB no restante do experimento. Os animais foram confinados por 109 dias. A menor concentração de proteína da dieta não reduziu o ganho de peso dos animais (Tabela 1).

Tabela 1: Desempenho dos animais confinados em sistema de alimentação em fase (experimento 1)


No segundo experimento (Vasconcelos et al., 2004b), 184 animais foram tratados em currais convencionais também com uma dieta contendo 13% PB até aproximadamente metade do período de confinamento. Entretanto, os animais dos grupos 2 e 3 foram pesados periodicamente e tiveram a concentração protéica da dieta reduzida para 11.5% PB ou 10% PB quando estavam pesando aproximadamente 477 kg (o que corresponde a aproximadamente metade do período de confinamento nos EUA). A redução da PB na dieta para 11.5% ou 10% também não afetou o ganho diário dos animais no período após a redução da quantidade de proteína da dieta ou até mesmo durante todo o período de confinamento (Tabela 2).

Tabela 2:Desempenho dos animais confinados em sistema de alimentação em fase (experimento 2)


Conclusão

Esses dados sugerem que a quantidade de PB pode ser reduzida durante o período de confinamento com consequente redução no consumo e excreção de N pelo animal, sem que haja qualquer impacto na performance do animal.

Bibliografia consultada

CAST. 2002. Animal diet modification to decrease the potential for nitrogen and phosphorus pollution. Council for agricultural Science and Technology. Issue paper # 21. Ames, Iowa.

Erickson, G. E. 2003. A nutritionist’s perspective on the update environmental regulations applicable to beef feedlots. Pages 20-25 in Proc. 2003 Plains Nutrition Council Spring Conference. Texas A&M Research and Extension Center at Amarillo. San Antonio, TX.

Galyean, M. L. 2000. Environmental stewardship in the future: Nutrient management issues and options for beef cattle feeding operations. In Proc. Western Section ASAS 2000.

Vasconcelos, J. T., L. W. Greene, N.A. Cole, F. T. McCollum, and J. C. Silva. 2004a Effects of phase feeding of protein on performance, blood urea nitrogen and carcass characteristics of finishing beef cattle: I. Individually fed steers. 2004 Beef Cattle Research in Texas. Pp 129-133. Texas A&M Univ.

Vasconcelos, J. T., L. W. Greene, N.A. Cole, and F. T. McCollum. 2004b. Effects of phase feeding of protein on performance, blood urea nitrogen and carcass characteristics of finishing beef cattle: I. Group fed steers. 2004 Beef Cattle Research in Texas. Pp 135-139. Texas A&M Univ.

0 Comments

  1. Luiz Henrique Gomes da Silva de Rezende disse:

    Parabéns Dr. Judson. Continue assim que você alcançará seus objetivos.

  2. Rodrigo de Almeida disse:

    Olá Judson,

    Parabéns pelo seu artigo, como sempre interessante e pontual.

    Gostaria de te fazer uma pergunta: você comentou que os níveis de PB foram diminuídos de 13,0% para 11,5 ou 10,0% quando os animais estavam pesando aproximadamente 477 kg, o que corresponde à metade do período de confinamento típico nos EUA, que sabidamente produzem carcaças mais pesadas e de maior grau de acabamento que as produzidas por nós aqui no Brasil.

    Portanto minha pergunta é a seguinte: e no caso dos confinamentos brasileiros, onde os animais são abatidos mais leves (em torno de 480 kg PV) ainda seria necessário se preocupar com esta redução nos níveis de PB na dieta? Será que este benefício em reduzir a PB não seria “ofuscado” pelas dificuldades de manejo em preparar uma nova dieta, específica para os animais no período final de confinamento?

    Desde já agradeço sua atenção.

    Abraços,

    Prof. Rodrigo de Almeida
    Doutorando ESALQ/USP

  3. Judson Vasconcelos disse:

    Rodrigo,

    Obrigado pelos comentários. Espero que esteja tudo bem por aí em Piracicaba.

    A sua pergunta é excelente. Bom, no caso dos confinamentos brasileiros acho que o principal benefício seria no que se refere aos custos do confinamento. A redução de proteína das dietas pode resultar em uma redução significativa de custos. Porém é necessária a orientação de um nutricionista para a avaliação da situação individual de cada confinamento. É importante estar atento para tamanho dos lotes, tipo de animais confinados, fonte de proteína, etc., etc.

    Na semana passada, recebi a visita de um nutricionista do Brasil que está trabalhando com uma grande quantidade de animais confinados no Brasil. Conversamos a respeito do assunto e inclusive ele me disse que já está recomendando a técnica a alguns de seus clientes.

    A única desvantagem que vejo nessa técnica é o manejo. Essa é sem dúvida a maior limitação do “phase-feeding” nos EUA. A preocupação ambiental à vezes não compensa a dificuldade de se manejar diversos tipos de dietas, pelo menos na opinião dos confinadores americanos. Por isso ainda é mais fácil formular uma dieta com certa “folga” em termos de proteína e não se preocupar com as dificuldades de manejo.

    Um outro exemplo é o uso de ractopamina em animais confinados. O uso desse produto foi aprovado recentemente, porém ele deve ser usado somente nas últimas semanas de trato. Isso tem trazido muitos problemas de manejo para confinamento que gostariam de utilizá-lo.

    Forte abraço,

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