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Aquecimento global, desertificação e o mapa da pobreza

As florestas tropicais em seu hábitat natural no meu ver são um exemplo de como devemos explorar a terra, onde os topos de árvores com a área foliar permanecendo verde durante ano inteiro tem uma enorme capacidade de lidar com um sol escaldante, chuvas torrenciais e temperaturas altas.

As florestas tropicais – Amazônia

As florestas tropicais em seu habitat natural são, a meu ver, um exemplo de como devemos explorar a terra, onde os topos de árvores com a área foliar permanecendo verde durante ano inteiro tem uma enorme capacidade de lidar com um sol escaldante, chuvas torrenciais e temperaturas altas.

Este primeiro andar de folhagem captador principal de luz solar, consegue quebrar temperaturas de mais de 50ºC e reduzi-la no andar térreo da floresta em temperaturas amenas, basicamente devido ao abençoado, mas muito desvalorizado, sombreamento.

Nas áreas de clima temperado, precisamos do sol para aquecer a terra e promover a vida, mas nas áreas de climas subtropicais e tropicais precisamos da sombra para esfriar a terra e estimular a vida, animal e humana. E a vida vegetal como fica?

É justamente sobre estas diferenças e questionamentos que ainda faltam muitas pesquisas e resultados. Como as plantas sombreadas podem fazer uma fotossíntese adequada e ter um desenvolvimento e produção aceitável? Que tipo de vegetação é a mais produtiva e eficiente em fotossíntese durante o ano todo? Como o ecossistema se mantém na floresta tropical, e o que está acontecendo com a fixação biológica do nitrogênio na floresta? Que mais está acontecendo por lá que não sabemos e devíamos estar sabendo antes de começar a agredir e destruir o meio ambiente na Amazônia?

Já sabemos que em grande parte da Amazônia a fertilidade da terra é construída acima de uma terra pobre e seu nível aparentemente alto é mantido pelo ecossistema, mas derrubando a mata, a terra é fraca. Assim uma fertilidade milenar enorme pode virar só terra fraca e iniciar o processo de desertificação em plena Amazônia num espaço de tempo relativamente curto de 3-10 anos.

A enorme contribuição para o meio ambiente mundial principalmente vindo das florestas tropicais é até hoje mal pesquisada e por isto mal entendida, sub-estimada e também muito desvalorizada, principalmente aqui no Brasil.

Os pesquisadores brigam, discutindo se a Amazônia é de fato o pulmão do mundo e um enorme seqüestrador de carbono, ou se como se trata de mata em estado de climax a soma é zero de saldo de oxigênio liberado.

Por ter duas estações típicas, sendo uma chuvosa e uma seca, é mais lógico que haja de fato uma liberação maior do oxigênio e por tanto é provável que a floresta seja o pulmão e um ar-condicionador e estes devem ser os maiores do mundo.

Existe um consenso de que o termo em vez de pulmão seria ar-condicionador do mundo e que na sua formação uma enorme quantidade de carbono foi seqüestrado e armazenado no eco sistema. Ás vezes podemos até chamar de purificador de gases também e sendo assim teremos um complexo de funções sendo exercido pelo ecossistema amazônico.

Caso haja desmatamento e se libere grandes quantidades de carbono. A enorme biodiversidade existente é tão majestosa e vasta que ainda temos muita coisa a aprender e desvendar sobre o potencial e funcionamento deste ecossistema, antes de poder dar licenças para a sua perturbação.

Sem dúvida nenhuma a maior riqueza ambiental do mundo está na floresta amazônica, da qual o Brasil tem o maior parte e por isto grandes investimentos em pesquisa e fiscalização deviam ter grande prioridade no orçamento da União.

Se colocarmos o valor de um hectare de floresta amazônica em sua plenitude de habitat natural a R$ 5.000.000,00, ninguém teria a coragem de sequer derrubar uma árvore. Creio que o valor deste hectare na floresta amazônica é simplesmente inestimável e por isto a União deve permanecer sua dona, e a eventual exploração sustentável pelos terceiros devem obedecer a um planejamento ambiental previamente autorizado e devidamente fiscalizado.

