O tema mercado do boi gordo é um dos mais relevantes relacionado a rentabilidade do setor pecuário. Por isso é o assunto mais procurado, conversado e discutido. Entender as tendências de mercado dos mais diversos fatores que influenciam o mercado do boi é fundamental para se planejar e aproveitar as oportunidades.
Com o objetivo de conhecer os principais profissionais que trabalham direta e indiretamente com análise de mercado pecuário, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas para compartilhar o trabalho destes profissionais, buscamos reunir informações consistentes sobre o tema.
Queremos conhecer mais como essas pessoas pensam, o que prestam atenção, o que consideram mais importante e o que sentem falta ao fazer seu trabalho de análise de mercado.
Para conhecer melhor quem tem se destacado no mercado pecuário no Brasil, acompanhe nossa série de entrevistas.
Confira a entrevista com Flavio Abdo Saraiva Santos, profissional focado na gestão de hedge, comercial de venda e compra de grãos e proteína animal há mais de 20 anos.
Flávio tem experiência em negociação de produtos financeiros, administração em fundos de investimento e contas especiais; identificação de riscos e oportunidades nos mercados derivativos de commodities; estruturação de operações de derivativos futuros, opções, termo e spot; análise fundamentalista de grãos e proteínas animais e gestão comercial de compra e venda de grãos e bovinos.
Atualmente, é responsável pelas operações de hedge da Holding Conforto, proprietária da Fazenda Conforto, maior confinamento do Brasil; Foco em derivativos, travas em mercado futuro e opções; Foco em garantir margem (rentabilidade no confinamento ) e negócios de alto risco.
BeefPoint: Quais as principais ferramentas para conseguir analisar o mercado de forma ampla?
Flavio Santos: Visão macro: Deve ser feita uma análise de oferta e demanda mundial; análise econômica global para analisar consumo (PIB, renda, etc), preços de boi e carne dos países concorrentes, analisar competitividade para exportação e importação e oferta de animais nos países concorrentes.
BeefPoint: Quais são os gráficos que você acompanha diariamente para fazer uma boa análise?
Flavio Santos: Gráfico do diferencial de base SP x outros estados, Gráfico relação de troca boi x bezerro e o gráfico arroba de boi x carne.
BeefPoint: Quais são os principais indicadores para analisar o mercado do boi, na sua opinião?
Flavio Santos: Os indicadores principais são: clima; ciclo pecuário; margem dos frigoríficos e supermercados e margens dos pecuaristas (cria, recria e engorda).
BeefPoint: O que você lê de notícias, análises e relatórios de mercado? Quais são as leituras indispensáveis?
Flavio Santos: Existem bons relatórios indispensáveis: USDA, World Beef Report e IBGE.
Notícias (sites): BeefPoint, Agronews, e notícias agrícolas.
Análises: Rabobank, Bradesco, Itaú e Scot.
BeefPoint: Quais principais fatores devemos olhar pelo lado da oferta e do consumo para uma análise de curto e médio prazo?
Flavio Santos: Fatores pelo lado de oferta: clima, ciclo pecuário, pastagens (Brasil e mundo)
Fatores pelo lado de demanda: renda, crescimento de PIB, carnes concorrentes e demanda mundial
Vale lembrar que hoje a globalização é uma importante variável para as análises de competitividade dos países exportadores de carne.
BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e acertar a tendência de preços? Quais lições você tirou desse episódio?
Flavio Santos: Estou há mais de 20 anos na parte de gestão de hedge, existem vários fatos ocorridos nesse longo período. Vamos a um deles:
Em novembro de 2010, estávamos com uma euforia no mercado de boi gordo, baixa oferta de animais, cenário macroeconômico positivo, o mercado estava bem otimista para a entressafra do preço do boi gordo para o ano de 2011. Fizemos o hedge para o primeiro giro de confinamento (julho de 2011) comprando opção de venda de boi gordo para julho de 2011 ao preço de R$105,00 por arroba a um custo de R$1,42 por arroba.
Na liquidação dessa operação o nosso hedge nos garantiu uma venda de R$103,58 por arroba, que nos garantia uma margem de contribuição de mais de R$200,00 por animal ou seja, mais de 23% de margem na operação.
BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que aconteceu o contrário, onde não conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e errou a tendência de preços? Quais lições você tirou desse episódio?
Flavio Santos: Em 2008, no auge da crise da Europa, não tínhamos feito o hedge do preço de venda dos bois, baseado exclusivamente no grande volume de exportação que estávamos tendo em 2007. Por esse motivo não fizemos o hedge da nossa operação e isso nos proporcionou um ano que não nos rendeu uma boa rentabilidade.
BeefPoint: Em sua opinião, quais são os principais dados em falta na pecuária brasileira para que se possa fazer uma análise consistente do mercado? O que poderia ser feito para reduzir esse problema? Qual órgão poderia contribuir de forma mais efetiva?
Flavio Santos: No Brasil, não possuímos dados confiáveis sobre rebanho, abate (machos e fêmeas), produtividade, % de prenhes das vacas etc.
Para reduzirmos esse problema, o governo federal, através do Ministério da Agricultura e do IBGE, deveria fazer um levantamento em todas as propriedades rurais do Brasil, colhendo todos os dados necessários para análise do setor pecuário, para que dessa maneira, toda essas informações possam ser utilizadas para uma análise mais construtiva para a cadeia produtiva de boi gordo e carne.
BeefPoint: Qual o maior desafio do analista do mercado da pecuária?
Flavio Santos: Na minha visão, os dados sobre a pecuária são muito conflitantes e pouco confiáveis, desta maneira deixando o analista numa situação pouco confortável para as suas projeções e análises do setor.
BeefPoint: Qual profissional da área é sua referência?
Flavio Santos: Hoje temos bons profissionais neste mercado, vou citar dois nomes que me mostram muita coerência e boas análises:
Alberto Pessina – Agropecuária Pessina (excelente profissional na gestão no seu negócio [pecuária e confinamento])
Michel Torteli – Minerva Foods (grande profissional e gestor das operações de derivativos [futuro e opções] e a termo do Frigorífico Minerva)
BeefPoint: Qual conselho você daria para quem quer começar a trabalhar na área?
Flavio Santos: Acredito que antes de qualquer operação de hedge ou mesmo operações em derivativos de boi gordo, o principal ponto é estar a par dos seus custos e saber como efetuar essas operações. Procure uma pessoa que conheça bem essas operações e aprenda o operacional, custos e riscos destas operações. Dessa maneira não acontecerão surpresas desagradáveis no seu negócio.
Comentário BeefPoint: Nosso muito obrigado ao Flávio Santos pela contribuição em nossa série de entrevistas. Muito obrigado por dividir com nossos leitores suas experiências, práticas e técnicas para que mais gente possa entender o mercado. Temos certeza que as pessoas que lerem a série de entrevistas vão ficar melhor habilitadas a entender o mercado e também vão se interessar mais por entender o que acontece e o que influencia o mercado. E entenderão as vantagens de se conhecer a fundo o mercado.
Veja a 1ª entrevista da série:
O mercado te amassa quando você acha que sabe tudo sobre ele [Rodrigo Albuquerque]
3 Comments
Excelente entrevista , tanto no conteúdo das perguntas quanto, e principalmente , nas respostas. Objetivas , sintéticas porém, muito informativas. Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador. Flávio Santos
Muito Obrigada Zanone. :-)
Agradeço em nome de toda Equipe BeefPoint.
Abraços
Flaviane
Excelente entrevista!
Concordo com o Flávio… o Michel é realmente um grande profissional!