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Brasil exporta menos carne em novembro e frigoríficos sentem reflexos da crise financeira

No mês passado foram enviadas ao exterior 56.700 toneladas de carne bovina in natura pelo exportadores brasileiros, que renderam US$ 225,9 milhões ao setor. Estes números representam recuo de 42,7% na receita das exportações e queda 36,47% no volume exportado, em relação ao realizado em outubro.

Nesta segunda-feira, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), divulgou os dados da balança comercial brasileira, nos 20 dias úteis de novembro. Segundo esta divulgação prévia, no mês passado foram enviadas ao exterior 56.700 toneladas de carne bovina in natura pelo exportadores brasileiros, que renderam US$ 225,9 milhões ao setor.

Gráfico 1. Exportações brasileiras de carne bovina in natura, receita e volume

Estes números representam recuo de 42,7% na receita das exportações de carne bovina in natura quando comparados os meses de novembro e outubro, enquanto o volume foi 36,47% menor, na mesma comparação.

Tabela 1. Exportações Brasileiras de carne bovina in natura

Este é o segundo mês consecutivo em que registramos retração nas exportações, confirmando os problemas enfrentados pelos frigoríficos exportadores, que estão sofrendo pressões dos compradores internacionais por reduções de preços e renegociação de contratos, reflexos da crise mundial, além de dificuldades com a escassez de boi gordo.

A crise financeira internacional e as enchentes em Santa Catarina levaram o governo a admitir pela primeira vez ontem que o país não vai cumprir a meta de exportar US$ 202 bilhões neste ano e prever dificuldades maiores para 2009.

Os dados de novembro indicam queda de 12,5% nas exportações e de 16,5% nas importações em relação a outubro. O governo esperava crescimento de ambos. “Esperamos chegar muito próximo à meta. Caso não se atinjam os US$ 202 bilhões, devemos conseguir pelo menos US$ 200 bilhões”, disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.

“As exportações caíram muito e essa queda reflete a recessão que o mundo está vivendo”, afirmou o economista Rogério Cesar Souza, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Para Barral, outro fator que explica a redução no comércio exterior é o comportamento do dólar, que dificulta o planejamento das empresas. “Essa instabilidade gera insegurança no mercado e afeta tanto as exportações quanto as importações.”

No setor de carne bovina, grande parte do forte recuo pode ser encarado como reflexo dos entraves no comércio com a Rússia, que com dificuldade para conseguir crédito devido a crise, diminuíram o volume de compras do produto nacional e tentam renegociar preços de contratos pré-estabelecidos com os exportadores brasileiros.

Segundo reportagem do site Último Segundo, o ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, não acredita que a crise financeira global possa afetar a demanda externa por carne bovina em 2009. De acordo com o ex-ministro, deve haver problemas envolvendo renegociação de preços, uma vez que o dólar subiu, mas a demanda global não deverá cair.

Quando os países emergentes começarem a comer churrasco e a tomar caipirinha, os negócios com a carne brasileira aumentarão de forma significativa, disse Pratini à Agência Safras.

O ex-ministro, que almoçou com o presidente russo há duas semanas, em São Paulo, disse que há um clima geral, otimista e positivo com relação aos negócios com a Rússia, maior cliente da carne bovina e suína brasileira, e que aos poucos, as exportações devem ir crescendo. “A Rússia está muito satisfeita com os negócios com o Brasil”, completou.

Na tentativa de minimizar os problemas causados pelas chuvas em Santa Catarina, parte das exportações que sairiam da região está sendo deslocadas para São Francisco do Sul (SC), Paranaguá (PR) e Santos (SP).

O preço médio da carne bovina exportada, chamou a atenção no resultado do mês novembro, diferente do que vinha acontecendo durante todo o ano, no mês passado o preço médio recuou 9,81%, ficando em US$ 3.984/tonelada. Apesar da queda, em novembro passado este valor foi 28,23% superior ao registrado no mesmo período de 2007.

Gráfico 2. Preço médio da carne bovina in natura exportada

Apesar da instabilidade da moeda americana gerar incerteza e insegurança para o mercado, os frigoríficos têm se beneficiado com a alta Dólar. Isso acontece porque com a divisa mais valorizada frente ao Real, a carne brasileira se torna mais competitiva no mercado internacional.

