Por Jose Roberto Puoli1
Já faz algum tempo que tenho vontade de dar uma palestra com o título: “Desmistificando a pecuária de corte brasileira”. Como infelizmente ainda não tive esta oportunidade, vou humildemente tentar expor meus pensamentos de maneira bem simples e sucinta neste espaço.
Vou entreverar assuntos técnicos com a “Tar da crise que a pecuária vive”.
Primeiro, não acredito que vivemos crise alguma na pecuária. Nunca fomos tão eficientes na produção de gado de corte como estamos neste momento. Aqui vai, então, a primeira desmistificação: a crise é de preço. Nada mais do que a mais básica das leis de mercado.
O mercado de carne no mundo é comprador. Pois, a Austrália reduziu seu rebanho por causa da seca, a UE reduziu em aproximadamente 200 mil toneladas a produção, os EUA estão fora do mercado, por causa da vaca louca. De novo, por causa destes motivos falta carne no mundo.
O outro mercado é o de gado gordo no Brasil. Este está abarrotado. E digo gado, pois, sabemos que temos vendido muita vaca gorda e a carne dela também é consumida.
Então, de novo, este lado do negócio está super-ofertado. Ponto final. Vamos conviver com este problema até a oferta e a demanda se acertarem.
Outra desmistificação: nenhum pecuarista de verdade vai deixar de cuidar bem do seu rebanho para diminuir a oferta. Isto acontecerá por conta do abate das fêmeas e redução da oferta de bezerros e posteriormente de gado gordo.
O aumento de demanda só acontecerá se o povo brasileiro tiver dinheiro para comprar carne e se formos agressivos no marketing nacional e no mundial e aumentarmos, ainda mais, nossas vendas externas.
Um exemplo que gosto muito de usar são os australianos. Eles são extremamente profissionais e competentes. O cerne deles está baseado no Meat and Livestock Australia. Estão vivendo um momento de glória. Principalmente, porque os EUA perderam o mercado do Japão para eles. E está claro que vai ser uma tarefa dificílima para os americanos o recuperarem novamente. Simplesmente voltamos para oferta e demanda.
Um enorme problema que temos na pecuária brasileira é a falta de estatística confiável. Sem números confiáveis do nosso negócio, jamais conseguiremos enxergar precisamente o que está acontecendo. E ficaremos sempre a mercê de achismos. Um acha que o rebanho do país é tal, outro acha que é 15% menor, outro acha que é 15% maior, e fica nesta chutação sem limites. Todo mundo tem uma explicação para os seus achismos e números. Porém, todos estes achismos partem de números que não são a realidade.
Infelizmente, porque não sabemos qual é a realidade. Se usarmos a soja como exemplo, ela chegou a perder 50% do seu valor. Ninguém, questionava o porque do valor ter caído, pois, a estatística de produção de soja mundial (inclusive no Brasil) é muito precisa.
Sem sabermos exatamente os números do rebanho da pecuária de corte do Brasil, fica quase impossível enxergarmos as tendências do nosso negócio. Isto é, se está muito ofertado, até quando este cenário ficará assim. Ou quando estivermos vivendo o oposto, até quando a situação perdurará. Sem estatística que preste vamos continuar no achismo.
O quadro abaixo mostra os abates de boi e vaca no Brasil. Estas informações foram tiradas do site do IBGE. Portanto, é uma informação palpável. Não tem achismos nela. Os dois pontos principais que gostaria de ressaltar, é que estamos abatendo quase 3 vezes mais vacas que em 2000 e o dobro da quantidade de bois. Quando enxergamos um gráfico como este, qualquer percebe que cedo ou tarde ocorrerão mudanças substanciais no rebanho (e preços, conseqüentemente) no país.
Estes números não coincidem com os totais do país. Mas é este tipo de estatística que devemos perseguir. Algo oficial e preciso. Ainda não a temos, mas, de novo, devemos tentar conseguir.
