Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA, comentou notícia publicada no BeefPoint e rebateu informações divulgadas pela ABRAS sobre o preço da carne bovina no varejo em relação ao preço do boi, em rápida palestra sobre situação atual da pecuária de corte, na semana passada em São Paulo, SP, durante lançamento do congresso internacional da carne, que acontece em junho, em Campo Grande, MS.
Antenor mostrou dados levantados pelo Cepea, comparando diferentes intervalos de tempo. Entre janeiro e dezembro de 2010, a carne bovina realmente subiu menos que o preço do boi gordo. O ano de 2010 foi marcado pela grande recuperação do preço do boi, que acumulava grandes perdas em relação a inflação, desde o final da década de 90, ao mesmo tempo que houve elevação de custos. Em relação a 2009, o varejo diminuiu suas margens em 2010.
No entanto, no ano de 2009, ocorreu o inverso. Todos os preços caíram (boi gordo, carne ne o atacado e carne no varejo), mas os preços do boi gordo caíram mais. Ou seja, nesse ano de queda de preços, o varejo aumentou suas margens.
Ao se usar um período de tempo mais longo (janeiro de 2004 a dezembro de 2010), fica claro que os preços da carne bovina no varejo subiram muito mais que os preços da carne no atacado e também do boi gordo.
Ou seja, entre 2004 e 2010, a margem relativa dos supermercados em relação a frigoríficos e produtores aumentou. É interessante avaliar esses dados dentro de uma perspectiva de mais longo prazo e perceber que ao longo dos anos, o poder de barganha dos supermercados aumentou, se avaliado o preço relativo carne x boi.
Os supermercados vem sendo criticados há tempos pelas altas margens embutidas nos preços da carne bovina. Em muitos casos, quando há processamento dentro da loja, é compreensível que a diferença entre o preço de compra e venda seja alta, mas em casos (cada vez mais frequentes) de venda de carne embalada, é difícil defender markups acima de 100%, como acontece em alguns casos.
As informações divulgadas pela Abras no final de fevereiro foram uma tentativa de aplacar essas críticas, mas o tiro pode sair pela culatra. Ao mostrar dados, preços históricos e diferenças de valores, há uma chance muito grande do varejo perder força nesse debate. Vai ser difícil convencer o consumidor que o varejo fica com mais de 50% do preço final de um produto que demora pelo menos três anos para ser produzido (incluindo estação de monta e gestação do bezerro).
O aumento do poder do varejo é uma tendência mundial. Pouco adianta criticar essa situação sem propor alguma ação ou atitude.
Os frigoríficos têm buscado vender mais e melhor para outros canais de distribuição, como food-service (restaurantes, fast-food, etc), açougues e boutiques de carne e também em projetos de venda direta, como as vans do JBS.
Os gráficos são da apresentação de Antenor Nogueira. E os comentários são de Miguel Cavalcanti, coordenador do BeefPoint.
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esses dados precisam ser densamente explorados e publicados.
o consumidor precisa ter ciência das fatias do mercado.
porque não colocar uma plaquinha informando: kg da carne = R$ 21,00 (R$8,00 para o produtor, R$4,00 para o atacado e R$ 8,0 para o varejo). será que topariam?