O assunto tem pressa, pois pelo jeito já tem gente e até países querendo comprar florestas tropicais como gerador de riquezas, incluindo os créditos de carbono que estas podem gerar.

Por isto sou defensor a proibição de qualquer derrubada não previamente autorizada de árvores, e apesar dessa lei já existir, estamos vendo que as derrubadas ilegais e a formação de pastagens e áreas agricultáveis continuam sem que pesadas multas e penas de prisão são aplicadas aos infratores.

Isto tem que acabar, pois estamos numa guerra de sobrevivência onde a floresta amazônica tem um valor estratégico incalculável.

A agropecuária

A pecuária foi recentemente apontada pelo FAO como responsável por cerca de 18% da emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente, e as licenças para o desmatamento na Amazônia com fins de abrir fazendas para a exploração da pecuária devem ser revistas o mais depressa possível.

O número e a conta destas exigências, cada vez maiores e mais abrangentes, sanitárias e ambientais incluindo também o uso de água, da pecuária ficarão cada ano mais pesadas e é plausível que a médio e longo prazo a carne será substituída por outros alimentos por causa de exigências ambientais e sanitárias impossíveis de serem cumpridas.

Mas isto tem que ser pesquisado e quantificado, para que decisões possam ser tomadas com bases científicas sólidos e não apenas palpites.

A agricultura convencional nas zonas de clima subtropicais e tropicais fica a cada ano mais difícil por causa do aumento da temperatura na terra e no ambiente, que aumentam os efeitos nefastos de veranicos sobre a produção final, e estes estão ocorrendo com uma freqüência e duração maior a cada ano.

O plantio direto tem diminuído em muito estas perdas de produção devido às estiagens, mas mesmo assim ainda precisamos plantar as lavouras anualmente e o efeito protetor contra altas temperaturas e falta de chuva é de curto duração.

Sabemos que um dos fatores mais importantes para poder resistir a uma seca é o desenvolvimento do sistema radicular. Os primeiros resultados da pesquisa “Seca Floresta” realizado no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), mostrou que as árvores tem mecanismos que lhes permitem sobreviver a condições climáticas adversas como a seca, porque cerca de 80% das árvores tem um sistema radicular difórmico.

A maior parte das raízes crescem horizontalmente em pouca profundidade no solo, mas a porção central é vertical. As raízes centrais conseguem transportar água de porções muito profundas do solo onde existe uma disponibilidade muito maior do que nas porções superficiais. Este processo de redistribuição hidráulica acontece à noite quando as árvores não estavam transpirando e esta água é absorvida pelas raízes horizontais durante ao dia.

Agora estou perguntando:

“Será que tem uma espécie de cooperativa de raízes na floresta onde algumas mais fortes e profundas cuidam do resto absorvendo água a noite enquanto os minerais são captados na superfície pelas raízes horizontais, ou existe um fluxo de minerais oriundo das profundidades maiores, será que ambos?”.

“Será que tem interdependência das espécies no mesmo ambiente tão abrangente que consegue amenizar coletivamente sérias ameaças?”

“Será que ignoramos totalmente em nossa agricultura atual os ensinamentos do IAC sobre a dobradinha seringueira/café que mostra vantagens nítidas quando há um certo grau de sombreamento móvel durante o dia?”

Quem compara o sistema radicular da cana com o do milho e da soja consegue ver imediatamente porque a cana é muito mais tolerante aos veranicos e estiagens. Trabalhando com as culturas anuais temos que partir a cada ano do zero no enraizamento e é obvio que em geral os perenes tem uma massa e perfil radicular muito mais poderoso e mais apto para resistir a condições adversas.

A cana e o milho são gramíneas e porque não desenvolvemos um milho perene ou, melhor ainda, porque não temos produções de alimentos de árvores e pomares os quais podem substituir tanto a soja como o milho com vantagens enormes para o meio ambiente, acabando de vez com a necessidade de explorar culturas anuais?

Já pensou numa possibilidade de ter árvores produzindo 6000-8000 kg por ha/ano de produto com 40% de proteína? Ou um outro que produz no mesmo rendimento por ha/ano um produto com 40% de óleo?

