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Abiec sob nova direção

A Abiec, presidida desde abril de 2003 pelo ex-ministro Pratini de Moraes, é chefiada agora pelo economista Roberto Giannetti da Fonseca, que assumiu o cargo agora no início do mês de junho. Roberto é diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP. O ex-presidente da Abiec tem perfil mais político, o atual, perfil mais técnico, com larga experiência no mercado internacional. As oportunidades e os desafios do novo presidente da Abiec são grandes. No entanto as margens dos frigoríficos exportadores devem continuar apertadas. Retomar as exportações (com volume considerável) a UE e abrir os mercados dos EUA e Japão são caminhos muito importantes para as empresas associadas a Abiec.

A Abiec, presidida desde abril de 2003 pelo ex-ministro Pratini de Moraes, é chefiada agora pelo economista Roberto Giannetti da Fonseca, que assumiu o cargo agora no início do mês de junho. Roberto é diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP. O ex-presidente da Abiec tem perfil mais político, o atual, perfil mais técnico, com larga experiência no mercado internacional, sendo citado inclusive como um dos melhores traders que o Brasil já conheceu. É autor do livro “Memórias de um Trader”, publicado em 2002.

Desde 2003 as exportações brasileiras de carne bovina cresceram muito, colocando o país na primeira posição em volume e em valor. Pratini sai comemorando o crescimento dos números, com sensação de dever cumprido.

Os desafios do novo presidente da Abiec são grandes. Os últimos anos foram de grande expansão das exportações, numa conjuntura de grande oferta de gado para abate e preços brasileiros abaixo dos principais concorrentes. Agora temos muitos mercados consolidados, mas a oferta de gado é pequena e o preço do boi e da carne brasileiros estão entre os mais altos do mundo. As causas são: baixo estímulo a investimentos na produção pecuária nos últimos anos devido aos baixos preços do gado gordo (e baixa rentabilidade) e consequente maior abate de fêmeas.

O abate de fêmeas causa uma maior oferta de carne momentaneamente, mas gera falta no futuro. A maior oferta ocorreu nos últimos 3 anos, a escassez se faz presente agora.

Relação produção – indústria

Em sua primeira apresentação e entrevista como presidente da Abiec, Giannetti afirmou que deseja trabalhar com maior sintonia e integração com o setor produtivo (citando a CNA). Nos últimos anos, essa relação esteve aquém do desejado e é louvável essa reaproximação. A cadeia da carne tem inúmeros desafios que são comuns a produção e a indústria. O principal dele é a capacidade de pensar a atividade mais no longo prazo, evitando períodos de grande descompasso entre oferta e demanda, ora causando preços baixos, ora preços elevados.

Essa melhor interlocução com o setor produtivo é ainda mais importante para a indústria na atual conjuntura de mudança de ciclo produtivo, baixa oferta de gado para abate, dólar desvalorizado frente a outras moedas (em especial o Real) e consequentemente menores margens da indústria. Como comentado no artigo “O boi barato acabou”, a indústria busca novas formas de agregar valor e lucrar, e isso está alinhado a essa necessidade.

O setor, como um todo, muito pode ganhar com uma agenda única. O Sisbov, por exemplo, é um dos temas que precisa de maior atuação conjunta. As cerca de 100 fazendas atualmente habilitadas para exportar a UE nem de longe chegam perto da real necessidade da indústria. Um número mais factível estaria entre 10.000 e 30.000 fazendas. A demora da efetiva implementação do sistema de rastreabilidade, ou seja, inclusão de milhares de fazendas na lista de propriedades, diminui as exportações brasileiras (em volume e valor), reduz a margem dos frigoríficos, e impede maiores ganhos no preço da arroba do boi.

Japão e EUA

Giannetti também trouxe a pauta da Abiec, um tema bastante antigo: a exportação de carne in natura para EUA e Japão. São demandas antigas, mas que necessitam grande trabalho na área política e também na técnica. A abertura desses mercados pode trazer benefícios maiores que a exportação de carne a UE, ao Brasil e a toda a cadeia da carne.

Esses dois países consomem mais que o bloco europeu e pagam preços melhores. Além disso, como a UE, servem como “baliza” de qualidade e segurança. O acesso a esses mercados geralmente facilita muito o acesso a outros países. Alguns muito importantes, como: Canadá, México e Coréia do Sul.

A grande questão é que o Brasil nunca exportou para esses mercados, nunca tendo “provado” os efeitos do acesso aos mercados mais lucrativos do mundo. O principal desafio será provar aos norte-americanos e japoneses que temos um sistema sanitário seguro e confiável.

Responsabilidade sócio-ambiental

Um dos objetivos da entidade é aumentar a consciência sócio-ambiental de toda a cadeia da carne. O mundo hoje é cada vez mais transparente. Essa é uma realidade que veio para ficar. Giannetti quer mostrar mais a realidade brasileira, com seus exemplos positivos. Uma demonstração de que está antenado pró-ativamente nos desafios de amanhã.

Mesmo sendo uma responsabilidade de todos os envolvidos, os exportadores são os primeiros agentes do setor a receber potenciais críticas e problemas relacionados a esse tema. As críticas, embargos e barreiras vem de fora.

Os setores da cana-de-açúcar e grãos estão na frente da pecuária de corte nesse sentido, já tendo desenvolvido iniciativas que buscam de forma pró-ativa posicionar positivamente o produto brasileiro no mercado mundial.

Novo cenário da pecuária

A pecuária de corte passa por um novo momento, em que além do ajuste do sistema produtivo, com redução dos abates em 2008 em relação a 2007, outros países também passam por problemas de fornecimento, como a Argentina. Em outros tempos, a baixa oferta no Brasil, seria suprida por outros países concorrentes. O “problema” é que todos os países produtores enfrentam uma situação semelhante: oferta apertada, aumento de custos e demanda aquecida.

Todo esse cenário apresenta uma ótima oportunidade para os exportadores de carne bovina representados pela Abiec, mas também é um grande desafio, pois os preços do gado gordo subiram muito mais do que os preços da carne exportada.

O Brasil deve se manter como maior exportador de carne bovina do mundo, mesmo tendo uma queda de 20% em volume esse ano, em relação a 2007. Em valor, teremos um crescimento de cerca de 10%.

A oportunidade e o desafio são grandes. No entanto as margens dos frigoríficos exportadores devem continuar apertadas. Retomar as exportações (com volume considerável) a UE e abrir os mercados dos EUA e Japão são caminhos muito importantes para as empresas associadas a Abiec.

0 Comments

  1. Guilherme Augusto Vieira disse:

    Prezado Miguel, os estudiosos do agrogronegócio nos apontam que o principal agente coordenador de uma cadeia produtiva e de um sistema agroindustrial é a agroindústria, no caso do SAG da carne bovina deveria ser os frigoríficos. Mas não observamos este aspecto neste SAG.

    Creio que o grande desafio da Abiec e também do seu Presidente para os próximos anos será tentar implantar os processos de Coordenação vertical e alianças mercadológicas no Sistema Agroindustrial da bovinocultura de corte, pois a cadeia mostra-se totalmente desarticulada embora apresente uma grande musculatura em sua estrutura, haja visto os números de produção e exportação.

    Será um grande desafio, mas o Dr.Gianetti é uma das pessoas mais capazes em trabalhos de longo prazo.

    Parabéns pelo seu artigo.

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