A publicação da BM&F, Síntese Agropecuária, entrevistou analistas do agronegócio para avaliar qual será a agenda do setor no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A votação de Lula nas grandes regiões produtoras nacionais é indicador que o agronegócio deseja reformas, apontam os analistas.
A publicação da BM&F, Síntese Agropecuária, entrevistou analistas do agronegócio para avaliar qual será a agenda do setor no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A votação de Lula nas grandes regiões produtoras nacionais é indicador que o agronegócio deseja reformas, apontam os analistas.
O desafio é colocar em prática algumas idéias, velhas e novas, que possam tirar o agronegócio da crise e fazer o setor crescer novamente. Há pontos consensuais entre os analistas, como a defesa agropecuária. “Questões como essas prejudicam muito as exportações, que são fundamentais para a manutenção de renda do setor”, afirma Amaryllis Romano, analista setorial da Tendências Consultoria Integrada.
“Nesse ponto, não precisamos nos alongar muito. O contingenciamento de recursos aplicados pela área econômica do governo nos custou a febre aftosa e bilhões de dólares em comércio e em atração de investimentos para o setor de carnes”, diz André Pessoa, da Agroconsult.
Outra frente que provoca críticas dos analistas é indefinição do governo acerca da pesquisa. “O ambiente regulatório precisa ser mais favorável e ter mais recursos para o desenvolvimento da tecnologia agrícola”, diz Pessoa. Para ele, o governo ficou refém de demandas contrárias aos transgênicos, por exemplo. “Isso levou ao desarranjo total do mercado nacional de sementes certificadas, o que é muito ruim e pode prejudicar a produtividade e facilitar a difusão de pragas e doenças”, completa Romano.
Confira a opinião de dois analistas sobre qual deveria ser a agenda do governo Lula no segundo mandato para o setor
André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult
Seguro rural – Implantar definitivamente programa de seguro rural amplo o suficiente para cobrir os riscos de todos os tipos de produtos agrícolas, geral o bastante para atingir todos os tipos e tamanhos de produtores e irrestrito para atender a todas as regiões do país. Para tanto, faz-se necessário subsídio ao prêmio de seguro com recursos adequados.
Desde 2003, o Congresso aprovou lei que institui essa possibilidade. Mas os recursos dispostos pela área econômica do governo desde então têm sido pífios e freqüentemente contingenciados. Vale o registro que boa parte das dívidas que hoje atormentam produtores, indústrias de insumos, tradings, bancos e o próprio governo, os quais impõem forte pressão sobre o Tesouro, poderia ter sido evitada se houvesse sistema de seguro com tais características.
Reestruturação da defesa agropecuária – O governo não aprendeu com os erros e nada mudou. Os recursos nessa área serão cortados no orçamento, ficando centenas de milhões de reais aquém do necessário.
Logística de transporte – Não houve avanço no governo Lula, mas retrocesso. Transportar uma tonelada de soja do norte de Mato Grosso ao porto de Paranaguá custava menos de US$50/tonelada quando o atual governo começou. Na última safra, que nem foi tão grande, custou mais de US$100/t. O que piorou foram as condições de tráfego nas estradas de todas as regiões agrícolas. Nenhuma obra significativa foi realizada em ferrovias, hidrovias e mesmo estradas nos corredores de exportação.
Ambiente regulatório – Nos dois primeiros anos do governo, a Embrapa e o governo ficaram reféns do aparelhamento voltado a atender exclusivamente as demandas da agricultura familiar, do MST e dos opositores dos transgênicos. A CTNBio nada decide e deixa o Brasil na situação de ser o único país relevante no mercado de algodão que ainda submete seus produtores a realizar de 12 a 15 aplicações de defensivos agrícolas.
Usando transgênicos, seus concorrentes norte-americanos, chineses, australianos, indianos e até africanos fazem apenas duas ou três aplicações. Ou seja, o meio ambiente seria o principal beneficiado com a liberação do algodão transgênico no Brasil. A Embrapa desenvolveu feijão tolerante ao mosaico do feijoeiro, doença que reduz drasticamente a produtividade, principalmente dos pequenos.
Entretanto, pressões têm impedido que esse feijão, típico representante da cesta básica, seja produzido. Trata-se de transgênico 100% nacional, produzido por empresa pública brasileira, com recursos públicos e por pesquisadores brasileiros. Problema semelhante enfrenta o arroz transgênico enriquecido com vitaminas.
Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria
Qualificação da produção nacional – O descaso deu, por exemplo, no problema da aftosa e da doença de Newcastle em aves. O PT, como um todo, não parece ter clara sua posição sobre como agir nessa área. O ministro Roberto Rodrigues sabia tudo o que precisava ser feito, mas não tinha o apoio necessário dentro do governo.
Pesquisa e regulação – A falta de clareza quanto ao papel do regulador é grave e tem emperrado a discussão e mesmo a pesquisa em áreas em que o Brasil estava na dianteira, como genética. As decisões são tomadas de forma burocrática, sem muito critério científico, e isso poderá retardar a evolução da produtividade nacional.
Comércio internacional e acordos bilaterais – No primeiro mandato, o governo perdeu tempo com o Mercosul, enquanto os concorrentes fechavam uma série de acordos bilaterais para conquistar novos mercados.
Fonte: Síntese Agropecuária BM&F