Às vezes a falta de uma pesquisa agrícola verdadeiramente tropical resultou em uma linha e doutrina científica que ficou muito presa ao modelo ocidental e por isto ficou parada no tempo e ainda não se desenvolveram plantas realmente adequadas para as nossas atuais condições onde, no meu ver, existe cada vez menos espaço para culturas anuais sem irrigação e não é só a falta de água, mas principalmente também o aumento das temperaturas os quais vão diminuir a viabilidade das culturas anuais.

A época de lavouras em escala industrial para fins de alimentação humana deve iniciar um período de declínio por causa das demandas e das exigências dos consumidores que querem, cada vez mais, alimentos frescos e produzidos num sistema sustentável certificado em termos do meio ambiente. Tanto é que pelo jeito a grande rede de supermercados Tesco já está pensando em fornecer um mapa (footprint) de carbono referente à produção dos seus produtos.

O Brasil poderá ser o líder mundial na verdadeira revolução verde tropical que vem aí substituindo grande parte das culturas anuais por perenes e árvores. Esta deverá ser uma prioridade estratégica para o país e o BNDES deverá financiar as pesquisas necessárias o mais rápido possível.

Tornar o ponto fraco e hoje vulnerável a base estratégica para o marketing e identificação dos produtos legais e certificados da Amazônia é um verdadeiro ovo de Colombo. É trocar a imagem atual de destruição, desmatamento e agressão que o consumidor tem hoje, pela imagem e percepção da beleza e da saúde que a região pode fornecer e agregar aos seus produtos.

A agropecuária legal na Amazônia deve se reunir em cooperativas que certificam os processos de produção e seus produtos e criar um selo de qualidade que identifica e certifica produtos produzidos legalmente pelas cooperativas na Amazônia.

A marca Amazônia é muito forte, vamos usar isto em nosso favor, cumprindo as leis que já temos.

0 Comments

  1. Josmar Almeida Junior disse:

    Prezado Louis.

    Parabéns pelo artigo. Compactuo com vossa filosofia, e aprecio seus artigos de longa data.
    Como ressaltado em vosso artigo, o desmatamento na amazônia para fins de exploração pecuária devem ser revistas o mais depressa possível, entretanto ressalto também a importância da implementação de diretrizes agrícolas sócio-econômicas em áreas já cultivadas. Este posicionamento prôvem também da leitura de seu artigo “cana com leite”.

    Estamos vivendo outra febre, a da bioenergia. As vezes fico pensando, que não sobra tempo para o pecuarista analisar em investir mais em produtividade, em promover o associativismo, pois sempre há um outro “eldorado” a se buscar.

    Temos que ressaltar que antes de toda esta febre existem seres humanos. Sou partidário à proteção de mercado que ocorreu no Rio Grande do Sul em relação à carne. Os pecuaristas de lá com certeza preferem produzir seus novilhos em seus potreiros, e não garrotes nos piquetes.

    E esta ilusão é exeqüível, basta profissionalismo.

    Abraços

  2. João Francisco S. Vaz disse:

    Prezado Louis,

    Seu artigo devia ser lido e avaliado pelas autoridades governamentais brasileiras. Vsª srª demonstra conhecimento de causa, e além de criticar a derrubada da floresta, prova que se pode ganhar muito mais dinheiro, aproveitando a floresta, digo :”cultivando a floresta”.

    Vivo e trabalho com Pecuária no extremo sul do Rio Grande, à 130 km do Uruguay,sobre o paralelo 32 lat.sul. Nossa Região é naturalmente coberta por campos e várzeas, e pobremente florestada. E mesmo assim, estamos preocupados em formar florestas(Eucalipto,algumas espécies de Pinus, Acácia,etc), tanto para fins econômicos, como para utilizar o potencial termo regulador da floresta, ajudando à diminuir extremos de temperatura, principalmente as mais altas.
    Imagino o que é destruir uma floresta como a Amazônica e deixar o solo descoberto nesta região. Basta ver nas revistas, as fotos aéreas de áreas à venda na Região Equatorial, onde a degradação do solo é evidente e chocante, em uma área que foi desmatada para formar lavoura ou pasto para o gado.

