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Alterações de ingestão em confinamento: o papel da umidade

Por Dr. Sérgio Raposo de Medeiros1

O consumo da dieta oferecida no confinamento, após a fase de adaptação, segue um padrão constante no dia a dia, aumentando paulatinamente conforme o peso vivo do animal aumenta.

O valor do consumo pode ser semelhante ao estimado no momento da formulação ou não e, em caso negativo, pode ser aconselhável rever a formulação da dieta.

Certas vezes, contudo, há variações inesperadas no consumo, para mais ou para menos. Um dos principais motivos responsáveis por esse fato deva-se a alterações no teor de matéria seca (MS) do volumoso.

Dessa forma, o consumo esperado pode ser 21 kg de matéria orignal para uma dieta com 50% de MS (ou seja, consumo de 10,5 kg de MS), mas repentinamente passar a 19 kg de matéria original.

A primeira avaliação poderia ser a de redução no apetite dos animais, mas uma análise da MS do volumoso pode ajudar a mostrar que o consumo em MS permaneceu igual, o que é de se esperar. Esse seria o caso se o resultado da MS dessa dieta mostrasse um aumento de 10% no teor de MS (isto é, passaria de 50 para 55%). Com esse valor, o consumo de 19 kg de matéria original equivale a 10,5 kg de MS ( = 19,1 X 55/100 = 9,45 kg).

Na prática, alterações pequenas de MS, como essa, nem sempre são percebidas. O ideal é fazer um controle constante da umidade da dieta ou dos ingredientes da dieta que possam apresentar maior variação. Normalmente, o ingrediente que demanda esse monitoramento é o volumoso.

Se esse volumoso for uma forragem in natura, é possível com o simples uso de um microondas doméstico, determinar em rapidamente a umidade e fazer as correções praticamente em “tempo real”.

Outros volumosos, como silagem de grãos, podem não dar resultados acurados (próximo do real) na análise com microonda, mas ainda assim, podem servir como indicadores de alteração da umidade. Para estes, já existem equipamentos especiais que conseguem medir corretamente a umidade.

No caso do volumoso ser silagem, cuja conservação ocorre por fermentação e abaixamento de pH, a umidade pode ser responsável por baixa ingestão de matéria seca. Isso ocorre porque quanto mais umidade a silagem apresentar quando for ensilada, maior é a necessidade de um pH mais ácido para sua boa conservação, sendo, portanto, mais crítica sua conservação.

Por conta disso, é comum que a consevação não seja total e haja fermentações secundárias que produzem ácidos orgânicos que reduzem o consumo ou que permitem ainda a degração dos aminoácidos em substâncias com os sugestivos nomes de cadaverina e putrescina, também inibidores de ingestão.

No caso de ser apenas alteração da MS do volumoso, basta checar e, se necessário, recalcular a quantidade para manter a mesma oferta de MS. Por exemplo, se o teor de MS da dieta do exemplo acima tivesse sido 45% em vez de 50%, seria necessário aumentar a dieta para 23,3 kg/cab.dia (= 23,3 X 45/100 = 10,5 kg).

Com essa MS mais baixa e sem corrigir, os animais estariam consumindo 1kg de MS a menos e o desempenho seria pior que o esperado, na hipótese do consumo restrito.

Na verdade, há vários aspectos que devem ser considerados com relação a algo tão simples como a umidade dos ingredientes e da dieta como um todo. Entre este podem estar:

– eventuais diluições dos demais ingredientes da dieta e o efeito que isso pode causar no desbalanceamento da dieta;
– alterações no custo do ingrediente em função do teor de MS (quando transformado em MS, pode-se ter um susto com alimento com mais água do que o esperado);
– a alteração da relação volumoso:concentrado.

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1 Pesquisador da Embrapa Gado de Corte e responsável pelo Laboratório de Nutrição Animal.

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