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A polêmica da rastreabilidade

Somente no primeiro semestre deste ano, a agroindústria brasileira teve crescimento recorde de 8,3%, o melhor resultado do setor já apurado nas pesquisas realizadas há dez anos pelo IBGE. O PIB da pecuária brasileira deverá no final do ano chegar a R$ 44,95 bilhões. Somado ao PIB da agricultura o total será de R$ 103,96 bilhões.

Em relação às exportações de carne, que foram recorde em 2001, continuamos crescendo. O volume exportado no primeiro semestre de 2002 foi 20% superior ao mesmo período do ano passado. Edivar Queiroz, presidente da ABIEC acredita que a receita das exportações em 2002 baterá a receita recorde de 2001 de US$ 1,1 bilhão.

2001 foi realmente um ano excepcional para nossas exportações de carne, alavancadas pelo tripé câmbio favorável – vaca louca na Europa – aftosa na Argentina. Conquistamos mercados importantes que até agora têm sido mantidos apesar da volta da Argentina ao cenário do mercado.

Infelizmente ainda existem (pré)conceitos ainda arraigados na mentalidade da agroindústria brasileira, que não se acostumou a ser a mais nova potência agrícola exportadora do planeta.

É um absurdo o jogo de empurra-empurra que assistimos na cadeia produtiva da carne quando se perguntou quem pagaria a conta da rastreabilidade. O impasse entre pecuaristas e frigoríficos tem atrasado a implantação da rastreabilidade e a certificação de rebanhos para exportação.

Até o começo de outubro, quando a rastreabilidade da carne passou a ser exigida pela União Européia, apenas 0,5% do rebanho brasileiro estaria certificado de acordo com o Sisbov. Os números hoje não se modificaram muito.

O impasse não está somente na briga causada pelo custo financeiro da rastreabilidade. O impasse está na mentalidade dos membros da cadeia produtiva que questionam a necessidade de se integrar ao sistema.

Uma das questões levantadas com frequência entre os reticentes é a de que a rastreabilidade só é necessária para quem quer exportar para a Europa. A rastreabilidade pode ser uma exigência da União Européia hoje, mas certamente outros mercados seguirão o exemplo. Mesmo porque a rastreabilidade também é mais uma barreira que visa proteger o mercado interno dos países importadores com a desculpa de proteger consumidores. Mesmo em nosso mercado interno, restaurantes e supermercados exigirão cada vez mais transparência no fornecimento de seus produtos.

Será que poderemos aproveitar a lição que a Europa teve com a vaca louca ou teremos que esperar por uma crise semelhante em nosso território para tomarmos alguma providência?

Será também que estamos dispostos a perder os mercados conquistados no ano passado pela nossa incapacidade de juntarmos frigoríficos e pecuaristas para discutir um assunto dessa importância?

Alguns frigoríficos já tomaram a louvável iniciativa de recompensar pecuaristas que estejam certificados, mesmo assim a polêmica continua.

Outra idéia pré-estabelecida é a do alto custo da rastreabilidade e a do baixo retorno. Os custos da rastreabilidade são mínimos perto dos benefícios. A rastreabilidade é um conceito que deve ser inserido dentro de um programa de qualidade e que traz benefícios que não estão necessariamente incluídos no preço que se recebe pelo produto. É uma valiosa ferramenta de gerenciamento que permite a pecuaristas e frigoríficos um melhor controle do processo produtivo e portanto maior economia de recursos, maior segurança, marketing para conquista de novos mercados.

E pode ser também uma ferramenta de fiscalização sanitária para as Secretarias de Agricultura.

Muitos ainda se perguntam como e porque tornar a rastreabilidade obrigatória um dia. Porque rastrear o boi do Pantanal ou o gadinho de leite do sertão que nem chegam perto do prato de um europeu?

A rastreabilidade deve sim ser sujeita à adesão voluntária de pecuaristas neste começo do processo que estamos vivendo, caso contrário estará fadada ao fracasso. Mas podemos e devemos estabelecer metas para que se torne um dia obrigatória. Pode ainda ser um sonho no Brasil, mas um dia poderemos saber por exemplo se que a carne que estamos comendo passou pela inspeção federal ou se veio do “frigomato” ou se aquele rebanho foi vacinado ou não contra aftosa. Como aliás acontece em países como Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e França que se orgulham de serem grandes exportadores de carne.

0 Comments

  1. ana cristina disse:

    Gostaria de parabenizar o Dr. Fernando Mesquita Sampaio pelo artigo claro, conciso e realista.

    Ana Cristina Bahia Paiva
    Médica Veterinária- IMA

  2. Jorge Andrade de Carvalho Gomes disse:

    Parabens pela matéria.

    Devemos sonhar e lutar por uma cadeia da carne forte e unida. Podemos facilmente nos tornarmos os maiores produtores e exportadores de carne bovina.

    A união entre pecuaristas e frigoríficos é de suma importância, lembrando que o frango e o suino estão com suas cadeias de produção muito bem organizadas.

  3. Viktor Andrade disse:

    Será que é mesmo um “absurdo o jogo de empurra-empurra” para ver quem vai pagar a conta?

    Será QUE MAIS UMA VEZ o produtor vai ter que arcar com o custo para que os FRIGORÍFICOS possam LUCRAR?

    Ou tem algum ingênuo que acha que os frigoríficos vão repassar lucros extras?

  4. Ana Cláudia Duarte Ferreira Alves disse:

    A certificação animal (leia-se “rastreabilidade”) deixa de ser quesito luxo e passa hoje para a categoria de necessidade básica!

    Devemos analisar não somente os benefícios que ela nos traz(gerenciamento e etc.), mas principalmente, os malefícios que amargaremos caso ela não não seja implantada EM TEMPO HÁBIL!!!

    Vejam bem: acredito ser imprescindível para a sobrevivência da pecuária nacional, uma vez que, mesmo com as importações para a UE acontecendo, o produtor ainda trabalha com restrita margem de lucro…