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A pecuária de corte brasileira na visão dos americanos

Miriam Jordan

Indústria de carnes brasileira capitaliza crise argentina para se firmar no mercado internacional

Grandes importadores de carne bovina dos Estados Unidos, como por exemplo, a Sampco Inc., localizada em Chicago, estão comprando carne do Brasil. A Sampco compra 150 containers de 40 pés (cerca de 1133 metros cúbicos) por mês do frigorífico Bertin Ltda. Nas prateleiras dos supermercados dos Estados Unidos, a presença dos produtos Bertin – como o rosbife Libby e carnes em conserva – vem aumentando.

A indústria de carnes brasileira, antigamente uma sombra de sua vizinha Argentina, vem se tornando um importante membro no mercado mundial deste produto, graças aos milhões de dólares de investimentos. Em parte, o Brasil vem se beneficiando da crise argentina.

A política argentina de paridade entre peso e dólar, que vem ocorrendo desde 1991, deu ao Brasil uma grande vantagem de preços, abrindo suas portas aos consumidores internacionais. As exportações de carnes argentinas foram dizimadas no ano passado, por causa do surto de febre aftosa ocorrido no país. Determinado a manter os rebanhos brasileiros saudáveis, o presidente Fernando Henrique Cardoso, rapidamente enviou tropas armadas para as fronteiras com a Argentina, para evitar que animais infectados fossem contrabandeados e acabassem entrando em território brasileiro. O Brasil também instalou pedilúvios com desinfetantes nos aeroportos, para evitar que pessoas que estivessem vindo de países com febre aftosa trouxessem o vírus nas solas de seus sapatos.

Embora a Argentina tenha recentemente desvalorizado sua moeda e a União Europeia (UE) ter dado permissão para retomar as importações de carnes deste país, o Brasil não perdeu sua posição preferencial frente aos mercados internacionais conquistados. “Nós sabíamos que éramos o segundo melhor, e trabalhamos bastante para aprimorar nossa indústria”, disse o gerente de exportação do Bertin – maior exportador de carne bovina do Brasil -, Marco Bicchieri.

O Brasil, que antes era um importador líquido de carne bovina, hoje é o terceiro maior exportador deste produto do mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da Austrália. Nos últimos 3 anos, as exportações brasileiras deste produto triplicaram para 750 mil de toneladas, e o país ganhou novos mercados, como a Europa, a Ásia e o Oriente Médio. Com um rebanho bovino de 165 milhões de cabeças, o Brasil possui agora o maior rebanho comercial do mundo e quer se tornar o maior exportador de carnes até 2005.

Em uma época de “vacas loucas” e consciência sobre o colesterol, os bovinos brasileiros, zebuínos, adaptados à produção em clima quente, estão ganhando popularidade. Eles são criados a pasto, livres de hormônios e produzem uma carne mais magra do que a produzida na Argentina, na Europa e nos EUA – apesar de algumas pessoas argumentarem que esta característica torna a carne menos saborosa.

Apesar do rebanho bovino brasileiro estar espalhado por todo o território do país, os principais rebanhos destinados à exportação de carnes localizam-se principalmente nas regiões sul e oeste. O frigorífico Bertin mantém estabelecimentos de abate e fábricas de produção de carnes no Estado de São Paulo, região brasileira que ilustra a evolução do setor de carne bovina do país. Tradicionalmente voltada para o consumidor brasileiro, a companhia deu um salto em qualidade – e em exportações – graças aos investimentos em infra-estrutura, equipamentos de alta tecnologia, e treinamento dos funcionários. No ano passado, as exportações foram responsáveis pela metade dos US$ 500 milhões em vendas.

“Eu visitei várias indústrias de carnes do mundo, e não há outra que funcione melhor ou que garanta maior segurança alimentar do que a Bertin”, disse o presidente da Sampco, David Morrison, que importa produtos Bertin.

Desde o abate dos animais até o processamento final da carne, todos os passos feitos pelo Bertin são monitorados por técnicos e computadores. Cada produto contém a data e a hora de processamento, prática que permite que, caso haja algum produto com problema, seja retirado da linha de produção.

O Bertin produz cortes de carne bovina fresca em embalagens a vácuo, produtos em conserva, alimentos congelados e carne seca. A companhia produz calçados com o couro dos animais, detergentes com a gordura, e até ossos de brinquedo para cachorros, que são vendidos pelos supermercados Wal Mart, nos EUA. Em poucos meses, o Bertin começará a produzir beef jerky para os consumidores norte-americanos, graças ao acordo feito com a Oberto Sausage Co., localizada em Kent, Washington, que comercializa produtos das marcas Oh Boy!, Oberto Beef Jerky e Smikecraft.

Consciente das demandas dos mercados externos, o governo brasileiro vem reforçando o rígido controle de qualidade das carnes. Todas as indústrias que exportam produtos contêm inspetores federais. A maioria dos exportadores brasileiros acredita que está apenas começando a alcançar os mercados externos. Porém, as cotas de importação, as tarifas e os requerimentos sanitários continuam sendo barreiras para a penetração desta carne na Europa, bem como para a exportação de produtos frescos para os EUA.

Fonte: The Wall Street Journal (por Miriam Jordan), adaptado por Equipe BeefPoint

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