Por Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo (edição de 20/02/16).
Por Marcos Sawaya Jank
A Austrália e a Nova Zelândia estão entre os 12 maiores exportadores de produtos agropecuários e alimentos do mundo, num ranking em que o Brasil ocupa a terceira posição.
A Austrália é o sexto maior país do mundo em área total, logo atrás do Brasil. Mas a sua área agricultável é inferior à nossa, e o país sofre com a falta crônica de água e as mudanças do clima.
Em população, os dois países da Oceania não chegam a 30 milhões de habitantes. Portanto, como o mercado doméstico é limitado e já está saturado, esses países vêm apostando no desenvolvimento de produtos de alta tecnologia e maior valor adicionado. E o foco tem sido a Ásia, região que concentra mais da metade da população mundial e que, nas duas últimas décadas, tornou-se o novo centro de gravidade econômica do planeta.
Dois fatores de diferenciação chamam a atenção na estratégia de inserção internacional da Austrália e da Nova Zelândia.
O primeiro é a estrutura sofisticada e competente que os seus governos montaram para garantir o acesso a mercados na Ásia, uma região notoriamente protecionista no campo da agricultura.
Metade das exportações do agronegócio desses dois países já se encontra coberta por acordos bilaterais e regionais, que garantem acesso privilegiado. A outra metade dirige-se a países com quais há acordos em negociação. Com isso, o eventual maior custo de produção é compensado por menores barreiras para exportar.
A Austrália tem 35 adidos agrícolas em 18 países, sendo 10 só na Ásia. O Brasil tem 8 adidos para o mundo todo. A agencia de promoção de exportações da Austrália (Austrade) tem 44 escritórios e cobre 15 mercados da Ásia.
O segundo fator é a organização das cadeias produtivas –empresas, associações e governo– para garantir diferenciação, qualidade, sustentabilidade e segurança do alimento.
As associações setoriais desenvolveram programas notáveis nas áreas de marketing, desenvolvimento de marcas e selo-país, inovação e capacitação. Ao lado do governo, têm feito um notável esforço de harmonização de regras e padrões técnicos, biossegurança, rastreabilidade (garantia de origem dos produtos) e sustentabilidade.
A Austrália tenta construir a sua imagem-país na Ásia a partir da diferenciação dos seus alimentos como “clean, green and safe” (limpo, verde e seguro). Bons exemplos dessa organização sistêmica para exportar estão nos setores de carne bovina e vinhos. Na Nova Zelândia, os melhores exemplos estão nos setores de lácteos e carneiros.
O Brasil é mundialmente conhecido e respeitado na produção e na exportação de commodities. Mas o país ainda é tímido na oferta de alimentos diferenciados para o consumidor global, apesar do notável esforço recente de internacionalização de algumas empresas e marcas nacionais.
Austrália e Nova Zelândia saíram na frente e ocuparam um espaço de diferenciação como país na percepção nos mercados consumidores mais dinâmicos e desafiadores da atualidade. Mas sempre é tempo de se organizar melhor e virar o jogo.
Por Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo (edição de 20/02/16).
2 Comments
Excelente artigo ! Como tudo que o beefpoint se dispõe a fazer !
O texto foi bem explicativo, o que mais podemos tirar de lição dessa especialização dos dois países relativamente menores que o Brasil, é o ”desgrudamento” do tradicionalismo e a busca pela produção capacitada e tecnológica, tornando-se diferenciados e superiores, se destacando no mundo das exportações com seus produtos.