Benefícios para a saúde do maior consumo de proteínas: parte 1

O relatório sobre macronutrientes do Canadá (2002 Dietary Reference Intake - DRI) recomenda que adultos saudáveis consumam uma quantidade de proteína que seja de 10% a 35% da energia para suprir os requerimentos essenciais de nutrientes e reduzir os riscos de doenças crônicas. Ingestões moderadamente maiores dentro deste limite podem ser vantajosas.

As proteínas são importantes componentes estruturais de todas as células e funcionam como enzimas, hormônios e transportadores de membranas (1). Evidências emergentes indicam que os aminoácidos derivados da proteína da dieta têm um importante papel metabólico além da síntese proteína (2). Recentes pesquisas que revisaram estas questões sugerem que aumentos moderados na ingestão de proteínas podem ajudar a melhorar fatores de riscos para doenças cardiovasculares e diabetes, incluindo perfis de lipídios sangüíneos e homeostase da glicose.

O relatório sobre macronutrientes do Canadá (2002 Dietary Reference Intake – DRI) recomenda que adultos saudáveis consumam uma quantidade de proteína que seja de 10% a 35% da energia para suprir os requerimentos essenciais de nutrientes e reduzir os riscos de doenças crônicas (1). Ingestões moderadamente maiores dentro deste limite podem ser vantajosas.

Recomendações de Ingestão Dietética de Referência (Dietary Reference Intake – DRI) para proteínas

As recomendações de Ingestão Dietética de Referência (DRI) para macronutrientes publicadas pela Academia Nacional de Ciências do Canadá em 2002 mostraram mais flexibilidade do que as recomendações feitas anteriormente, em 1990 (1).

O Limite aceitável de distribuição de macronutrientes (Acceptable Macronutrient Distribution Range – AMDR) de 10% a 35% do total da energia oriundo das proteínas reconhece que os adultos podem consumir proteínas dentro de um limite para suprir os requerimentos nutricionais essenciais sem efeitos adversos (1). O relatório DRI de macronutrientes traz Recomendações Dietéticas Aprovadas (RDA) e AMDR para proteínas.

Recomendações dietéticas aprovadas (RDA)

A ingestão de quantidades adequadas de proteínas pela dieta é essencial para a manutenção da função e da integridade celular, bem como para a saúde geral e reprodução (1). As RDAs para nutrientes são determinadas em um nível que deve suprir as necessidades da maioria (97-98%) dos indivíduos em um determinado estágio da vida, com especificações conforme o sexo. As seguintes RDAs são metas para indivíduos saudáveis.

Homens e mulheres adultos

A RDA para homens e mulheres é uma ingestão diária de 0,80 gramas de proteína de boa qualidade por quilo de peso corpóreo (1). Apesar de esta quantidade ser menos do que a maioria dos norte-americanos tipicamente consome, o relatório DRI sugere que ingestões maiores de proteínas pode ajudar as pessoas a suprir as recomendações para micronutrientes essenciais associados com alimentos ricos em proteínas, como ferro e zinco (1).

Gravidez e lactação

A RDA para mulheres durante a gravidez e a lactação é de 1,1 gramas de proteína por quilo de peso corpóreo, o que representa uma necessidade maior de cerca de 25 gramas de proteína por dia (1). Isso indica que há uma necessidade maior de proteína durante a gravidez e a lactação do que se pensava anteriormente.

Limite aceitável de distribuição de macronutrientes (Acceptable Macronutrient Distribution Range – AMDR)

Os AMDRs para macronutrientes foram estabelecidos baseados em evidências de que os indivíduos podem consumir com segurança um limite de ingestões moderadas para suprir os requerimentos de nutrientes essenciais sem efeitos adversos. Os riscos para a saúde podem aumentar com o consumo crônico de dietas com níveis muito baixos ou muito altos de qualquer macronutriente (1). Por exemplo, apesar de incomum na América do Norte, a subnutrição proteína-energia é conhecida por resultar em prejuízo nas funções imunológicas, prejuízo no crescimento, menor peso ao nascimento e inadequadas ingestões de vitaminas e minerais (1).

O limite mais baixo de AMDR para proteína foi fixado em 10% da energia para adultos, uma vez que não há evidências que sugerem que a ingestão deveria ser em níveis mais baixos que a RSA (1). Existem evidências insuficientes para sugerir um Nível Superior para consumo de proteína (1). Desta forma, o AMDR para proteína foi fixado em 10% a 35% da energia para adultos, complementando com 45% a 65% da energia de carboidratos e 20% a 35% da energia de gordura e para garantir uma dieta nutricionalmente adequada (1).

Requerimentos de aminoácidos baseados na idade

O relatório DRI apresentou as primeiras recomendações baseadas na idade para cada um dos nove aminoácidos essenciais encontrados nas proteínas da dieta (1). Os requerimentos médios para proteínas e seus aminoácidos essenciais foram usados para desenvolver padrões de pontos de aminoácidos para vários grupos etários (1).

