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As relações de troca favorecem quem compra

Na pecuária de corte, atividade de engorda, os animais de reposição são responsáveis por cerca de 50 a 75% dos custos totais de produção, variando muito de acordo com o grau de tecnologia empregada. Vejam o exemplo abaixo.


Esse montante expressivo demonstra que de nada adianta aplicar as melhores técnicas de produção (nutrição, adubação, reprodução artificial etc.) se o produtor não acertar na hora de vender o gado gordo e comprar gado magro (bezerros, garrotes e bois magros). Em síntese, é preciso estar atento ao mercado, e saber negociar.

Hoje, principalmente na aquisição de animais jovens, o mercado favorece o comprador (invernista). Observe na tabela abaixo a evolução das relações de troca boi gordo / desmama em 4 Estados nos últimos 3 anos:


O bezerro vem de um ciclo de baixa. Em reais deflacionados pelo IGP-DI a cotação do bezerro nelore recém desmamado acumulou queda de 18% ao longo dos últimos 2 anos. Já o boi gordo manteve os preços relativamente firmes, em função, principalmente, da evolução das exportações.

Este ano, partir de junho (início de entressafra), a cotação do boi gordo iniciou seu movimento de alta, enquanto, na maioria das praças, a cotação do bezerro afrouxou, como pode ser visto na tabela abaixo. Assim, as relações de troca não pararam de subir.


A situação está difícil para os criadores, e o reflexo vem no aumento do abate de fêmeas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esse aumento foi de 51% na comparação entre os primeiros semestres de 2003 e 2002. Já o abate de machos cresceu apenas 1%, sinal de que realmente o produtor está reduzindo o seu plantel de matrizes.

Nos leilões, a oferta de “vacas boiadeiras” também cresceu. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a disponibilidade é tanta que a cotação desta categoria recuou para R$1,00/kg, lembrando que o boi gordo no Estado é negociado a R$1,75/kg, com expectativa de chegar próximo a R$2,00/kg.

Assim como acontece com o bezerro, as relações de troca para a aquisição de fêmeas também estão bastante atraentes (veja alguns exemplos abaixo). O momento é bom para quem pensa em aumentar o plantel.


É válido ressaltar que, além do mercado desfavorável aos criadores, o avanço das áreas de agricultura sobre as áreas de pastagens também contribui para esse aumento expressivo da oferta de vacas.

Em São Paulo a redução das áreas de pastagens ainda não se dá de forma muito intensa, 1,7% nos últimos 5 anos segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA). Porém, em outras regiões, a agricultura chega com mais força. Usando novamente o Rio Grande do Sul como exemplo, a Farsul estima que a soja já invadiu cerca de 270 mil hectares de pastagens no Estado desde 2001.

Como a maior parte das propriedades de pecuária no Brasil dedica-se à exploração da cria, é de se esperar que o rebanho de fêmeas sinta mais o efeito da entrada da lavoura.

Diante do exposto, o cenário aponta para uma forte redução da oferta de bezerros no ano que vem, que pode promover a recuperação dos preços e a retenção de matrizes.

Contudo, para o boi gordo as perspectivas também são boas, uma vez que o mercado externo está cada vez mais receptivo para a carne brasileira, e mesmo o mercado interno sinaliza um leve aquecimento.

Resumo da ópera: firmeza nos preços da cria e relações de troca ainda atraentes para o invernista. Cenário otimista, porém bastante plausível.

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