Aqui volto à idéia inicial, a nossa pecuária é simples e deve permanecer assim. Precisamos manter o time pastagens, sanidade, genética e nutrição bem estruturados e fortes. A grande beleza que temos neste país, são as ótimas condições para termos ótimas pastagens. Não devemos perder este foco jamais. É através dos pastos que temos os grandes ganhos na pecuária de corte. Aqui vai, acho eu, a maior desmistificação: se cuidarmos bem dos pastos, vacinarmos e vermifugarmos os animais, usarmos genética boa (não importa se zebu ou híbrida) e ajudarmos, de maneira bem simples e barata, os animais no inverno. Com certeza teremos uma pecuária eficiente.
Devo adicionar um outro integrante ao time, que é o controle de custos (e conseqüentemente, trabalhar com orçamento). E, aqui também, desmistificar o que significa custo e orçamento.
O primeiro passo pode ser uma simples planilha eletrônica com alguns itens descriminados (p.e. folha de pagamento, conservação de pasto, conservação de infra-estrutura, sal, vacina, vermífugo, suplementação etc), onde os gastos são apontados mensalmente. Isto já dará uma noção muito boa das despesas da fazenda. Somado a isto podem vir as amortizações, depreciações etc. Com estas informações, depois que a pessoa tiver um pequeno histórico, ela pode elaborar um orçamento e enxergar antecipadamente o que acontecerá com o negócio no próximo ano.
Aí, sim, passa a ser um negócio bem administrado. Quando você conhece seus custos e sabe o que você pode fazer com o valor do boi que você está projetando para o ano.
A grande desmistificação do apontamento de custo chama-se disciplina e rotina. Não é difícil e nem complicado, mas requer disciplina.
Enfim, a mensagem que gostaria de passar é que acredito que nossa pecuária já está num estágio eficiente e que o aumento desta eficiência deve ser sempre perseguido. Veja que falo eficiência, isto para mim significa buscarmos a melhor produção pelo menor custo. O custo da produção se tornou um pré-requisito e é básico, tem sempre que estar atrelado a qualquer tomada de decisão.
Quando estivermos vivendo a outra fase do ciclo, aí então, desfrutaremos de todos estes ganhos de eficiência que tivemos.
A outra mensagem é que vejo com ótimos olhos qualquer intenção de divulgação da carne, nacional ou internacionalmente falando. Vejo que isto já está acontecendo.
E, na minha simplória opinião, a grande lição de casa que temos que fazer, é conhecer nosso próprio rebanho, para podermos entender para onde e como estamos indo. O que pode ser feito através de um sistema de rastreabilidade inteligente.
Uma pessoa que considero muito e já foi muito ativo no mundo dos negócios um dia me disse: “Todo negócio deve ser como um veleiro. Se estamos na calmaria, devemos fazer manutenção no barco, cuidar dele, mas deixá-lo no mar, jamais recolhê-lo. Pois, assim que o vento recomeçar, é só soltar as velas e seguir enfrente. Se o recolhermos, até colocarmos ele novamente no mar em condições de funcionar, o vento pode acabar novamente”.
Então, acredito que este é o estágio que está nossa pecuária. Vamos seguir cuidando dela, pois, quando o vento soprar a favor (ou a tempestade acabar) estaremos prontos para desfrutar dos benefícios.
Obrigado.
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1Jose Roberto Puoli é engenheiro agrônomo, tem mestrado e doutorado nos EUA em zootecnia e é consultor em Campo Grande/MS
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Zé Roberto, parabéns pelo texto.
Acredito muito em quem faz a pecuária no Brasil, onde, nesses momentos de crise, devemos alcançar a eficiência com competência e inteligência.
Abraço,
Marcello Anastasio
Boi & Beef Consultoria
No meu entendimento do mercado do boi, o que está acontecendo é um aumento importante do abate em locais que enviam dados para as estatísticas oficiais. Conjuntamente o cartel dos frigoríficos que é cada dia mais feroz, está abatendo mais a cada dia e acabará abatendo o próprio pecuarista.
Parabéns pelo seu texto, porém assim como o ciclo do ouro, do leite, do café, o ciclo da pecuária também está findando e cedendo suas terras para culturas mais rentáveis como a cana, o pinus, a soja e o eucalipto.
Nilson Camargo
Médico e Pecuarista
Tomara que este vento venha logo, porque estamos a 2 dois anos em calmaria. Quanto o artigo, meus parabéns.
