Iniciada em julho, a escalada dos preços do boi gordo segue em ritmo acelerado.
Com a dificuldade de compra cada vez mais acentuada, os compradores seguidamente reajustaram os preços, porém as programações de abate não avançaram. Essa restrição da oferta de animais terminados pode ser explicada por uma junção de fatores, colocados a seguir.
Em maio, o clima ameno e chuvoso atrasou a entrada dos animais em confinamento. O gado permaneceu nas pastagens por mais tempo, não ocorrendo a tradicional “desova” de início de entressafra. Além do mais, ao que tudo indica, esse ano o número de cabeças confinadas diminuiu, uma vez que o pecuarista não se animou com os resultados obtidos no ano passado.
Por sua vez, o alto custo dos concentrados levou à utilização de dietas mais pobres, conferindo menor ganho de peso diário aos animais. Na tabela 1, pode se observada a evolução dos preços de alguns concentrados no período de julho a outubro de 2002.
Assim, a chegada dos animais de cocho ao mercado deu-se tardiamente, e em volume reduzido.
Quando os animais começaram a chegar em ponto de abate, mais ou menos no início de setembro, as incertezas políticas e econômicas fizeram com o que o invernista não se apressasse em negociar o plantel. Além do mais, em dólares, arroba do boi gordo encontrava-se em patamar muito baixo, como não se via desde maio de 1988, quando o boi gordo paulista era cotado a US$12,92/@ (veja a evolução da cotação do dólar na figura 1).
Figura 1: Evolução da cotação do dólar comercial venda – fechamento
O clima seco e a perspectiva real de alta também colaboraram para a retenção dos animais em engorda. Como boi de pasto quase não se via mais, os frigoríficos passaram a se abastecer quase que exclusivamente dos confinamentos.
Os negócios caminhavam lentamente, com os pecuaristas ofertando basicamente “só o necessário”, fazendo com que as programações de abate não evoluíssem para mais de 3 ou 4 dias, mesmo com as seguidas correções positivas. De 17 de setembro a 17 de outubro, em Reais, levando-se em conta todas as 24 praças levantadas pela Scot Consultoria, o boi gordo registrou uma valorização média de 8%. Em São Paulo, no mesmo período, a valorização foi de 7,8% (veja a evolução da arroba do boi gordo em São Paulo na figura 2).
Figura 2: Evolução da cotação da arroba do boi gordo em São Paulo – R$/@
Além dos reajustes, os compradores passaram a não trabalhar com abates cheios, muitas vezes pulando ou “falhando” dias de abate. Como conseqüência, o atacado passou a operar bastante enxuto, possibilitando que neste período o equivalente físico (48% traseiro + 39% dianteiro e 13% ponta de agulha) reagisse 12,4%, mesmo diante de um consumo insipiente.
Ao que tudo indica, o volume de animais de terminados em confinamento disponível no mercado já se encontra bastante reduzido. Talvez a região de Barretos (SP) seja a única que ainda dispõe de um volume razoável de animais em engorda intensiva.
A baixa precipitação pluviométrica que vem sendo registrada na maioria das praças permite supor que os animais terminados em pastejo somente começarão a chegar ao mercado no início do ano que vem.
Os compradores deverão enfrentar um período de pelo menos 2 meses de grande dificuldade para aquisição de animais, podendo passar a abater também animais mais leves, entre 14 e 15@, para tentar atender ao mercado.
Caso se confirme essa tendência, o mercado do boi gordo seguirá operando em ambiente firme e em alta ao menos até a virada do ano, principalmente se o dólar permanecer super valorizado.