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“Agroinfluencers”: jovens mostram o orgulho de ser do campo nas redes sociais

Um estudo preliminar conduzido em 2021 pela professora Marlene Grade, do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), se propôs a quantificar o número de influenciadores digitais que se multiplicaram no Brasil para compartilhar conteúdos do meio rural. Os agroinfluencers caíram no gosto das redes sociais, em especial do Instagram e do TikTok, desde 2018, e cumprem, individualmente, uma tarefa que governos e entidades vêm fomentando, com sucesso relativo, de melhorar a imagem do produtor, de seus meios de produção e da atividade agropastoril.

A partir de uma amostragem de 140 perfis nas redes sociais, a professora Mariane, e seu orientando de graduação Eduardo Marcus Bodnar, identificaram que a maior parte dos agroinfluencers era de mulheres (69,14%), com média de seguidores entre 5 mil e 170 mil. A amostra considerou 21 estados, com concentração de casos nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

O trabalho da UFSC também apontou a variabilidade de níveis socioeconômicos e culturais dos influenciadores, de agrônomos e produtores até professores, comunicadores e universitários. Os pesquisadores destacaram que pelo menos 61,15% dos perfis enaltecem e defendem a agricultura tradicional como um modelo a ser seguidos e que 69% faturam de alguma forma com o marketing de influência, não apenas com produtos ligados à agropecuária (como máquinas e insumos), mas também nos convites para apresentação em feiras do setor e eventos, além de roupas, acessórios e alimentos.

Jaciara Muller, secretária geral e coordenadora estadual de jovens da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), avalia que a pandemia levou os jovens do campo a uma sacada de mestre. “Muitas propriedades sobreviveram à pandemia com o trabalho dos jovens divulgando nas redes”, comenta. Segundo a sindicalista, as redes sociais não apenas mostraram o empenho da juventude em valorizar a profissão de agricultor, como também expressaram a mudança na importância do papel mulher agricultora nas propriedades. “Elas se desafiam e mostram que podem fazer e estar onde quiserem”, ressalta.

Jovens como Marlise Schimitz, Pedro Pastore (na foto), Gabriela Comunello e Bárbara Bedin (com histórias completas na página central) justificam os milhares de seguidores com conteúdos que fogem ao artificialismo, priorizando a simplicidade e a autenticidade no dia a dia. 

Talento que colocou marmeleiro no mapa

Foi correndo atrás de um touro, em 2019, furiosa porque o pai, carinhosamente chamado de “nêne”, esqueceu de ligar a cerca elétrica, que Gabriela Regina Comunello, de 21 anos, ganhou as redes sociais. Somando os seguidores do Instagram, do Facebook e do Youtube, a moça, que auxilia o pai em uma pequena propriedade no município de Marmeleiro, no Paraná, ultrapassa os 900 mil seguidores. “Eu postei o vídeo correndo atrás do touro de brincadeira e num instante teve mais de 20 mil visualizações, daí achei que tinha alguma coisa para explorar e comecei”, conta. 

Depois de correr o Brasil excomungando o “nêne” por deixar escapar o rebanho, Gabriela decidiu mostrar o trabalho da família e expressar seu orgulho em fazer parte da agricultura familiar. No estabelecimento do pai, são plantados milho e soja, mas a renda principal vem da produção de 35 vacas, cuidadas com apreço pela jovem. “Minhas mimosas são tudo pra mim, e eu aprendi em quatro anos a expor da melhor maneira o meu trabalho com elas”, ressalta. O salário de Gabriela é composto pelo ganha no manejo das vacas e o marketing de influência nas redes sociais. 