Meus parabéns pela sua simples e correta avaliação.
Gostaria de parabenizar o autor, Dr.José Roberto Puoli, pelo belo artigo e concordo 100% com seus comentários nos quais a pecuária brasileira deve estar alicerçada e focada em ser uma pecuária a pasto (bovinos são ruminantes e nada melhor para um ruminante que forragem em quantidade e qualidade);suplementação mineral e mineral protéica-energética nas diferentes épocas do ano (para compensar as deficiências e/ou desbalanços nutricionais das pastagens); controle sanitário rígido e melhoramento genético permanente e sistemático para uma pecuária tropical e sub-tropical a pasto, funcional e eficiente.
E para gerenciar os tempos de “vacas magras e das vacas gordas”, uma escrituração zootécnica e contábil criteriosa para poder controlar a sustentabilidade do sistema e saber para onde está indo o nosso “barco”.
Aliás, a simbologia do barco foi muito enriquecedora e peço permissão do Dr.Puoli para usá-la em minhas palestras. Já uso uma do filósofo romano Sêneca, morto por Nero, “Não existe vento favorável para um barco que seu comandante não sabe onde que chegar”.
Pense em sua propriedade como um barco, que deve estar sempre preparado para quando a calmaria passar e o vento favorável voltar a soprar.
Só sobrevivem em qualquer atividade aqueles que sabem onde seu barco deve chegar e ajustam suas velas conforme estiver o vento, para adequar a velocidade, ora maior ora menor, mas sem nunca perder sua direção.
Felicidades para todos que cuidam do seu “barco” sem “mensalão”, trabalhando honestamente, pois acreditam que este rico país ainda será uma rica nação e todo seu povo terá dignidade e uma mesa farta em carne e leite, apesar de todas as crises que tivemos, temos e que teremos.
Muito obrigado pela atenção
Fernando Antônio Nunes Carvalho
Médico Veterinário e Produtor Rural
Autor dos livros Nutrição de bovinos a pasto e A saga do Simental no Brasil
Mais uma vez volto a este fórum para concordar com os autores dos textos de que a “suposta” crise da pecuária brasileira está muito mais ligada a falta de uma correta gestão por parte de nós pecuaristas do que uma real crise do setor.
Há poucos dias motivado por um oportuno e esclarecedor artigo do Dr. Francisco Vila manifestei-me a favor daqueles que concordam que o momento que vivemos está muito mais ligado às leis de mercado e os vários fatores que estão afetando este mercado do que a alguma situação crítica que leve o setor a sofrer perdas irreparáveis como por exemplo passou e passa a lavoura cacaueira na Bahia.
Esta sim sofreu de uma crise estrutural que até agora não conseguiu reerguer a agricultura do cacau.
Agora Dr. José Roberto é o seu artigo que ratifica as minhas idéias, que tenho externado para os clientes da nossa empresa de consultoria e através do site desta mesma empresa.
Enfrentar situações adversas de mercado com competência, conhecimento dos custos de produção de nossas fazendas, gestão competitiva não é tarefa fácil.
Agora imagine esta mesma conjuntura tendo que ser enfrentada com os nossos métodos amadoristas, sem conhecer o preço final de produção da @ produzida na fazenda? É vôo cego, caros amigos.
Temos que olhar para dentro da porteira, corrigir rumos, entender de mercados; gerenciar afinal de contas.
Certamente desta forma esta “tar da crise” vai passar com bem menos efeitos danosos ao nosso rebanho e pecuária.
Abraços
José Luiz Pedreira
José Roberto, parabéns!
Há tempos não via uma visão tão simples, correta e otimista da nossa pecuária, sem “viagens”.
Você fez o retrato real da situação e chamou com muita classe todo mundo na responsabilidade.
Gostei tanto que quero te convidar para “dismistificar” mais ainda esse tema no “Dia de Campo Nativa”, um evento que tem esse perfil de encarar os assuntos do agronegócio de forma pró-ativa, otimista e real, sem essa de ficar parado só reclamando.
