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Brasil fecha ano na liderança de exportação de carne bovina

O mercado de boi gordo termina 2003 sob os efeitos da excelente posição conquistada pelo Brasil, de líder mundial na exportação de carne bovina. Pela primeira vez na história do setor, o País fechará o ano como maior exportador, ultrapassando tradicionais exportadores a exemplo da Austrália e dos Estados Unidos, que se posicionavam em primeiro e segundo no ranking dos maiores exportadores do mundo.

Dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) mostram que as exportações brasileiras de carne bovina em novembro bateram novo recorde, com receita de US$ 161,2 milhões, um crescimento de 64,14% sobre igual período de 2002 (US$ 98 milhões). Foram embarcadas 128.045 toneladas equivalente carcaça, volume 26,08% superior ao do mesmo mês do ano anterior.

Para o presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, o crescimento dos números é reflexo do aumento do preço médio e das vendas de produtos com maior valor agregado. A boa receptividade da carne brasileira em mercados novos também fez as vendas crescerem.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) projeta exportações de 1,4 milhão de toneladas de carne bovina em 2003, com o faturamento do setor chegando a US$ 1,5 bilhão.

Para 2004, a previsão é exportar entre 1,65 milhão e 1,7 milhão de toneladas de carne, com receita que deverá atingir US$ 1,8 bilhão no período. A estimativa leva em conta o mercado internacional favorável ao produto brasileiro pela redução da oferta dos Estados Unidos e Austrália, devido a problemas climáticos, e também por uma recuperação do consumo na União Européia.

Apesar da excelente performance, 2003 não foi favorável ao pecuarista, avaliou o assessor do Departamento Econômico da CNA, Paulo Mustefaga. “O pecuarista sofreu pressão de custos e teve um ano de preços deprimidos”.

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas mostra que o preço médio pago pela arroba do boi gordo (em valores corrigidos) de janeiro a setembro de 2003 ficou em R$ 52, contra R$ 55 em igual período de 2002 e R$ 56 de janeiro a setembro de 2001, o que representa um recuo de 7% em termos reais.

Quanto ao custo de produção, os dados evidenciam uma evolução da ordem de 6,5% durante o período de março a novembro de 2003, enquanto o preço médio evoluiu 1,85% no período. Mato Grosso do Sul, por exemplo, acumulou um aumento de custo superior a 8% no período.

Falta de estímulo

Outro dado visto com preocupação durante 2003 diz respeito ao abate de matrizes. Levantamento do IBGE mostra que, em junho de 2003, o abate de fêmeas chegou a 34%, o que, na avaliação da CNA, é um número significativo e que revela o desestímulo na atividade. “Se não houver uma reversão desse quadro, a capacidade de produção do Brasil pode ficar comprometida”, ressaltou Mustefaga.

De acordo com o analista da FNP Consultoria, Geide Figueiredo, houve redução cerca de três milhões de hectares destinados à pecuária neste ano. Estimativas indicam ainda uma retração de 8,8% em dez anos, entre 2002 e 2012, para 237 milhões de hectares. “Devido à baixa rentabilidade e ao aumento dos custos, muita gente está migrando para cana, soja ou algodão”.

No entanto, as previsões para 2004 são de um ano promissor para o mercado brasileiro, principalmente no que diz respeito à consolidação da conquista de novos mercados, mas o analista alerta que, do ponto de vista de mercado interno, se faz necessária total atenção às questões de sanidade animal. “Tanto os governos estaduais quanto o governo federal terão que priorizar ações no campo da defesa sanitária”, defendeu.

Já o analista da Safras & Mercado, Paulo Molinari, prevê um final de ano de preços estáveis, uma vez que os feriados destas últimas duas semanas são um entrave à sustentação dos preços do boi. Ele observou que é natural que os frigoríficos tentem baixas para janeiro, já enfocando um quadro de safra, mas que, nos últimos três anos, os preços do boi têm se mantido firmes e em patamares próximos aos de dezembro no período de janeiro e fevereiro.

Entretanto, os preços praticados atualmente no mercado interno, R$ 61 por arroba, frustraram as expectativas dos analistas, que apostavam em cotações entre R$ 65 e R$ 64 em dezembro. “O pico do ano foi de R$ 62 por arroba”, lembrou.

A retenção do gado no pasto para ganho de peso, com expressivo resultado no primeiro bimestre, juntamente com a forte demanda de exportação no período, é uma combinação que pode manter os preços ainda próximos a R$ 60 no mercado paulista no primeiro bimestre de 2004, projetou o analista da Safras.

Fonte: Gazeta Mercantil (por Luciana Franco), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Angélica Simone Cravo Pereira disse:

    Fica clara a preocupação geral com o futuro da exportação de carnes bovina. É fato, que o Brasil é um potencial exportador de carnes para diferentes e novos mercados. Porém, o mais importante é a independência de questões, sejam elas climáticas, de outros países, ou da ordem da recuperação do consumo europeu, para continuar a assumir tal posição no “ranking” das exportações. Além disso, atenção devida às questões citadas pelo artigo serão indispensáveis para um futuro promissor com consequente consolidação da produção e exportação de carnes para o mundo, nos próximos anos.
    Um abraço,
    Angélica.