As notícias sobre as perspectivas da carne bovina brasileira têm se caracterizado pelos contrastes, ora muito otimistas e ora pessimistas, normalmente muito mais otimistas e com muito pouco realismo.
As previsões de exportações favoráveis no ano passado não se confirmaram totalmente, principalmente em termos de valor total. Os surtos de febre aftosa nos estados de Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul tiveram grande influência, mas não justificariam por si só o comportamento das exportações. A falta de tradição, e de uma marca forte no mercado externo, foram e continuarão a ser entraves importantes que limitam as exportações brasileiras de carne bovina. Recentemente tem havido uma preocupação maior tanto pelas autoridades como pelos integrantes da cadeia da carne bovina. Entretanto ainda estamos longe do mínimo desejado.
Com o agravamento da doença BSE (vaca louca) na Europa durante o ano passado devido à ocorrência de casos em vários países além da Inglaterra, a primeira reação foi a de que o Brasil poderia tirar enormes vantagens da situação, podendo aumentar significativamente as exportações em 2.001, pois é um país sem registro de ocorrência da doença e sem risco de seu aparecimento em função da dieta de nossos ruminantes ser totalmente de origem vegetal. Entretanto, devido ao surgimento da doença “scrapie” em ovinos no Paraná e principalmente devido à falta de informações seguras sobre o número e o rastreamento dos bovinos importados dos países que apresentaram ocorrência de BSE após as importações, o Brasil acabou recebendo da Comunidade Européia a classificação 2, correspondente a risco intermediário de surgimento da doença. Muito embora não existam dúvidas de que fatores relacionados à disputa comercial com o Canadá foram de fato o principal motivo do embargo canadense à carne bovina brasileira, a imagem da nossa carne ficou muito prejudicada, principalmente porque expôs o problema da falta de informações prontamente disponíveis sobre o número e sobre o rastreamento dos animais importados. Isso tende a caracterizar que as autoridades brasileiras estavam dando pouca importância ou não reconhecendo a gravidade da doença, ou pior ainda, que o país não estaria capacitado a enfrentar o problema.
Com a suspensão do embargo à carne bovina brasileira pelo Canadá e demais países do Nafta, surgiu uma onda de otimismo exagerado de que o Brasil tiraria enormes vantagens, pois a suspensão seria um reconhecimento de que o país estaria livre da probabilidade de surgimento da BSE. O problema é que o mercado internacional provavelmente não teria a mesma leitura, pois para a Comunidade Européia o Brasil ainda está na classificação 2 em termos de risco de ocorrência de BSE. Por esse motivo, e pelo fato do consumo de carne bovina ter despencado na Europa, e sofrido retrocesso em outros países potenciais importadores, aumento drástico de exportação dificilmente terá condição de ocorrer.
Uma outra onda de otimismo exagerado é a expectativa de aumento drástico das exportações de carne bovina brasileira em função do surgimento de focos de aftosa na Europa e principalmente na Argentina. No curto prazo, deve ser esperado um aumento nas exportações, pois vários países já proibiram as importações da Argentina e o Brasil tem condições de pelo menos em parte ocupar o espaço que está sendo deixado pelos nossos vizinhos. Entretanto, no médio prazo, as exportações líquidas podem não aumentar muito. A razão principal é que deverá ocorrer um excesso de carne na Argentina com conseqüente queda de preços. O Brasil seria um mercado natural para essa carne, o que diminuiria as exportações líquidas, principalmente em termos de reias ou dólares. Entretanto, o aspecto mais negativo para o sistema produtivo brasileiro seria a redução dos preços. Uma saída seria a proibição total de importação de carne de animais afetados pela aftosa da Argentina mas, problemas comerciais e diplomáticos podem surgir. Conseqüentemente o futuro do Mercosul estaria ameaçado caso o problema não tiver um encaminhamento adequado.