Prezado José Roberto Puoli,
Faço minhas as suas palavras. Acho que crise é realmente uma questão de ponto de vista.
O pecuarista que ouve na televisão a palavra crise e passa a adotá-la como verdade absoluta está em crise mesmo, mas em crise de identidade.
No entanto, aquele que olha o seu negócio procurando enxergar conceitos como eficiência técnica, viabilidade econômica, sustentabilidade ambiental e justiça social, não se deixa “levar pela onda” e procura alternativas para enfrentar os momentos mais delicados.
Não nos esqueçamos que é nos piores momentos que temos as melhores idéias.
Marcelo A. B. F. Alves
Engenheiro Agrônomo
Campo Verde/MT
Somente quem não é pecuarista fala que a carne produzida no Brasil é barata. O preço da arroba não remunera o produtor.
Nos países ricos a carne é muito cara em relação a nossa, mas os produtores são bem remunerados e produzem carne de qualidade.
Meu Caro Jose Roberto,
Parabéns pelo texto.
Ontem mesmo eu conversava com meu irmão que também é engenheiro agrônomo sobre as dificuldades que estamos enfrentando com a baixa do preço do boi gordo e que não aguentava mais ler sempre os mesmos motivos para tal situação.
Acredito que é necessário novos pontos de vista e ampliar a visão do agronegócio para uma análise linkada com um contexto mais amplo, ou seja, a minha vaquinha gorda tem tudo a ver com o rebaho brasileiro e com os rebanhos internacionais.
Mais uma vez parabéns pela análise.
Muito interessante o ângulo abordado pelo autor, que fala verdades nem sempre ditas.
Desejo parabenizar o autor desse belo texto, tanto pela clareza e objetividade, como pela contribuição na questão da desmistificação de algo que é bem simples, mas que tem ficado muito complicado em meio a tantos palpites dos “milhões de técnicos”.
Quanto às estatísticas também acerta ao dizer que precisamos de dados confiáveis, ninguém sabe ao certo quanto gado é abatido, e vejo com muita desconfiança os dados do IBGE, porque sabemos que o competente Instituto depende do que lhe é informado em termos do que é abatido sob Inspeção Federal, Estadual e Municipal, e nós sabemos como isso é feito.
Os avicultores vivem o mesmo problema dos excedentes de produção, mas pelo menos eles têm os números de ovos incubados a cada mês e podem estimar quanta carne de frango estará disponível no mercado dentro de mais algumas semanas.
Eles ficam um pouco frustrados quando tentam induzir uma redução de produção e não conseguem, de certo modo, porque cada um quer tirar proveito da situação a seu modo, chegando a aumentar a produção esperando que outros a reduzam.
Está certo também o autor, que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que considero uma das melhores cabeças pensantes da pecuária nacional, quando se refere ao Marketing da Carne, certo por dar como exemplo o MLA – Meat and Livestock Australia, porque o que estão querendo fazer no Brasil – de duas maneiras diferentes – não vai dar os resultados que os seus mentores e protagonistas esperam.
Sinto dizer isso porque os admiro, mas não é por aí; para estimular o consumo de carne é preciso de dinheiro, sem dúvida, nada se faz sem ele, mas é necessário muito mais que isso.
Algum dia vão parar para pensar e à luz de resultados pregressos desfavoráveis no médio prazo, talvez consigam vislumbrar uma estratégia baseada no conhecimento e no trabalho de uma equipe técnica multidiscliplinar.
Gostaria de cumprimentar o autor do artigo e acrescentar que, concordando como fato de que não dispomos de dados confiáveis para analisar o agronegócio brasileiro, acrescento que, no caso da pecuária, devemos ter em mente que ainda temos um alto índice de carnes comercializadas clandestinamente no país, podendo chegar até os 50% em algumas regiões, segundo o datafolha, que além de não entrarem nas estatísticas, não sabemos a porcentagem de machos e fêmeas, são de origem sanitária muito duvidosa, pondo em risco a saúde de quem as consome, não geram receita tributária, o produtor recebe menos que no mercado formal em frigoríficos, e na sua maioria são fêmeas, como já pude constatar quando trabalhei como Médico Veterinário no serviço público.
