A China consome a maior parte das commodities agrícolas exportadas pelo Brasil. Há anos, o país asiático figura como um dos principais responsáveis pelos sucessivos resultados positivos na balança comercial do agronegócio brasileiro. E não há sinal de mudança dessa tendência no curto prazo. Até outubro deste ano, os chineses compraram US$ 23,8 bilhões em produtos do Brasil, o equivalente a quase 30% do total de US$ 81,99 bilhões, em relação a igual período de 2016 (veja gráfico).
O país asiático também merece destaque nos números do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). A Pasta calcula saldo positivo entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões na balança comercial, sendo que, até setembro, apenas o superávit ligado às transações com a China representava 30% desse total. Parte considerável desse montante veio da compra de commodities agrícolas, como a soja.
Com tamanho peso nas exportações brasileiras do agronegócio, a dúvida que sempre permeia as análises de especialistas do setor é se não é arriscado manter uma dependência nesse nível.
Analistas concordam porém que, se houver recuo nas compras da China, isso não deve ocorrer nos próximos anos. Para o analista Fábio Meneghin, da consultoria Agroconsult, o consumo de commodities brasileiras – não só as do agronegócio – pelo gigante asiático deve se expandir, mesmo porque se projeta um incremento anual da economia daquele país na taxa de 6% a 7% para os próximos anos. “A China deve continuar sendo principal parceiro comercial do Brasil.”
O pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, lembra que o agronegócio do Brasil continuará a ser estratégico para o abastecimento não só da China, mas do mundo. Apesar de reconhecer que a tecnologia nacional ainda precise avançar, Carvalho ressalta que, em termos de clima, disponibilidade de solo e água, não há um país com vantagens comparativas maiores.
Ele assinala que a disputa entre as commodities mais vendidas para lá deve se acirrar nos próximos anos, o que não prejudicaria o Brasil. A liderança deve permanecer com a soja, “até pelas escolhas políticas e de mercado tanto do governo brasileiro quanto do chinês”, diz. “Entretanto, as carnes ganharão cada vez mais espaço.”
No dia 1.º de novembro, por exemplo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou a habilitação, pela China, de mais 22 plantas frigoríficas brasileiras, sendo 11 de bovinos e 11 de frangos, com potencial para gerar US$ 50 milhões por ano. Além disso, em meados do mês um grupo de empresários chineses visitou Mato Grosso para conhecer a produção de suínos, informou o governo do Estado.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, também é otimista quanto à expansão dos embarques do agronegócio brasileiro para o mercado asiático. No seu setor, projeta que o incremento da receita de exportações de carne bovina in natura só para a China, que até outubro deste ano foi de US$ 718 milhões, com 166 mil toneladas, deverá alcançar 10% – o volume embarcado até outubro já superava o total de 2016 em 7,4%, conforme a Abiec, com base nos dados do MDIC. Ele avalia que a manutenção no poder do líder do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, indica que o país manterá a tendência de abrir mais a economia.
Para o executivo, a credibilidade da proteína animal brasileira naquele mercado conseguiu, inclusive, prevenir maiores estragos provocados pela Operação Carne Fraca, em março, além dos escândalos envolvendo os executivos a JBS. “A China chegou a suspender alguns contratos de exportação, mas logo reviu a decisão.”
Fonte: Estadão, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.