Ela garante que ser influenciadora lhe deu um conforto, de trabalhar da própria casa levando bom humor e uma visão positiva da mulher do campo. “Nós não estamos nas redes vendendo nosso corpo, estamos mostrando como é bonito o trabalho da agricultura, que pode fazer tudo o que o homem faz. Também gosto de pensar que levo bom humor para as pessoas, que estão na casa delas, às vezes tristes, e podem rir comigo”, salienta Gabriela, que viu um incremento significativo de seus seguidores durante a pandemia. Daqui alguns anos, ela pretende retomar os estudos para talvez cursar Agronomia. Por enquanto, está feliz em Marmeleiro, município de 15 mil habitantes. “Me sinto feliz, integrada ao mundo, próxima das pessoas, mais conhecida do que feijão, como diz o pai,” completa.

Aos 21 anos, Gabriela Comunello, de Marmeleiro, no Paraná, aprendeu a produzir conteúdos mostrando o trabalho da família e cenas engraçadas do dia a dia, como quando teve de correr atrás de um touro porque o pai, o “nêne”, deixou a cerca elétrica da propriedade desligada 

Autenticidade na lida dos Bedin

Bárbara Bedin, de 20 anos, mora em Linha Berno, no município de Seara, interior de Santa Catarina. Com conteúdo bem-humorado, ela e os irmãos, Pedro, de 14 anos, e Brenda, de 6, somam mais de 170 mil seguidores no Instagram e 300 mil no Tik Tok. Os perfis geridos por Bárbara mostram situações do cotidiano da família, como a ordenha das 42 vacas, manejo dos suínos, e o plantio de soja e milho. Além dos estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) − ela pretende conquistar uma vaga em uma instituição federal no curso de Medicina Veterinária −, Bárbara ajuda o pai, Sidimar, e a mãe, Fernanda, nos afazeres da propriedade. 

Segundo ela, a vida mudou bastante desde que obteve sucesso nas redes sociais. O marketing de influência lhe rendeu, por exemplo, um telefone novo, para melhorar a qualidade de suas postagens. “A maior parte do dinheiro eu guardo para usar mais tarde”, diz ela, brincando que “poderá” dividir o dinheiro com os irmãos, coadjuvantes em seus conteúdos. Para Bárbara, as redes sociais trouxeram a possibilidade de levar o que acontece na vida dela e na da família, numa cidade com menos de 20 mil habitantes, tanto a internautas do meio rural quanto do meio urbano. “O que me alegra é saber que com um vídeo meu, ou um vídeo meu com o Pedro e a Brenda, leva felicidade e riso para alguém que pode ter tido um dia difícil na cidade”, pontua. 

A influenciadora acredita que a aceitação de conteúdos como o dela chamam atenção pela autenticidade e simplicidade. “A gente posta sem estar arrumado, sem maquiagem, vida real mesmo”, brinca. Parceira de Bárbara, Brenda, de 6 anos, é uma dose a mais de espontaneidade para responder às tradicionais perguntas dos internautas. “Bárbara, o que vocês planta?”, questiona o seguidor. Sem cerimônias, Brenda responde: “Nós planta soja (sic), mas não é nós não (sic), é o pai que planta!” 

Com a pequena Brenda, de 6 anos, Bárbara Bedin mantém 170 mil seguidores no Instagram e 300 mil no Tik Tok, sem produção prévia, sem maquiagem, “vida real” mesmo, como ela faz questão de dizer 

140 perfis de influenciadores digitais voltados aos agro foram analisados em 2021 no trabalho no curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Catarina 69,14% destes perfis eram mantidos por mulheres, com média de seguidores entre 5 mil e 170 mil. A amostragem considerou influenciadores em 21 estados, com concentração de casos nas regiões Sudeste e Centro-Oeste O trabalho da UFSC também identificou os níveis socioeconômicos e culturais dos influenciadores, que variavam de agrônomos e produtores até professores, comunicadores e universitários. 61,15% dos perfis enalteciam e defendiam a agricultura tradicional como um modelo a ser seguidos. 69% dos influenciadores faturaram de alguma forma com o marketing de influência, não apenas com produtos ligados à agropecuária (como máquinas e insumos), mas ainda na forma de convites para apresentação em feiras e eventos do setor.

Fonte: Correio do Povo.

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