Outro fato alarmante, que pode sugerir uma maior atenção por parte das autoridades da fiscalização, seria no sentido de averiguar melhor o cumprimento da proibição do fornecimento da “cama de frango” a bovinos, pois na tentativa de “diminuir custos”, algum produtor “pode ficar tentado a alimentar seu gado” com esse resíduo da criação de frangos, o que exporia nosso criatório ao ciclo do mal da vaca louca, daí sim poderiam sentir “na carne” o que seria uma crise de verdade.
Assim como aquela velha mania de comprar a vacina contra aftosa, pegar a nota fiscal e entregá-la aos órgãos da defesa animal e jogar a vacina fora… Será que tem alguém fazendo isso ainda??
Excelente artigo. Acho que traduz fielmente o momento que vivemos na nossa pecuária e aponta de forma bem realista o caminho a ser seguido, e o estado de espírito que o pecuarista deve adotar diante da tão falada crise.
Gostei muito da desmistificação do tema “crise na pecuária”, desvenda um pouco posturas pessimistas em excesso, eu diria até “neuróticas” que temos visto por aí.
Parabéns. Um abraço,
Vigilato Fernandes
Parabéns pelo artigo.
Racional, objetivo, coerente e linguagem accessível a qualquer nível intelectual de leitores e produtores.
Kalil S. Filho
Engenheiro Agrônomo
Parabéns pelo artigo.
Só coloco em dúvida, esta suposta situação favorável do mercado externo, porque como podemos observar nas notícias de hoje, parece que não é bem assim.
“Os cortes nobres de carne brasileira, como filé mignon e contrafilé, estão em baixa na Europa. Neste ano, o preço já caiu cerca de 30%, situação que preocupa frigoríficos exportadores. O principal vilão é o excesso de oferta, provocada pela disputa com a Argentina.”
Mas quem sabe o mercado comprador a que se refere, pode ser o Japonês, Coreano ou outros, com os quais o Brasil não comercializa.
Abraços!
Excelente artigo! Parabéns.
Concordo que este é um negócio como outro qualquer, e deve ser tratado como tal. O que falta são bons administradores rurais, ou seja, que saibam lidar com crises, e buscar alternativas.
Um único ponto que você não tocou é o cartel dos frigoríficos. Pois veja, tenho 6 frigoríficos num raio de 200 Kms de minha fazenda, em SP, ou seja o meu frete deveria ser muito mais barato que o gado vindo de outros estados. E portanto o preço da arroba líquida mais favorável. Não é assim quando compro o gado em pé? Pago o produtor e adiciono o frete! Então porque no caso do boi, não existe um preço para o boi e se adiciona o frete?
Quando vou vender o boi gordo faço cotação com um mínimo de 4 frigoríficos, alguns a 200 Kms e tem um a 60 kms. Qual não é a surpresa quando vejo que os preços são iguais. Não entendo! Mas só demonstra que o cartel está mais unido que nunca.
Proponho que se mude a forma de negociação do boi gordo, onde a carne é paga pelo mesmo preço em todo pais, só descontando os impostos, se for o caso, e que o frete seja de acordo com a distância do vendedor para o frigorífico.
Adicione-se a isso a qualidade de carcaça, qualidade do couro, etc…
Gostaria de ver este assunto abordado em um próximo artigo seu.
Roberto Lacerda
Palestina – SP
Caro José Roberto Puoli, em boa hora expressou sua opinião.
Às vezes a palavra crise é muito pesada e não reflete muito bem aquilo pelo qual passamos.
Na pecuária, hoje vemos que o problema principal é na comercialização, pois de modo geral, tecnicamente (dentro da fazenda), um bom serviço está sendo feito.
Já era hora, visto que na produção de qualquer coisa, sempre queremos melhorar, visando menor custo e maior lucro.
Na minha opinião, posso estar errado, não há muito o que os pecuaristas possam fazer, somente se reunirem (como bem entenderem) e lutarem por algo que acreditem ser o ideal (redução da taxa de juros, aumento da @, logística e outros).
Filosofando penso que, como existe uma FIESP para as indústrias de SP poderia existir algo do gênero para a pecuária, dando força e poder de negociação aos produtores.