    É preciso que hajam incentivos para reflorestar a Floresta Amazônica. Quem disse que não podemos seguir vendendo madeira nobre(Mogno,Jequitibá,Cedro,e outros), dentro de um planejamento de abate de árvores e plantio de novas mudas? Ou alguém discute que 1 metro cúbico de mogno vale mais que algumas arrobas de boi, ou alguns sacos de soja? Tudo é planejamento e fiscalização.

    Isto sem falar nas frutas tropicais, fitoterápicos, borracha e látex, etc. Vamos agir e pressionar nossas autoridades para que façam o que deve ser feito, em benefício não só da Floresta, mas do Planeta.

    Abraço,
    João F.Vaz

  3. Cassio do ValCassio disse:

    Sr. Louis

    É muito bom sonhar.

    Sou diretor residente em uma fazenda no sul do Pará a 20 km de Redenção, estou no meio de uma das áreas mais desmatadas onde se juntam o pólo siderúrgico, a reforma agrária e a grilagem. Tenho lutado para manter preservada nossa reserva florestal que é uma das raras da região, e é objeto da cobiça de caçadores, madeireiros e dos chamados movimentos sociais.

    O meu lazer preferido é caminhar pela mata, com seu frescor visitando as árvores centenárias, e quando tenho sorte, apreciar os macacos, diversos pássaros, porcos, antas e outros bichos que me orgulho de ainda povoarem nossa reserva. Isto toma um sentido quase religioso e me dá alento para prosseguir lutando. Mas não vejo ainda no horizonte o menor sinal de mudança da mentalidade em nossa região e está muito longe o dia de alguém ser preso por desmatar.

    Também sou um pouco cético quanto a capacidade da floresta aumentar a produção de alimentos haja visto a pequena quantidade de animais que ali vivem, comparado com outros ecosistemas como o pantanal e o cerrado. Quanto às culturas arbóreas, são sem dúvida o caminho para nossa região e devemos somar forças para que se tornem realidade.

    Atenciosamente,

    Cassio

  4. Guilherme Lanna Reis disse:

    Prezado Sr. Louis,

    No artigo, foi ressaltada a importância de plantas perenes. Chegou a ser mencionado o consórcio de seringueira e café, que constitui um sistema agroflorestal (SAF), ou consórcio de árvores e culturas. Penso que uma alternativa sustentável para a produção pecuária são os sistemas agroflorestais pecuários ou sistemas silvipastoris (SSP), consórcio de árvores, forragens e animais. As árvores amenizam o estresse climático tanto da forragem quanto dos animais. Em meu experimento de mestrado, realizado em Lagoa Santa/MG, analisei qualitativamente e quantitativamente a produção de Brachiaria brizantha cv. Marandu sob árvores constituindo um SSP ou em monocultura, durante um período de veranico, cuja precipitação foi de 44 mm. A produção de matéria seca foi semelhante, mas os teores de proteína foram superiores (P<0,001) no SSP em relação à monocultura, 8,62 e 5,19%, respectivamente. Dietas com teores de proteína abaixo de 6-7% exigem suplementação protéica, que, no caso, teria que ser realizada em pleno verão. A presença de árvores também favoreceu o armazenamento de carbono.

    Atenciosamente,
    Guilherme Lanna Reis.
    Doutorando em produção animal – Escola de Veterinária – UFMG

  5. José Roberto Barbosa Braz disse:

    Caro Guilherme

    Muito oportuna as suas considerações sobre sistema silvopastoril, pois a universidade do Vale do Acaraú vem desenvolvendo este sistema na região de Sobral no Ceará e mostra-se bastante pomissor, principalmente para a nossa região.

    Um abraço
    José Roberto

  6. José Paulo de Oliveira disse:

    Prezado Sr. Louis, os seus artigos como sempre tem levantado questões muito pertinentes do nosso planeta. Acredito que muito tem que se refletir a partir destas abordagens. Aliás, interagem de forma direta com os três artigos também publicados aqui no BeefPoint, pelo nobre Economista Carlos Ortenblad sobre o “bem”, água.

    Mais uma vez parabéns.

    José Paulo de Oliveira

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