O Brasil é um país pecuário. A Scot Consultoria estima que as áreas de pastagem ocupem cerca de 250 milhões de hectares, ou 76% dos 330 milhões de hectares destinados à exploração agropecuária no País.
As áreas de lavoura temporária, incluindo aqui a cana-de-açúcar, somariam 69,3 milhões de hectares (21% do total). Lavouras permanentes ocupariam 9,9 milhões de hectares (3% do total).
Esses números, porém, não são estáticos. Embaladas pelo bom momento vivido pela agricultura, as áreas de lavoura temporária avançam. O destaque vai para a soja e a cana.
Para se ter uma idéia, levantamentos da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) apontam que a área de soja no Rio Grande do Sul, nos últimos dois anos, ocupou quase 280 mil hectares antes destinados à pecuária de corte.
O IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, estima que, de 1997 a 2002, a área de cultivo de cana no Estado aumentou 8,5%, chegando a 2,66 milhões de hectares. O avanço da cana implicou a diminuição de 5,5% das áreas de cultivo de laranja e a retração de 1,7% nas áreas de pastagem, que, em 2002, foram estimadas em 8,5 milhões de hectares.
E o processo deverá incrementar-se pelos próximos dois ou três anos. O IAC (Instituto Agronômico de Campinas) acredita que a pecuária poderá ceder ainda mais 10 milhões de hectares à agricultura. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já fala em 22 milhões de hectares.
O fato é que o pecuarista não tem resistido à renda oferecida pela agricultura. Segundo levantamento da Scot Consultoria, o lucro médio obtido com a pecuária de corte varia de R$ 80,00 a R$ 150,00 por hectare, enquanto o arrendamento para a agricultura tem proporcionado rendimentos de R$ 300,00 a R$ 700,00 por hectare.
Assim, a lavoura ocupa as fazendas, e à pecuária são destinadas as piores áreas da propriedade. Por muitas vezes, busca-se manter nessa área, pobre e reduzida, a mesma quantidade de cabeças, configurando um quadro de superpastejo e degradação previsível.
Felizmente, esse não é o único reflexo observado. O pecuarista que acredita no “negócio pecuária” aproveita o momento para investir, intensificar, aplicar em tecnologia. A pecuária, assim como a agricultura, responde bem à tecnificação, seja na cria, recria ou engorda.
Com base em levantamentos de campo em fazendas de recria e engorda, a Scot Consultoria traçou uma estimativa do impacto da incorporação de tecnologia na pecuária de corte (tabela 1). Os resultados econômicos são crescentes com o melhor aproveitamento da área. A partir de 1,2 UA/ha já é possível obter rendimentos próximos aos proporcionados pela agricultura.
É preciso frisar também que a intensificação é um processo que deve ser conduzido com critério, não é sinônimo de superpastejo.
Além de também responder bem à aplicação de tecnologia, assim como a agricultura, a pecuária de corte é tida como um dos investimentos mais seguros.
Das atividades agropecuárias, a pecuária é uma das que menos sofrem a influência do clima. O boi pode atravessar facilmente uma seca sem perder peso, desde que disponha de um bom volume de macega e suplementação leve. Já a lavoura não rende se não chover no momento certo.
Além do mais, o rebanho bovino é um ativo real, de alta liquidez, que pode ser negociado com qualquer era e em qualquer período. O que se faz, por exemplo, com uma lavoura de milho que não vingou? E, quanto maior a tecnologia empregada, maior o número de animais, portanto, maior a liquidez dos ativos da empresa.
Por fim, o mercado para a carne bovina é tão, ou até mais, promissor quanto para os produtos gerados pela agricultura. As exportações quebram recordes, sinalizando algo próximo a 1,25 milhão de toneladas em equivalente carcaça embarcadas ao final de 2003.
O Brasil já é, em volume, o maior exportador de carne vermelha do mundo, atendendo a uma carteira com mais de 100 clientes. Os trabalhos agora se direcionam para a valorização do produto brasileiro no mercado internacional.
Internamente, os avanços são claros. Os programas de sanidade têm sido conduzidos com sucesso, a rastreabilidade já atinge mais de 10 milhões de animais, discute-se a elaboração de uma tabela nacional de tipificação de carcaças, começam a ser elaborados trabalhos profissionais para promover e incentivar o consumo de carne bovina, etc. O setor está adotando uma postura mais profissional.
Tanto que os profissionais, os mais competitivos, não abandonam a atividade. O avanço da agricultura é apenas um estímulo para produzir mais, e com mais eficiência. O rebanho cresce, assim como o desfrute, mesmo com as áreas de pastagem diminuindo.
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Prezado Fabiano,
Acredito muito no que você falou e gostaria de te dar uma experiência prática minha. Não é simulação e sim acontecimentos reais.
Trabalhei numa fazenda no Mato Grosso do Sul durante 7 anos. Quando cheguei ela tinha 28000 ha de pasto e 2000 ha de lavoura. O rebanho era de 35000 cab e abatia 10000 cab/ano.
No final dos 7 anos que fiquei lá a área de pastagem foi reduzida para 22000 ha e a lavoura aumentou para 8000 ha. O rebanho cresceu para 42000 cab e o abate para 17000 cab/ano.
Não teve milagre algum para fazer isto acontecer. Usei as técnicas que você mencionou no seu artigo.
A grande dificuldade que vejo para fazer isto acontecer é a administração da implantação destas técnicas. Pois, elas precisam ser precisas e feitas na hora certa. E quero dizer na hora certa, quando a operação dá margem de recursos para isto. Hoje temos margem na recria e engorda boas. Mas a 2 ou 3 anos atrás a quantidade de recursos que sobrava era muito pequena.
Acredito que esta evolução da lavoura sobre os pastos é algo que vai acompanhar o mercado. E quanto mais bem administrada for a fazenda de pecuária, mais facilmente ela entrará na lavoura.
Como sei que tem muita gente que falá que simulação é só números no papel. Então, resolvi ilustrar, praticamente, o seu bom artigo.
Obrigado pela sua atenção.
Limão