A moeda americana saiu de R$ 2,1721 (média de outubro) para um valor médio de R$ 2,2610 em novembro, uma variação positiva de 4,09%. Essa alta somada à desvalorização da arroba do boi gordo – que na mesma comparação (média de outubro x média de novembro) foi de 2,69% – proporcionou recuo na cotação do boi gordo em dólares, que em novembro foi de US$ 39,08/@. Este é o valor mais baixo desde outubro do ano passado, quando a arroba do boi gordo em São Paulo valia US$ 35,45/@.

Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista em R$ e em US$

Apesar da retração no volume e na receita, a relação de troca arrobas por tonelada de carne exportada nos mostra que, em novembro, a situação dos exportadores ainda está melhor que em meses anteriores. Essa relação de troca nos dá uma idéia de quantas arrobas de boi gordo foi possível adquirir com o valor de uma tonelada de carne vendida no mercado internacional. Em novembro a relação de troca ficou em 101,96 @/tonelada de carne exportada, acima da média de 2008 que, até o momento, é de 83,06 @/tonelada.

Gráfico 4. Relação de troca arrobas por tonelada de carne in natura exportada

Acumulado

No acumulado dos 11 primeiros meses de 2008, os exportadores brasileiros embarcaram 961.362 toneladas, volume 20,54% inferior ao exportado no mesmo período do ano passado.

De janeiro a outubro, a receita das exportações de carne bovina in natura em 2008 acumulou o valor de US$ 3,791 bilhões, 17,16% superior ao realizado no mesmo período do ano passado e 8,78% acima da receita total de 2007.

Gráfico 5. Receita das exportações de carne bovina in natura

Marketing

Em um evento em Porto Alegre, Pratini de Moraes, voltou a defender, a necessidade de uma postura mais agressiva do mercado brasileiro com relação à construção da imagem da carne bovina no exterior.

“Somos muito bons em produção, mas somos ruins de marketing. Não sabemos vender”, disse o ex-ministro, enfatizando que não basta só exportar, é preciso também agregar valor ao produto.

Segundo reportagem do site Último Segundo, na sua opinião, é preciso saber fazer marketing, trabalhar a imagem do produto, a exemplo de especialistas no assunto como a França, Itália e Inglaterra.

O ex-ministro reconhece que o Brasil já trabalha nesse sentido, mas diz que ainda há muito a aprender. Lembrou que durante o período em que esteve na presidência da Abiec apoiou de forma exaustiva a valorização da carne brasileira no exterior com ações que destacavam desde a melhora na qualidade e sanidade do produto, à apresentação ao consumidor.

0 Comments

  1. carlos massotti disse:

    Dr Pratini é um otimista incorrigivel, pena que o mundo real não seja o mesmo que ele preconiza.

  2. Sergio Dornelles Leães disse:

    Lembro que quem constroe novas realidades para o mundo são os otimistas.

    Antes de nos beneficiarmos com o novo mundo alguém sonhou com ele.

  3. jose alexandre batista neto disse:

    Parabenizo a todos do BeefPoint pelos artigos informativos, os quais na area da pecuaria de corte, nos mantem atualizados, com fundamentação verídica do comércio da carne, pois, vivemos de informações vagas, sem fundamento, aleatórias à realidade, e, principalmente, voltadas contra a classe produtora, provindas da “guerra” entre produtores e frigoríficos, prejudicando a previsão de empreendimentos que poderíamos efetuar.

  4. Marcelo Dias disse:

    Acho muito interessante essas reportagens sobre a diminuição da venda de carne para o mercado externo, na verdade “parece” que os frigorificos não querem vender.

    Fiz varios contatos, com vários frigorificos no Brasil, para fornecimento de 1.500Ton/Ano para UE e todos dizem a mesma coisa “não temos carne para exportaçao”.

    Realmente não entendo, não quero pensar que o Brasil que bateu vários recordes de exportação, dos mais variados produtos, tenha algo cartelizado.

    Fica aqui meu relato e espero que mude! A curtissimo prazo!

  5. Marco Antonio Ribeiro disse:

    Dr Pratini, obrigado pelo otimismo sim, creio que falta pessoas assim no nosso governo, e em muitas cabeças de pecuaristas e empresarios do setor. A nossa “rastreabilidade” é um conto infantil, nasceu orfão. É preciso retornar o mais rapido possivel os mesmos níveis de exportações, antes da crise. Há hoje um acumulo de plantas de frigorificados, sem condições de giro? O mercado não entende mais as leis do próprio mercado.

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