Já é de conhecimento geral que o Brasil é hoje o maior exportador de carne bovina do mundo, superando, em volume, Estados Unidos e Austrália.
Somente no acumulado deste ano, janeiro a outubro, os embarques brasileiros já atingiram a marca de 1,03 milhão de toneladas em equivalente carcaça, 35% acima do registrado no mesmo período do ano passado e 7% acima do volume total de 2002.
O faturamento chegou a US$1,20 bilhão, incremento de 36% em relação aos primeiros 10 meses de 2002, já superando em quase 10% a receita total do ano.
O crescimento é sólido. É verdade que, primeiramente, foi aberto ao Brasil um mercado de oportunidade, em função dos problemas sanitários enfrentados pela União Européia (vaca louca e aftosa), Argentina (aftosa) e Uruguai (aftosa) nos anos de 2000 e 2001.
Contudo, hoje o país já consolidou mercados, visto que a carteira de clientes supera 100 nomes. Além do mais, as crises pelas quais passaram os concorrentes brasileiros somente aceleraram um processo que já vinha sendo desenhado desde 1997, conforme colocado na figura 1.
O bom desempenho das exportações tem exercido papel fundamental na sustentação dos preços internos. Acompanhem na figura 3 a evolução da cotação do boi gordo paulista em reais deflacionados pelo IGP-DI.
É verdade que o boi não deve chegar este ano a R$70,00/@, frustando as expectativas de muitos. Porém, R$60,00/@, como foi registrado ano passado, e R$62,00/@, que até agora foi o pico de 2003, seriam cotações praticamente impossíveis de se alcançar, não fosse o ótimo desempenho das exportações.
Para atender o mercado externo, a demanda pelo boi gordo aumenta. Além do mais, para cumprir contratos firmados, o comprador precisa efetivamente do boi e, às vezes, tem de pagar mais para obtê-lo. É diferente do que acontece internamente, onde pode-se reduzir os abates quando o mercado não está favorável.
Recentemente, a cotação do boi gordo teve outro empurrão com a valorização dos animais para exportação (rastreados). A oferta relativamente reduzida desse tipo de mercadoria levou à adoção, em praças pecuárias importantes, de um ágio médio de R$1,00/@.
As exportações também têm colaborado de forma decisiva na sustentação dos preços no mercado atacadista. Analisando a figura 4, observa-se que a linha de tendência aponta um comportamento levemente descendente para os preços do boi casado ao longo dos últimos 6 anos.
Este ano a situação foi particularmente ruim. Com o desemprego alcançado a casa dos 13% da população economicamente ativa, e o rendimento médio do trabalhador recuando quase 20%, é possível que a demanda caia.
Ao mesmo tempo, o consumo per capita na União Européia, maior cliente brasileiro, está se recuperando, e o Brasil ainda trabalha pela abertura de novos mercados. Além do mercado externo remunerar melhor (um filé mignon para exportação, por exemplo, chega a valer mais de US$10,00/kg), ele ajuda a controlar a oferta interna, sustentando as cotações.
Os frigoríficos que não participam diretamente do mercado externo têm a possibilidade de negociar parte da produção com os exportadores, e aí o comércio gira e se aquece.
Daí a importância em se trabalhar pela a valorização da carne brasileira no mercado internacional. Apesar do Brasil exportar mais em volume, o faturamento estimado para esse ano é de US$1,40 bilhão, enquanto os norte-americanos esperam conseguir US$3,77 bilhões, segundo dados da Federação de Exportação de Carne Norte Americana (USMEF).
O mercado externo é promissor, responde rápido à investimentos e tem alavancado e sustentando o avanço da pecuária de corte no Brasil. Contudo, é preciso frisar que é o mercado brasileiro que ainda absorve a maior parte (cerca de 83%) de toda carne bovina aqui produzida, possuindo um potencial imenso para crescimento ainda muito mal explorado.
O mesmo tratamento profissional que tem sido desprendido para a ampliação do mercado externo, deve valer também para o mercado interno, a fim de que ele possa responder de maneira similar.
Imaginem, por exemplo, se cada brasileiro resolve comer um bife de carne bovina a mais por semana. A produção teria que aumentar, por baixo, 11%, para não precisarmos recorrer às importações. Não é para animar?
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Caro Fabiano,
Parabéns pelo artigo. Aproveitando sua finalização, além de uma “ïnjeção” de ânimo ao verificarmos, que não é preciso recorrer às importações, acredito que é hora de produzir mais carne, certamente com alta qualidade. Pois se aproximadamente 85% do nosso produto é para consumo interno, se os brasileiros aumentarem esse consumo de carnes, como suprir a demanda interna e externa?
Fica aí a questão e a preocupação em aumentar os níveis de produção da carne brasileira.
Atenciosamente,