Na pecuária de corte, sistema de engorda, os animais de reposição são responsáveis por cerca de 50 a 75% dos custos totais de produção, variando muito de acordo com o grau de tecnologia empregada.
Esse montante expressivo demonstra que de nada adianta aplicar as melhores técnicas de produção (nutrição, adubação, reprodução artificial etc.) se o produtor não acertar na hora de vender o gado gordo e comprar gado magro. Em síntese, é preciso estar atento ao mercado, e saber negociar.
Hoje, principalmente na aquisição de animais jovens, o mercado favorece o comprador (invernista). Observe na tabela abaixo a evolução das relações de troca boi gordo / desmama em 4 Estados nos últimos 3 anos:
A situação é difícil para os criadores, e o reflexo vem no aumento do abate de fêmeas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esse aumento foi de 51% na comparação entre os primeiros semestres de 2003 e 2002.
Já o abate de machos cresceu apenas 1%, sinal de que realmente o produtor está reduzindo o seu plantel de matrizes. É válido ressaltar que, além do mercado desfavorável, o avanço das áreas de agricultura sobre as áreas de pastagens contribui para esse processo.
Em São Paulo a redução das áreas de pastagens ainda não se dá de forma muito intensa, 1,7% nos últimos 5 anos segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA). Contudo, em outras regiões a agricultura chega com mais força. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a Farsul estima que a soja já invadiu cerca de 270 mil hectares de pastagens desde 2001.
Como a maior parte das propriedades de pecuária no Brasil dedica-se à exploração da cria, é de se esperar que o rebanho de fêmeas sinta mais o efeito da entrada da lavoura.
Diante do exposto, o cenário aponta para uma forte redução da oferta de bezerros no ano que vem, que pode promover a recuperação dos preços.
Contudo, para o boi gordo as perspectivas também são boas, uma vez que o mercado externo está cada vez mais receptivo para a carne brasileira, e o mercado interno sinaliza um leve aquecimento.
Resumo da ópera: firmeza nos preços da cria e relações de troca ainda atraentes para o invernista. Cenário otimista, porém bastante plausível.