Caros leitores;
Em minha opinião se torna difícil fazer esta comparação e avaliar sem dados mais profundos que tem ficado com a maior fatia deste bolo, visto que com o andar dos tempos os custo de produção, beneficiamento e comercialização da carne bem como as diversas formas de comercialização mudaram muito. E tratar os desiguais de forma igual é injusto, assim se compararmos o individuo que comercializa carne in natura em pequenos açougues no interior do país com as grandes redes de supermercado que comercializam carne fatiada resfriada em pequenas embalagens embaladas a vácuo teremos margens de lucro bruto completamente diferentes, bem como a indexação do preço da carne resfriada entregue pelo frigorífico com a carne comercializada se torna mais distante, pois a formação do preço final do produto comercializado pelo supermercado e formada por uma cesta de custos em que a carne resfriada entregue pelo frigorífico se torna uma mera matéria prima que pode contribuir na formação do preço final de forma diferenciada, assim não podemos usar sequer o IPCA como forma de avaliação, pois nao existe um índice inflacionário capaz de avaliar a inflação nos custos dos varejistas ou de qualquer outro elo da cadeia produtiva, é bastante obvio que quanto maior beneficiamento e agregação de valor do produto no supermercado menor é a indexação do valor da carne ao consumidor à carne paga ao produtor, toda vez que temos uma alteração dos valores pagos aos produtores esta discussão vem a tona, porém repito que não existe indexação de preços pagos aos produtores e preços pagos pelo consumidor, assim uma variação de preços pagos ao produtor não vai impactar na mesma intensidade nos preços pagos pelo consumidor.
Atenciosamente.
Debate inocuo sem qualquer efeito pratico – o varejo vai continuar mandando no setor praticando as margens que querem , sem que entidade nenhuma possa fazer algo a respeito – quem manda, este sim é o consumidor , o qual é notorio rejeitou os altissimos precos dos meses anteriores , forcando significativas baixas nos precos da carne bovina no balcao do supermecado – em muitos supermercados ja se encontram filet mignon de 18 reais o Kilo (vi ontem a R$ 17,80 acreditem – em novembro tinha supermercado com etiqueta de R$ 60 o kilo !!)-picanha maturada resfriada ja vi a R$ 18,98 – Marca Seara Marfrig vi a R$ 22 a R$ 25 -lembrem-se que chegou a mais de R$ 50 no final do ano passado – e os outros cortes tambem no geral os precos cairam significativamente apesar do boi nao haver baixado na mesma proporcao –
entao aquela velha maxima de que boi é uma coisa e carne é outra segue valendo – e a carne vai sempre no inverso da corrida – boi sobe carne demora a subir – boi baixa a carne ja baixou antes –
e os frigorificos realmente tem tentado achar outros canais de distribuicao -mas nao sao ainda suficientes ( e talvez nunca o serao!) para poderem dar uma “banana”para os varejistas…..e por falar em distribuicao direta – as famosas vans do JBS parece que fracassaram??Nao se ouve mais falar nisto! Será que o projeto foi por agua abaixo como sabiamente vaticinaram alguns profundos conhecedores deste mercado? Estou curioso para saber ..alguem aí poderia nos informar?
No meu entender os supermercados funcionam com uma grande rede de segurança para os frigorificos porque a concentração e o consequente aumento da escala e a grande centralização do poder de decisão provocaram gargalhos logisticas sem precedentes e qualquer falha ou imprevisto de tempo e/ou de carater burocratica tem um impacto grande e direto sobre o que os supermercados podem fazer e de fato fazem com a carne e seus derivados.
Se os frigorificos se focalizaram nos supermercados e o consumidor final aqui no País com certeza os resultados seriam bem diferentes e muito melhor para todos os integrantes da cadeia e principalmente para nos consumidores.
Um outro ponto é que o conhecimento dos consumidores dos varios cortes, qualidades e problemas podia ser muito melhor trabalhado institutionalmente pelos elos da cadeia de carne bovina.
Creio que grande parte do comercio de carne para o mercado interno é feito num clima de quase panico para poder desovar estoques e produtos que não podem ser exportados.
Os elos de cadeia que conseguem fidelizar os seus fornecedores e clientes compradores, tanto no mercado interno como externo, e planejar as suas operações de acordo com isto vão sair na frente sem precisar fazer investimentos em elefantes brancos que de vez em quando aparecem nas cidades!
Tambem creio que a fiscalização e normatização sobre o manuseio da carne e seus derivados deve ser muito mais rigoroso porque como que está cada dia pode ser um risco para a saude publico.