AMDR para proteínas


Qualidade da proteína

A qualidade de uma fonte de proteína é a expressão de sua habilidade em fornecer nitrogênio e aminoácidos para requerimentos de crescimento, manutenção e reparos. A qualidade das proteínas é determinada por dois fatores: composição de aminoácidos e digestibilidade.

As proteínas de origem animal como carnes vermelhas, carne de frango, peixes, ovos e produtos lácteos são consideradas “proteínas completas” porque fornecem todos os nove aminoácidos essenciais em quantidades que estão próximas de suprir os requerimentos humanos (1). As proteínas de plantas, legumes, grãos, nozes, sementes e vegetais (com exceção da proteína da soja) tendem a ter uma menor concentração de um ou mais aminoácidos essenciais e são, desta forma, classificadas como “proteínas incompletas” (1). A digestibilidade das proteínas das plantas é geralmente menor do que a das proteínas animais, mas algumas podem exceder 90% (1).

Padrão de pontuação da qualidade das proteínas

O padrão de pontuação de proteínas do DRI pode ser usado para avaliação dietética e propostas de planejamento para avaliar a qualidade de uma fonte protéica, como carne, leite, trigo ou arroz, pelas quantidades relativas de seus aminoácidos (1). Isso fornece um “método para balancear as ingestões de proteínas de pior qualidade pelos vegetaríamos e outros que consomem quantidades limitadas de proteínas de alta qualidade na dieta” (1).


Funções metabólicas dos aminoácidos

Os DRIs refletem o conceito de um limite ótimo de ingestão dietética para dar suporte às necessidades metabólicas. Os valores DRI reconhecem que as necessidades metabólicas variam de um nível requerido para prevenir deficiências (a atual RDA) até um Nível Superior, no qual os níveis maiores podem ter efeitos adversos, como mostrado na Figura 1. A RDA define o uso primário de aminoácidos como substratos para a síntese de proteínas corpóreas e as RDAs para proteínas são determinados em níveis mínimos necessários para a manutenção do balanço de nitrogênio (1).

Existem evidências emergentes de que os aminoácidos têm funções metabólicas adicionais que requerem níveis acima das necessidades mínimas para a síntese proteína (2,9-13). Os aminoácidos de cadeia ramificada, leucina, valina e isoleucina, têm várias funções metabólicas únicas além da síntese protéica (2,9-13). Essas funções incluem envolvimento direto na manutenção da homeostase da glicose e regulação da síntese protéica nos músculos através da cascata de sinalização de insulina. (2,9-13). A habilidade desses aminoácidos de participar nesses processos metabólicos parece ser proporcional à sua disponibilidade celular (2). Esta, por sua vez, depende das ingestões dietéticas (2).

Figura 1


Um crescente número de pesquisas indica que a substituição de alguns carboidratos por proteína (dentro do AMDR) pode promover a redução da perda de massa corpórea magra durante a perda de peso e aumentar a homeostase de glicose e insulina estabilizando os níveis de glicose no jejum e após as refeições (2,9,14-16). Por outro lado, existem evidências de que dietas que são mais ricas em carboidratos podem reduzir a oxidação da gordura corpórea, aumentar os níveis de triglicerídeos e reduzir a saciedade (17-22). Essas descobertas levam a novas questões sobre a proporção ideal de macronutrientes para adultos (2).

Referências bibliográficas

1. Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrates, Fibre, Fat, Protein and Amino Acids (Macronutrients). National Academy Press, Washington, 2002.

2. Layman DK. J Nutr, 2003; 133:Suppl.261-7.

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(Accessed February 25, 2005)

4. Mendelson R, et al. Report of the Ontario Food Survey, 2003.
http://www.nutritionrc.ca/resources/ontario-food-survey-report_june2003.pdf (Accessed February 25, 2005)

5. Sante Quebec. Les Quebecoises et les Quebecois mangent-ils mieux? Rapport de l’Enquete quebecoise sur
la nutrition, 1990. Montreal, QC : Ministere de la Sante et des Services sociaux, gouvernement du Quebec, 1995.

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http://www.hc-sc.gc.ca/hpfb-dgpsa/onpp-bppn/review_food_supply_e.html (Accessed April 20, 2005)

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22. Ludwig DS et al. Pediatrics, 1999; 103:E261-6.

0 Comments

  1. Marcio Trajano Borges Telles disse:

    Dra. Juliana Santin, gostei muito do seu artigo e como sou dentista e agropecuarista gostaria que este tipo de artigo chegasse até a grande mídia e também às entidades ruralistas para que tomem pé da importância das proteínas e valorizassem mais a carne de boi, que além de extrema importância na balança comercial, tanto é usada para comparar e propagandear outras fontes de proteínas colocando-a muitas vezes como vilão para valorização das outras.

    Muito obrigado pelo seu artigo, continue estudando porque assim é que podemos melhorar a saúde do brasileiro e a qualidade de vida dos mesmos.

    Abraços

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