Cumprimento o autor pela lucidez com a qual analisou o momento vivido por nossa pecuária de corte, ao mesmo tempo em que apelo do Dr. Puoli para que não se furte a nos brindar mais vezes com contribuições dessa qualidade.
Nosso setor ainda carece de um mínimo de mentes privilegiadas que possam, com clareza, diagnosticar as alterações de conjuntura – passo inicial para o posicionamento de cada um face ao seu negócio.
Aproveito esta oportunidade para sugerir ao autor que inclua, alguma análise futura que venha a elaborar, a consideração do papel desempenhado pelas elevadas taxas de juros – que não é estabelecida pelo mercado e sim pela autoridade monetária – fator desencadeante de pressões baixistas na taxa de câmbio praticada pelo mercado, interferindo, portanto, na formação dos preços da carne no mercado de boi gordo.
Está muito bem colocado na artigo, “o mercado de carne no mundo é comprador”, e disto seria legítimo esperar que essa realidade se traduzisse em estímulos de preços no mercado brasileiro, uma vez que nossas exportações já são bastante significativas, estando em expansão nos anos recentes.
No entanto, as reduções sistemáticas da taxa de câmbio, decorrentes das elevações sistemáticas da taxa de juros, têm frustrado fortemente o funcionamento desse mecanismo.
Por esse motivo não podemos simplesmente “jogar a toalha” e aceitar como fatalidade uma conjuntura de preços tão desfavorável. Há ainda espaço para a formação de grupos de pressão no sentido de obter do poder público, atitudes de política econômica menos danosas à produção.
Deniz Ferreira Ribeiro
Produção – Mato Grosso do Sul e São Pulo
Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Canchim
Gostei muito da maneira limpa que o artigo foi escrito.
Desde que iniciei meu curso de Agronomia ouvia “os mais velhos dizerem” que, em breve, iria faltar comida aos humanos e que esta era a profissão do futuro.
23 anos depois, nem faltou comida, nem é a profissão do futuro. O ser humano é o único animal que come 12 vezes mais o que realmente necessita. Se dermos poder aquisitivo aos Chineses e Indianos (22% do planeta) talvez falte alguma coisinha pra comer, mas nada que “o capital” não resolva.
O Brasil ocupa hoje a posição de destaque neste grande mercado. Este é um fato circunstancial e proporcional as dimensões continentais deste país. Existe muita gente (o Brasil todo) ligada a cadeia do agronegócio e se ela se fragilizar muita gente vai “dançar” ou já estão dançando.
Nosso mercado de carne está voltado a Comunidade Econômica Européia. Quase 80% da exportação. Eles têm o Euro e é o que queremos! Me questiono muito no que aconteceria com os preços da carne se fossemos privados desta demanda? Se perdêssemos a Europa por não termos a segurança alimentar que querem? Por não estarmos rastreando os animais como foi tratado!
Não sabemos fazer marketing! A Austrália fez da “rastreabilidade”, que sabemos, é uma operação dificultosa ao produtor, o seu maior instrumento de vendas e divulgação – a segurança alimentar! O Uruguai e Argentina idem. O Brasil torceu o nariz e diz “que é difícil”, “é caro”, “é complicado”.
Propuseram o SISBOV 2. Uma vergonha! A Europa exige que façamos exatamente o que o produtor local está fazendo.
O maior produtor e exportador de carnes do mundo pensando como um “troglodita”. Agora “eles” vem nos fiscalizar! Não cumprimos o que foi prometido! O SISBOV foi descontinuado. Será que não dá pra pensar maior? Será que não dá para pensar do tamanho do nosso rebanho? Ou é porque nem sabemos o seu real tamanho?
Quem sabe quanto é a metade do atual preço do boi? Isto é o que o produtor receberá se “perdermos a CEE”!
Quem sabe encomendamos um estudo de impacto mercadológico a uma entidade séria e competente e paramos de “achar” e vamos conhecer as conseqüências do nosso desleixo.
Se estivéssemos rastreando, desde o início, ao nascer, hoje já teríamos carne que a CEE quer. Daí, poderíamos pensar nos USA!