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Botulismo associado à silagem contaminada

Iveraldo.S. Dutra1, Aires M. Souza2 e Jürgen Döbereiner3

Na atualidade, a intoxicação botulínica é uma das principais causas de mortalidade de bovinos no País. A intensificação dos surtos decorre provavelmente da contaminação ambiental crescente pelos esporos do Clostridium botulinum e da diversificação das fontes de alimentos utilizados.

Em trabalho apresentado no IV Congresso de Buiatria, realizado em Campo Grande, MS, em maio passado, os autores relataram a ocorrência de três surtos de botulismo em bovinos alimentados com silagem em péssimo estado de conservação. Um dos surtos ocorreu em rebanho leiteiro onde se utilizava silagem de sorgo; os outros dois foram em confinamentos com silagem de milho.

Os três rebanhos totalizavam 8188 animais. A morbidade foi de 6,47% e a mortalidade foi de 6,36% (521 animais). A letalidade ficou em 98,3%. Os animais apresentaram dificuldade na locomoção, dificuldade respiratória com quadro dispnéico, decúbito e morte com evolução superaguda e aguda. Ao exame clínico os animais apresentaram ainda quadro de paralisia flácida progressiva da musculatura de locomoção, deglutição e mastigação. Em dois rebanhos, nove animais se recuperaram espontâneamente.

Figura 1. Boi com sinais clínicos de botulismo: decúbito e estado mental aparentemente normal

Figura 1

Na necrópsia realizada em seis animais, não foi observado nada digno de nota ao exame macroscópico. Amostras de silagem foram examinadas para a evidenciação de toxina (extração e inoculação em camundongo) e esporos de C. botulinum (inoculação em meio de cultura CMM, bioensaio em camundongo e soroneutralização). Amostras de fígado, conteúdo ruminal e intestinal dos animais necropsiados foram analisados para a presença de toxina botulínica pela técnica do bioensaio em camundongo, seguida da soroneutralização para tipificação das amostras positivas.

Nas amostras de silagem, não foi possível detectar toxina botulínica. No entanto, foi evidenciada a presença de esporos de C. botulinum tipos C (silagem de milho) e D (silagem de milho e sorgo). Através da verificação de toxina botulínica nas vísceras dos animais foi possível a detecção dos mesmos tipos encontrados nas silagens, pertencentes aos tipos C e D.

Nos três surtos, parte da silagem encontrava-se em péssimo estado de conservação, devido à existência de perfurações na lona. Na tentativa de aproveitamento das partes ainda consideradas como em bom estado de conservação, ocorreram os surtos. Pelas características epidemiológicas dos surtos e dos achados laboratoriais, pode-se atribuir a ocorrência da intoxicação botulínica à silagem contaminada.

Figura 2. Silagem com problema de vedação. Putrefação é condição favorável à formação de toxina botulínica

Figura 2

Comentário BeefPoint: São cada vez mais freqüentes surtos de botulismo associados à utilizaçcão de alimentos contaminados, principalmente em confinamentos. Assim como nos confinamentos deve ter o inspetor de cochos, os mesmos cuidados devem ser dispensados aos alimentos. Observar diariamente a qualidade dos alimentos fornecidos aos animais é de fundamental importância. Tentativas de utilizar alimentos com qualidade duvidosa e contaminados fazem com que os animais sejam colocados sob risco. Diversos outros problemas sanitários podem ser induzidos aos animais por alimentos deteriorados. De qualquer forma, os prejuízos do botulismo podem ser evitados ou minimizados pela vacinação dos animais, no período que antecede os confinamentos.

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1 Unesp-Campus de Araçatuba
2 UFG, Goiânia, GO
3 CNPAB-Saúde Animal-Embrapa, Seropédica, RJ

Fonte: Dutra, I.S.; Souza, A.M. & Döbereiner, J. Botulismo em bovinos associado à silagem contaminada. IV Congresso Brasileiro de Buiatria, Campo Grande, MS, Trab. 44. 2001.

1 Comment

  1. Caio Mendes disse:

    Sou um pequeno produtor e nao tenho meios em dianosticar o Botulismo por exemplo.  Morreu uma vaca e nao tenho como detectar uma pica de Cascavel ou se foi Botulismo. Poderiam me informar se ha um pista clara para detectar a causa da morte?  
    Grato, Caio Mendes.